domingo, 22 de agosto de 2010

O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO

Que a Marina Silva não vai ganhar a eleição para a presidência do Brasil todos nós sabemos, mas daí, até usar de vilania e cegueira para dizer que a Marina não fez nada quando esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente, pelo IBAMA e órgãos adjacentes, pelo trabalhador rural, campo e floresta. É no mínimo fechar-se a um mundo em que se pode acreditar como melhor e avançado.

No conto de Borges, O jardim de veredas que se bifurcam, uma das personagens sente martelar o cérebro, pelo medo, desconfiança e todos os pensamentos matizes da guerra. Pensa que se pudesse gritar de onde estava de modo que fosse ouvido na Alemanha. É abatido pela constatação de que a sua voz (a nossa) humana era muito pobre. Como fazê-la chegar aos olhos do Chefe?

Pois bem, de que dispõe uma Marina, senão do corpo? Frágil corpo de mulher. Quanto valerá no Acre uma mulher que até os 16 anos não sabia ler? O que e quem enfrentou para estar onde chegou? Não podem esquecer os bem-nascidos no "sul" do Brasil, ou aí radicados por um qualquer milagre, que já amealharam para si desenvolvimento, educação de qualidade (vide números do ENEM) e de vida, que essa mulher sussurra verdades, justiça, natureza, e que ela é uma das responsáveis por um conjunto de mudanças ocorridas em torno da legislação ambiental, da prática de fiscalização e denúncias de crimes cuja vitima é a biodiversidade. Contudo, o que é a voz humana da Marina Silva contra as investidas do capital? O que é o silvo de um sabiá contra o ronco oleoso de um motosserra? O que é o nado silencioso de um bagre nos rios do país, contra os papéis (ações) movimentados no momento da licitação de uma hidroelétrica? NADA.

Para Max Weber o destino de uma época cultural que provou da "árvore do conhecimento” é ter de saber que podemos falar a respeito do sentido do devir do mundo, não a partir do resultado de uma investigação (tempo de trabalho de um analista no IBAMA), por mais perfeita e acabada que seja, mas a partir de nós próprios que temos de ser capazes de criar esse sentido. Temos de admitir que “cosmovisões” nunca podem ser o resultado de um avanço do conhecimento empírico, e que, portanto, os ideais supremos que o movem com a máxima força possível, existem, em todas as épocas, na forma de uma luta com outros ideais que são, para outras pessoas, tão sagrados como o são para nós os nossos.

Ganhar a eleição para a Marina pode não ser o mais importante. O mais importante é forçar um vento de Iansã sobre o preconceito e o machismo, disfarçados de conhecimento que orientam as mentes privilegiadas desse país injusto e desigual. Em tempo: Antônio das Mortes é um velho matador de cangaceiros. Coronel Horácio, rico proprietário e político demagogo e corrupto, o contrata para se livrar de Coirana, um pobre agitador que se passa por um grande cangaceiro. Coirana lidera um grupo de camponeses místicos, os beatos. Nós nos servimos de Glauber Rocha para forçar a visão de que o justo, no Brasil é quase sempre "confundido" com a figura folclórica, lunática que força o endógeno para se beneficiar. Glauber voscifera suas lentes para dizer que não há esgotamento para a "criatividade crítica" que apenas pretende amesquinhar, apequenar os espaços que se expandem.


Juliete Oliveira
Salgueiro/PE 22 de agosto de 2010

2 comentários:

  1. Olá Julieta, obrigada por visitar o letra e fel, tens razão, só os pequenos se constróem com restos da destruição de um outro... belo texto
    abraços
    renata

    ResponderExcluir
  2. Amiga! este texto reflete o quanto somos limitados ao mundo terreno, e o quanto nos falta ainda evoluir.

    como sempre, sua sensatez fere os de coração corrupto, onde o mal vem sempre disfarçado em discursos de avanço e crescimento, e de favorecimento aos mais fracos, sendo que na verdade, eles precisam girar a engrenagem administrativa, não importando seus meios

    beijos e saudade né....

    ResponderExcluir