segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Rondônia e a dialética das queimadas - Por Professor Nazareno

No início deste ano, quando eu ainda escrevia artigos periodicamente para a mídia, um jornal italiano publicou uma reportagem em que afirmava que o Estado de Rondônia, no noroeste do Brasil, era um lugar pouco recomendado para se visitar. As queimadas nas florestas locais tornavam este lugar "um verdadeiro inferno na terra". A publicação ainda informava que não era uma lista oficial, mas sim, uma lista de situações de emergência global e onde vivem populações em condições precárias e com baixíssima qualidade de vida. A chiadeira foi geral. Comentários preconceituosos e xenófobos inundaram os sites locais. Pessoas se dizendo filhos da terra, com arroubos cívicos, nacionalistas e patrióticos, puseram logo em xeque a veracidade da matéria. Infelizmente, se os italianos vierem agora a Porto Velho apenas constatarão o óbvio.



Porém não bastou muito tempo para que as previsões e denúncias contidas naquela matéria, verídicas ou não, fizessem parte da mais absoluta verdade. De nada adianta mandar os incomodados saírem deste Estado. De nada adiantará expulsar os que falam mal daqui. A realidade está aí para qualquer um ver. A fumaceira de dimensões apocalípticas pode inviabilizar o funcionamento deste Estado e de regiões vizinhas. O aeroporto local é fechado todo dia, as aulas estão sendo suspensas. Atividades rotineiras são adiadas. Pouco adianta também dizer que o problema não é apenas local. Dizer que o Primeiro Mundo devastou suas florestas em nada vai contribuir para amenizar o nosso problema, o nosso sofrimento. Então, por que só copiamos os maus exemplos deles? A delirante tese de internacionalização da Amazônia pode ganhar força diante disto.


"Quando nosso céu se faz moldura. Para engalanar a natureza. Azul, nosso céu é sempre azul. Que Deus o mantenha sem rival. Cristalino sempre puro.E o conserve sempre assim", diz mentirosamente o Hino Céus de Rondônia. Deus, não conserve este céu sempre assim, podemos não suportar por mais muito tempo. Ou então devemos trocar a letra deste hino para a versão que a Banda Odisséia propôs recentemente numa paródia: "Azul, poderia ser azul. Em vez, tudo cinza, tudo igual. Nosso rio só tem mercúrio. Amazônia é capim". Nossos rios, nossas matas, tudo em fim mesmo. Por isso, senhores autoridades responsáveis pelo meio ambiente, peçam demissão de seus cargos, pelo amor de Deus. Os senhores falharam, admitam. Caiam fora. Não há desculpas. Da Ministra do Meio Ambiente aos secretários municipais todos negligenciaram ou não foram competentes para prever o óbvio. Qualquer idiota sabia da existência da estiagem.


A baixa umidade relativa do ar nesta época, fato previsto todos os anos, associada à inoperância e à incompetência do Estado brasileiro que com seus órgãos de defesa da natureza pouco ou nada fazem, a não ser aumentar o empreguismo estatal, e contando com a irresponsabilidade dos grandes pecuaristas e pequenos incendiários urbanos, todos produzem a receita ideal para transformar esta região no verdadeiro inferno na terra. Senhores candidatos, parem de usar o programa eleitoral gratuito como coluna social. Precisamos de propostas concretas e mais sérias para enfrentar este problema que é de todos nós. Um povo que produz bois-bumbás, arraial Flor do Maracujá, carnaval fora de época, passeatas gays, pontes, hidrelétricas e viadutos precisa também se unir para melhorar a sua própria qualidade de vida. Cobremos então soluções de nossas autoridades. Será que perdemos a capacidade de nos indignar?


Nestas horas de agonia, fumaça, poeira e pouco ar puro para se respirar, a população que paga os altos impostos e está sofrendo as conseqüências de mais esta grande catástrofe ambiental na Amazônia devia se mobilizar e perguntar: cadê o Estado brasileiro? Qual o porquê de tanta ineficiência? Cadê a Justiça em suas várias instâncias? Onde estão as Forças Armadas? Por que o Ministério Público parece estar fazendo vistas grossas a toda esta calamidade? Os organismos de defesa do meio ambiente, onde estão? As prefeituras municipais, os governos estaduais, essas ONGS, que dizem tanto defender a natureza? A Polícia Federal estaria apenas preocupada com o roubo de diamantes na reserva Roosevelt e não pode interferir? Qual a função do Corpo de Bombeiros? Por que ninguém faz nada? Por que só parte da mídia e alguns incomodados como eu gritam? Por quê? Será que nos abandonaram?


* O professor Nazareno, com asma, sinusite e rinite alérgica, leciona na escola João Bento da Costa em Porto Velho. (profnazareno@hotmail.com)

domingo, 22 de agosto de 2010

O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO

Que a Marina Silva não vai ganhar a eleição para a presidência do Brasil todos nós sabemos, mas daí, até usar de vilania e cegueira para dizer que a Marina não fez nada quando esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente, pelo IBAMA e órgãos adjacentes, pelo trabalhador rural, campo e floresta. É no mínimo fechar-se a um mundo em que se pode acreditar como melhor e avançado.

No conto de Borges, O jardim de veredas que se bifurcam, uma das personagens sente martelar o cérebro, pelo medo, desconfiança e todos os pensamentos matizes da guerra. Pensa que se pudesse gritar de onde estava de modo que fosse ouvido na Alemanha. É abatido pela constatação de que a sua voz (a nossa) humana era muito pobre. Como fazê-la chegar aos olhos do Chefe?

Pois bem, de que dispõe uma Marina, senão do corpo? Frágil corpo de mulher. Quanto valerá no Acre uma mulher que até os 16 anos não sabia ler? O que e quem enfrentou para estar onde chegou? Não podem esquecer os bem-nascidos no "sul" do Brasil, ou aí radicados por um qualquer milagre, que já amealharam para si desenvolvimento, educação de qualidade (vide números do ENEM) e de vida, que essa mulher sussurra verdades, justiça, natureza, e que ela é uma das responsáveis por um conjunto de mudanças ocorridas em torno da legislação ambiental, da prática de fiscalização e denúncias de crimes cuja vitima é a biodiversidade. Contudo, o que é a voz humana da Marina Silva contra as investidas do capital? O que é o silvo de um sabiá contra o ronco oleoso de um motosserra? O que é o nado silencioso de um bagre nos rios do país, contra os papéis (ações) movimentados no momento da licitação de uma hidroelétrica? NADA.

Para Max Weber o destino de uma época cultural que provou da "árvore do conhecimento” é ter de saber que podemos falar a respeito do sentido do devir do mundo, não a partir do resultado de uma investigação (tempo de trabalho de um analista no IBAMA), por mais perfeita e acabada que seja, mas a partir de nós próprios que temos de ser capazes de criar esse sentido. Temos de admitir que “cosmovisões” nunca podem ser o resultado de um avanço do conhecimento empírico, e que, portanto, os ideais supremos que o movem com a máxima força possível, existem, em todas as épocas, na forma de uma luta com outros ideais que são, para outras pessoas, tão sagrados como o são para nós os nossos.

Ganhar a eleição para a Marina pode não ser o mais importante. O mais importante é forçar um vento de Iansã sobre o preconceito e o machismo, disfarçados de conhecimento que orientam as mentes privilegiadas desse país injusto e desigual. Em tempo: Antônio das Mortes é um velho matador de cangaceiros. Coronel Horácio, rico proprietário e político demagogo e corrupto, o contrata para se livrar de Coirana, um pobre agitador que se passa por um grande cangaceiro. Coirana lidera um grupo de camponeses místicos, os beatos. Nós nos servimos de Glauber Rocha para forçar a visão de que o justo, no Brasil é quase sempre "confundido" com a figura folclórica, lunática que força o endógeno para se beneficiar. Glauber voscifera suas lentes para dizer que não há esgotamento para a "criatividade crítica" que apenas pretende amesquinhar, apequenar os espaços que se expandem.


Juliete Oliveira
Salgueiro/PE 22 de agosto de 2010

sábado, 21 de agosto de 2010

máquinas obrigatórias de voto

A chamada campanha eleitoral segue no Tocantins o tom uníssono de todo país: candidatos despreparados, que nada sabem do que seja política e que portanto jamais poderão cuidar adequadamente da pólis e dos interesses dos cidadãos. Isso com o agravante de um punhado que burla a lei (especialidade própria e imensamente difundida pelos tais) para se impor candidato. Ex-governadores e ex-parlamentares degenerados, assaltantes da verba pública, dados a toda sorte de bandidagem para fazer fortuna, multiplicar patrimônio, agenciar seus pares e parentes. O cinismo e o sarcasmo generalizado parecem ter se tornado a única alternativa possível diante do caos político a que somos lançados permanentemente. Quanto mais pilantra e indígno o pretendente mais êxito alcança nas famigeradas máquinas obrigatórias de voto. Que equação amalucada esta a que nos submetemos. Quanto mais sofisticado o processo de escolha, pior o resultado? Será este um sistema isento de falhas e fraudes, como se alardeia? As eleições hoje se dão como se o eleitor comprasse pela internet um produto e recebesse em casa outro – de qualidade inferior e ainda mais caro. A sociedade tinha que ter assegurada cada vez mais participação nesse processo e não ser apenas a que aciona um botão ou a que está restrita aos limites operatórios da votação: ser mesário, fiscal, observador etc. É duro saber que o bandido que saqueou seus bens, sua casa, seus direitos e oportunidades está de volta. E que fará tudo de novo impunemente. A lei da ficha limpa parece estar longe de ter posto fim a isso.


ney ferraz paiva, de Palmas, esse deserto, dessa comarca do nada...