quinta-feira, 3 de março de 2016

E FEZ-SE A DIVERSIDADE



Nos últimos tempos temos seguido tanto a palavra diversidade, nos aplicando a percebê-la em todos os contextos e situações da vida pública e privada, no entanto ao mencioná-la estamos quase sempre mais voltados para uma expressão parodoxon flacus. Um paradoxo da estupidez, pseudo-paradoxo ou paradoxo do mal: contradição auto anulativa, pode se aplicar, por exemplo, a afirmações que se contradizem ou conceitos contrários em anulação mútua, não presentes na natureza, mas inerente ao homem. Foi como um desses paradoxos que se anunciou que somente em 2133 as mulheres receberão remuneração igual a dos homens. Este é um dado lamentável que vem de Davos – encontro mundial para discutir as principais economias globais e seus rumos. Levar-se-á ainda 118 anos, a contar da publicação no Global Gender Report 2015, para que a mulher possa obter equivalência salarial, ainda que em muitos aspectos ela apresente desempenho superior.

Em que pese o número maior de mulheres nas universidades na maioria dos países, nos 145 analisados pelo estudo; destes houve aumento significativo de 22% da desigualdade, mesmo diante das conquistas anteriores os avanços se mostraram tímidos, não se confirmaram ou foram sordidamente obliterados. É o caso do Brasil, que caiu 14 posições no ranking, só em 2015. Esses dados, além de revelar um preconceito criminoso, as mulheres sendo tratadas como cidadãs de segunda classe, demonstra a inabilidade latente do mercado em lidar com o desenvolvimento econômico como ferramenta para promover riquezas e em consequência bem-estar entre os gêneros. Amartya Sen, ao discutir “a relação entre rendas e realizações, entre mercadorias e capacidades, entre nossa riqueza econômica e nossa possibilidade de oportunidade de participação no comércio e na produção”, defende que estas podem ajudar a gerar a abundância individual, além de recursos públicos para os serviços sociais. E mais importante: “Liberdades de diferentes tipos podem fortalecer umas às outras” (grifo nosso).

Este é o ponto a que queríamos chegar: a perpetuação do afastamento da mulher dos locais de geração e multiplicação de riquezas em uma análise macroeconômica mesmo, que envolve mercado e mais valia como aspectos que fazem a roda da economia girar. É no mínimo um desperdício de conhecimento, energia, criatividade e inventividade que retoma a tão propalada diversidade. E que delírios de grandeza nos apartam dela? Um hemisfério direito, ou esquerdo? Cultura? Educação? O que impede que sejamos apenas mulheres e homens produzindo? Tomando decisões? Ou que tipo de pensamento envolve o cenário da tomada de decisões, que define vidas, possibilidade, quanta liberdade individual há na tomada de decisão? Falta a semântica da diversidade. Que ela fosse, talvez menos branca, menos heterossexual, masculina, europeia, não viveríamos, quem sabe, tempos incertos, com relação à diplomacia entre nações; não viveríamos inúmeras diásporas, genocídios por meio da fome, por doenças do atraso a que são submetidas populações inteiras que não têm acesso a bens essenciais à vida, como é o caso dos recursos naturais.

Fosse a tomada de decisões mais diversa e revezada, inclusive em seus aspectos mais elementares e básicos, a exemplo das câmaras de vereadores – em Palmas, cidade onde moro, não se esboça nem mesmo a silhueta de uma vereadora entre integrantes da casa, onde, em pleno cerrado, a língua oficial e as leis soam como em latim –, nas secretarias estaduais, nas presidências de sindicatos, entre os grandes executivos de transnacionais, estas, inclusive, que ditam políticas e modos de vida mundo afora, sem nunca considerar a vida que levamos. Como seríamos sem o seu duvidoso apreço oficial? Justos e alegres pelo mundo, tendo, de fato, como riqueza, a qualidade de vida, o bem-estar social, o desenvolvimento humano. Um mundo onde as liberdades de diferentes tipos fortaleçam umas às outras.

Juliete Oliveira
Palmas-TO, 03 de março de 2016

Imagem: http://memorias-de-taxistas.blogspot.com.br/p/a-mulher-e-o.html