tag:blogger.com,1999:blog-7657568762127377162024-03-12T22:06:57.820-07:00in-di-gestão públicapolítica desejo
estética & fomeJuliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.comBlogger70125tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-75376515839298327272019-09-16T17:36:00.004-07:002019-09-16T17:36:54.849-07:00<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZNYpRI13N9XV_Tsu17XSCIfr-gArOfrMnKj_Q9BE0M6WjzFM6NbZvboT0h6VxQc-8zvCYQl_mW90Gm6wHtnwZiZ_hp0Y36UXjIElBOV8xBI9BSi4pAuswHEktJ26Qi0qeHE9i6uiLelI5/s1600/eut%25C3%25A1lia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="163" data-original-width="310" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZNYpRI13N9XV_Tsu17XSCIfr-gArOfrMnKj_Q9BE0M6WjzFM6NbZvboT0h6VxQc-8zvCYQl_mW90Gm6wHtnwZiZ_hp0Y36UXjIElBOV8xBI9BSi4pAuswHEktJ26Qi0qeHE9i6uiLelI5/s1600/eut%25C3%25A1lia.jpg" /></a></div>
<div align="center" class="Standard" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="Standard" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="Standard" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">A casa nossa de cada dia!<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="Standard">
<br /></div>
<div class="Standard" style="margin-left: 283.45pt;">
<span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">É
preciso que a pessoa se lance no centro, no coração, no ponto em que tudo se
origina e toma sentido: e eis que se reencontra a palavra esquecida ou
reprovada, a alma.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>(René Huyghe)<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="margin-left: 283.45pt;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Calibri",sans-serif; font-size: 10.0pt; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Para Gaston Bachelard ‘a casa é o nosso canto no mundo’.
Complemento dizendo que existem infinitos tipos de casas e de maneiras de
habitá-las. Em Palmas/TO a casa é para quem pode pagar por ela, avultosas somas
mensais. Para os nobres! Há uma clara e precisa divisão de mundos com as suas
casas próprias. Isto ficou muito claro na ação de ocupação de uma quadra do
plano diretor sul da cidade, o movimento de ocupação composto por cerca de 300
famílias na tentativa de obter para si a dignidade deste universo, desse cosmo.
Ou ainda como diria o filósofo: um cosmos em toda a acepção do termo, foi
violentamente rechaçado, o estado e a sua máquina mortífera, chamada polícia,
agiu de pronto para não permitir aos que não são nobres, a poética do espaço!<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Me sirvo aqui
desta conversação com Bachelard, para falar de um tipo de casa muito particular,
da nossa morada original, o local mais protegido: o útero. Foi com o meu útero
que senti a dor de Eutália Barbosa, ao ver seu filho apanhando do estado. Este
mesmo que deveria nos proteger! Para ele, seu primeiro vínculo no universo da
casa. Ato contínuo o filho na tentativa de proteger a mãe, a sua morada
metafórica, apanha e segue algemado, sujo de barro! Deste mesmo barro que
buscou conquistar para outros, ele mesmo tem casa. Ele, que tem a casa como
direito universal, como um princípio de moradia, de lugar no mundo. Que sabe a
importância da solidariedade para construir uma sociedade justa. Apanhou, foi
exposto na carroceria de um carro de polícia! Seu irmão assistia a tudo tomado
pelo desespero. Na tentativa de resolver foi acusado de desacato! Foi também
levado. Agindo assim todas as pessoas com vínculos institucionais fortes e
relações com aqueles que poderiam agir em defesa das famílias sem teto foram
retirados do cenário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A vizinhança
assistia a tudo indiferente ou revoltada pela presença dos indesejáveis entre
eles. Quem são essas pessoas e seus filhos? Quem são esses impróprios para o
convívio? A polícia por motivação também imobiliária ostentava o seu aparato
bélico. E a casa ficava cada vez mais distante. Escapava como de resto tudo, para
as pessoas que tem pouco ou quase nada. Contudo, não faltou companheirismo,
vontade, coletividade para aqueles que estavam de pé as três horas da manhã,
antecipando o dia, capinando os prováveis lotes, afagando o sonho da casa
própria. Pensando como Manoel de Barros: </span><span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-weight: bold; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">“Para apalpar
as intimidades do mundo é preciso saber:/Que o esplendor da manhã não se abre
com faca”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-font-weight: bold; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-theme-font: minor-latin;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A
abordagem abriu um buraco em mim, que assisti a tudo sem nada poder fazer, eu
mesma que não tenho casa! Eu mesma que me sinto não pertencer! Não habitar! Agora
não consigo esquecer a Carolina Maria de Jesus e o seu Quarto de Despejo, em
que dizia: </span><i><span style="background: #FAFAFA; color: #333333; font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">O maior
espetáculo do pobre da atualidade é comer.</span><o:p></o:p></i></div>
<div class="Standard" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Juliete Oliveira – sem teto<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Calibri",sans-serif; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Palmas/TO, 16 de setembro de 2019<o:p></o:p></span></div>
<br />Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-23073378908466708432019-02-19T11:19:00.000-08:002019-02-19T11:19:14.272-08:00Once upon a time<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWsVv1YeVAFBzvNtJ7Seny2-I3B8-KhMmgaoTrQU2PgebUGYcIuyRPdHJrZLSGaEvxdaKavpwcF8d_DAL-5pumCr44bQbQsHY5xNEBaFup7D5pc1XroNM8067RGJuhZsbTXRmIt0K4htLH/s1600/Escola+de+Circo+de+Recife.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="365" data-original-width="960" height="241" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWsVv1YeVAFBzvNtJ7Seny2-I3B8-KhMmgaoTrQU2PgebUGYcIuyRPdHJrZLSGaEvxdaKavpwcF8d_DAL-5pumCr44bQbQsHY5xNEBaFup7D5pc1XroNM8067RGJuhZsbTXRmIt0K4htLH/s640/Escola+de+Circo+de+Recife.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Era uma vez um país do absurdo, onde era proibido ser bom, cultivar a beleza, a filosofia e tudo que ela produziu enquanto investigação do pensamento foi banido deste país, a palavra diversidade foi excluída dos dicionários, na escola os alunos passaram a vigiar os professores para que não incorressem no crime de usar a arte como ferramenta de ensino, os príncipes e princesas, mesmo os de mais tenra idade, podiam portar a sua arma contra os professores, que passaram a ser uma casta inferior, acuada, incapaz de se organizar, se movimentar e refém de pais e governantes arrogantes e incautos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Este país de recursos biológicos abundantes e com um passado de construção de meios legais para proteger o seu acervo, passou a disponibilizar as suas riquezas, comercializando-as por preços irrisórios e tornando a população cada vez mais sem recursos, a escola, motor da construção do pensamento passou a ser o principal alvo dos governantes, em todas as esferas, do vereador ao presidente da república todos estavam ressentidos com esta instituição. Mas não apenas com ela, sobretudo com aqueles que ousaram em tempos anteriores torná-la democrática, como alguns educadores, os quais — não se ousa pronunciar os nomes — tiveram a desfaçatez de achar que o conhecimento seria capaz de tornar as pessoas mais cuidadosas, críticas, que poderiam ter percepção para transformar a realidade. Este foram definitivamente banidos da história daquele povo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O país despencou de uma categoria vantajosa, auferida a ele pelas suas condições econômicas resultado do que poderia oferecer ao mundo em matéria de recursos naturais e produção agropecuária, petrolífera, engenharia aeronáutica e tantas outras áreas da produção e do conhecimento. Nos dias que correm os outros países mudam de calçada para não caminharem lado a lado com ele, os bons, os belos, belas, boas, felizes, ou estão escondidos em pequenos contêineres blindados por uma aparência austera, amedrontados, temerosos pelas suas vidas, ou estão buscando meios de irem para outras paisagens, com outras estações, para que possam compor canções de exílio. Nesta nação agora só há espaço para formigas, as cigarras se foram, ou não cantam mais, buscaram disfarces, se transvestindo de outras coisas que não denunciem a sua personalidade desnecessária.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No país do rosa e do azul, não é seguro mais o arco-íris, o baile de são benedito, a produção sem veneno, o riso, a loucura terá que ser encarcerada novamente, posta em vigilância sem sublimação, o alienista está vigiando, aquele formado na escola do medo, na pedagogia do ódio, pedagogia da dependência, aquele cujo filho e filha estudam na escola da proibição, este doutor será a voz de ameaça para os que se ousarem loucos. Como tudo está velho, ultrapassado, o país e seu povo não serão mais considerados como algo relevantes, só o seu território é do interesse dos outros países, que deverão tomar posse do que há de revelante para o mercado e aos poucos torná-los meros manequins de um passado carnavalesco. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Juliete Oliveira<br />
Palmas-TO, 07 de de fevereiro de 2019<br />
Imagem: Escola de Circo de RecifeJuliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-23381553278552592952019-01-11T04:33:00.000-08:002019-01-11T04:33:05.913-08:00a cova não contém <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwMh4ApJuviHtEiB2pZs1G4-Ga7w9VnYy2I7tEOFva2mh3ecEJKIyjWlToJlfbwJuSoqwsUQrhVsG1GFbXIOjKweGHf4gkhNgiYo92Jdrr5qwA0Gw16rRVDjVmokpqcAa3fdcz5E8s_Qfb/s1600/Sebasti%25C3%25A3o+Salgado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="369" data-original-width="500" height="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwMh4ApJuviHtEiB2pZs1G4-Ga7w9VnYy2I7tEOFva2mh3ecEJKIyjWlToJlfbwJuSoqwsUQrhVsG1GFbXIOjKweGHf4gkhNgiYo92Jdrr5qwA0Gw16rRVDjVmokpqcAa3fdcz5E8s_Qfb/s320/Sebasti%25C3%25A3o+Salgado.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
não contém o meu espírito de acender raios</div>
<div class="MsoNormal">
não contém meus braços de árvore</div>
<div class="MsoNormal">
não contém minha semelhança de nuvem</div>
<div class="MsoNormal">
não contém meus delírios de parturiente</div>
<div class="MsoNormal">
não contém minha insistência de semente</div>
<div class="MsoNormal">
não contém a minha pele escura</div>
<div class="MsoNormal">
não contém minha vulva</div>
<div class="MsoNormal">
não contém minha sabedoria de relâmpago</div>
<div class="MsoNormal">
não contém minha serpente impaciente</div>
<div class="MsoNormal">
não contém minha verdade de terra</div>
<div class="MsoNormal">
não contém língua & desejo</div>
<div class="MsoNormal">
não contém meu canto de outro tempo</div>
<div class="MsoNormal">
não contém promessas de ouro</div>
<div class="MsoNormal">
não contém o desconhecido vindouro</div>
<div class="MsoNormal">
não contém a consciência do instante livre</div>
<div class="MsoNormal">
não contém meus olhos de aurora</div>
<div class="MsoNormal">
não contém o que sei & o que não sei</div>
<div class="MsoNormal">
não contém o que escuto do vento</div>
<div class="MsoNormal">
não contém meu grito de sangue antigo</div>
<div class="MsoNormal">
não contém espectros da noite</div>
<div class="MsoNormal">
não contém os segredos dos cantos que entoei </div>
<div class="MsoNormal">
não contém o ontem & o agora</div>
<div class="MsoNormal">
não contém a bravura cerrada em meus dentes</div>
<div class="MsoNormal">
não contem o escuro do meu lamento</div>
<div class="MsoNormal">
não contém o testemunho arenoso do que sou</div>
<div class="MsoNormal">
não contém a ladainha em sétima solidão</div>
<div class="MsoNormal">
não contem a renúncia escrita em idiomas imortais</div>
<div class="MsoNormal">
não contém as festas & os desafios dos meus passos</div>
<div class="MsoNormal">
não contém uma colheita de devires</div>
<div class="MsoNormal">
não contém a aridez de campo sem flores</div>
<div class="MsoNormal">
não contém foice & martelo</div>
<div class="MsoNormal">
não contém a garganta & seu grito</div>
<div class="MsoNormal">
não contém pés descalços no orvalho da liberdade</div>
<div class="MsoNormal">
não contém o corpo e sua mortalidade</div>
<div class="MsoNormal">
não contém as silabas da justiça</div>
<div class="MsoNormal">
não contém o suor da lavoura</div>
<div class="MsoNormal">
não contém o sulco no solo</div>
<div class="MsoNormal">
não contém a morte & seu deposito</div>
<div class="MsoNormal">
não contém todas as cores & sua cronologia</div>
<div class="MsoNormal">
não contém querer & igualdade</div>
<div class="MsoNormal">
não contém o justo & seu olhar infinitesimal</div>
<div class="MsoNormal">
não contém a pele & suas planícies </div>
<div class="MsoNormal">
não contém nos matar.</div>
<div class="MsoNormal">
não contém, não contém, não contém.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Juliete Oliveira</div>
<div class="MsoNormal">
Palmas-TO, janeiro de 2019</div>
Imagem: Sebastião SalgadoJuliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-64582403655180315222018-09-07T06:22:00.001-07:002018-09-07T06:24:52.416-07:00Governar é criar desertos<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB9Gn7qUD-h24wHYTRrqgWHk0rYZeACX3bPDCM_-dwpnJ9scmgZEvl6Q2HV-4CbXBESVCCqEw27SlcFuVq9pnDtvMdoHeb05aM70DivJXYBJw_u7Z2XNbaBnthFauaqe_xxzL5juVnf-X2/s1600/Av%25C3%25B3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="169" data-original-width="299" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgB9Gn7qUD-h24wHYTRrqgWHk0rYZeACX3bPDCM_-dwpnJ9scmgZEvl6Q2HV-4CbXBESVCCqEw27SlcFuVq9pnDtvMdoHeb05aM70DivJXYBJw_u7Z2XNbaBnthFauaqe_xxzL5juVnf-X2/s1600/Av%25C3%25B3.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: "helvetica" , "arial" , sans-serif; text-align: left; white-space: pre-wrap;"><span style="font-size: x-small;">https://pxhere.com/pt</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="color: black; font-family: "times new roman" , "serif"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="color: black;">Nunca me fez tanto sentido a leitura das teorias existencialistas,
como nos dias que correm, nos meus 47 anos de vida e os aproximados 30 de
lucidez, nunca senti tão presente as angústias, desesperos da existência,
alertados por Sartre e Heidegguer, quanto agora. A fala de Eduardo Viveiro de
Castro, a quem tenho profundo respeito e admiração, é tudo o que gostaria de
ler e ouvir em referência ao fatídico incêndio no Museu Nacional, ou ainda ao
desaparecimento histórico do Brasil. </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="color: black;">A vida significada, ressignificada, que faça sentido só é possível
por meio de elementos que a justifique, é assim para a arqueologia,
antropologia, biologia, história, geografia, linguística e todas as vertentes
científicas que são capazes de, com as suas asas fornecer subsídios para que os
acontecimentos ganhem significados, aos olhos, ouvidos, tatos e olfatos das
pessoas. Perder um acervo como o do Museu Nacional é perder um oceano de
possibilidades e jogar por terra a vida de centenas de milhares de
pesquisadores, lembro aqui da letra do Gonzaguinha: Um homem se humilha /<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Se castram seu sonho /<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Seu sonho é sua vida /<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E vida é trabalho /<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E sem o seu trabalho / O homem não tem honra
/<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E sem a sua honra /<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Se morre, se mata /<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Se morre, se mata<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>/ Não dá pra ser feliz (…). Bem adequada ao
sentimento comum a uma boa parcela de pessoas que entendem a magnitude do que
se perdeu: Não dá pra ser feliz!</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="color: black;">Isto é existencialismo, pelo menos é o que se aproxima, na minha
rasa compreensão, questionar a razão de tudo isto, e a minha própria razão
aqui, agora, neste lugar. Sei que para a maioria das pessoas isto não fará
sentido algum. Mas sei que por menor que seja a sensibilidade nas pessoas podem
sentir a esterilidade na relação com as coisas, com o que importa – embora a
semântica do termo importar (ser importante) esteja deslocada, pareça
diferente, esteja mais individual, egoísta, autorreferente, <a href="https://www.blogger.com/u/2/null" name="gjdgxs"></a><i style="mso-bidi-font-style: normal;">aesthetics. </i>Podem sentir um imenso oco,
buraco, vazio que evolui para um soco no estômago, é orgânico mesmo, assim como
era orgânico o Museu, um imenso organismo a contar a história de todos nós, uma
velha avó sentada sobre as suas pernas transformando em narrativa os meios que
nos trouxeram até aqui. A avó foi morta a machadadas, o arado de criar desertos
decepou-lhe a cabeça.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="color: black;">Quando Viveiros de Castro diz que no Brasil governar é criar
desertos, ele fala do ponto de vista de quem já assistiu muita morte de
narrativas essenciais para fundar outras narrativas, fala do lugar de quem
também recebeu o soco no estômago sem chances de revidar. Quando defende que o
local permaneça como ruína, memória das coisas mortas. Considera que a morte de
uma Avó/Museu é o fim. Estamos fadados a matar as avós, silenciar as suas
narrativas, estamos existencialmente estéreis.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="color: black;">Palmas-TO, 06 de setembro de 2018</span><o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black;">Juliete Oliveira</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #292929;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<br />Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-25019612391662118322017-05-25T17:48:00.001-07:002017-05-25T17:48:45.254-07:00Um amor eficaz <div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMrnkhR70n0WRcgxsxDZHmif5Vb1uVL5IzNRUXjU_OvUBoU_58XHzDrETKW-XhmnwrK52wt-OUFIAeW1M0d_oYQD4tbxzyPrp1wDUUNt2AN5tW6pOvZMICMZscZNuGFQxFeqtFn9jidhqq/s1600/info_dorothy.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="626" data-original-width="600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMrnkhR70n0WRcgxsxDZHmif5Vb1uVL5IzNRUXjU_OvUBoU_58XHzDrETKW-XhmnwrK52wt-OUFIAeW1M0d_oYQD4tbxzyPrp1wDUUNt2AN5tW6pOvZMICMZscZNuGFQxFeqtFn9jidhqq/s320/info_dorothy.jpg" width="306" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Sabemos que a fome é mortal”, dizia o padre Camilo Torres.
“E se sabemos disso, tem sentido perder tempo discutindo se a alma é imortal”?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Camilo acreditava no cristianismo como prático do amor ao
próximo e queria que esse amor fosse eficaz. Tinha a obsessão do amor eficaz.
Essa obsessão o levantou em armas e por ela caiu, num desconhecido rincão da
Colômbia, lutando nas guerrilhas. (Eduardo Galeano, Memórias do Fogo, Vol. I: O
Século do Vento, 1988).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O que além de sentimentos como estes deveria nos mover em
favor de resolver problemas coletivos e que no final afetam a todos? A fome
como finalidade é apenas o resultado de uma séria de fatores que corroem a
humanidade. Claro está que ela não se atrela unicamente a ausência de
alimentos, mas é até senso comum afirmar, a má distribuição deles. Utilizo este
preâmbulo para chamar para atenção a temas que nos últimos meses vem se
tornando cada vez mais corriqueiros e até comuns, já que não fazem muitos anos a
situação era igual, ou um tanto pior: a violência no campo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pode até ser coincidência, mas desde que o Brasil voltou a
ser um lugar inseguro ao exercício das liberdades individuais e coletivas, um
lugar onde já não é mais possível se prever garantias ao bem comum, os
conflitos, assassinatos e massacres daquele que sempre foram vítimas da mão
audaz do estado e dos que estão sob a sua permanente proteção, voltou a ser
algo bem provável de acontecer a qualquer momento. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O estado do Pará, palco de inúmeras histórias de violência e
exceção de direitos, lugar em que o que vale é o quanto se pode pagar para
financiar extermínios de pessoas. Quando falo de pessoas leiam, líderes
comunitários, sindicais, religiosos, trabalhadores rurais sem terra, índios e
todos aqueles que de certa forma estão a serviço da garantia de direitos, da
justiça social, da igualdade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A aritmética da cultura da violência no campo pode ser
assustadora, mas não deve ser paralisante, deve servir como um ativo de
indignação, inconformidade. 9 mortos nesta quarta feira em Pau d’ Arco, pequeno
município do estado Pará, não é apenas mais um número é o desperdício de
energia, de vidas, é o fortalecimento de grupos que se mantem no poder graças
ao poder de fogo, que mesmo em governos mais democráticos, como o que tivemos
nos últimos 12 anos – até 2016 – , se mantiveram como donos dos outros, é só observar
as estatísticas do trabalho escravo, feitas pelo Ministérios do Trabalho no
período. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Obvio que o que está ruim pode perfeitamente piorar, com
relação à política de distribuição de terras e reforma agrária, tudo piora
sempre. Agora foram 9 em Pau d’ Arco, mas uns tantos no estado do Mato Grosso,
este indígenas. Quantos mais? Pergunto-me. Até que possamos ser maduros o
suficiente para compreender que a distribuição de terras e o fortalecimento de
políticas públicas para o setor, que não sejam as que já possuímos, enquanto
estado, as do agronegócio, poderão perfeitamente resolver o problema da fome,
não apenas a fome orgânica, mas as outras configurações de fome que possuímos,
de conhecimento, de tecnologias sociais adequadas aos diferentes grupos, de
modernidade e tudo que ela pode representar em matéria de liberdade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A impressão mais forte que fica é de que em que pese termos
avançado tanto, agora andamos para trás, não como um exercício saudável de
desconstrução e reterritorialização, mas como um distanciamento do que alcançamos
para nos tornar um tanto bárbaros, aculturados, analfabetos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
Juliete Oliveira<o:p></o:p></div>
<br />
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
Palmas/TO, 25 de maio
de 2017<o:p></o:p></div>
Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-26332216871991073822016-08-20T12:46:00.000-07:002016-08-20T12:46:52.435-07:00Democracia emparedada<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRMlp0MwP1KhsQLGLlqrXhbFk05wjswIWJQ4ESHfeLNagu_midi-0w08zHufU9qe0LXq7rGXINQhsS-VbCDRIDbPvNfMHOErS14NSBKqmHakSGIFNuG-tmZVsXbyYLC8MH3YYuY3Xim2u1/s1600/e506dd8830d7a6a81af94b65c454409a.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRMlp0MwP1KhsQLGLlqrXhbFk05wjswIWJQ4ESHfeLNagu_midi-0w08zHufU9qe0LXq7rGXINQhsS-VbCDRIDbPvNfMHOErS14NSBKqmHakSGIFNuG-tmZVsXbyYLC8MH3YYuY3Xim2u1/s320/e506dd8830d7a6a81af94b65c454409a.jpg" width="207" /></a></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<a class="profileSource" data-element-type="25" href="https://br.pinterest.com/source/heyshambles.tumblr.com" style="background-color: white; color: #8a8a8a; display: flex; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, "ヒラギノ角ゴ Pro W3", "Hiragino Kaku Gothic Pro", メイリオ, Meiryo, "MS Pゴシック", arial, sans-serif; font-size: 11px; font-weight: bold; line-height: normal; outline: 0px; text-align: start; text-decoration: none;"></a></div>
<div class="profileSourceAttributionContent" style="-webkit-box-direction: normal; -webkit-box-orient: vertical; display: flex; flex-direction: column; float: left; margin-top: 3px;">
<h4 class="fullname" style="color: #444444; display: block; font-family: Helvetica, "ヒラギノ角ゴ Pro W3", "Hiragino Kaku Gothic Pro", メイリオ, Meiryo, "MS Pゴシック", sans-serif; font-size: 14px; font-weight: bold; line-height: 17px; margin: 0px; max-width: 414px; overflow: hidden; text-overflow: ellipsis; white-space: nowrap;">
heyshambles.tumblr.com</h4>
</div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-font-family: Mangal;"><br /></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; mso-bidi-font-family: Mangal;"><br /></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Com quem anda a democracia? Quem são os seus fiéis detentores? Em que
solo pisa a senhora democracia? Não mexe comigo,
que eu não ando só, / Eu não ando só, que eu não ando só. / Não mexe não!
(Maria Bethânia). O trecho da bela canção de Bethânia nos fala das boas
companhias de quem não anda só, durante muito tempo a palavra democracia foi um
xingamento por caraterística de origem, em que, nem todos, estavam abrigados no
seu guarda-chuva. O famoso discurso de Péricles que sugeriu pela primeira vez ser a
democracia o governo “do povo, pelo povo e para o povo”, o que poderia ser
traduzida por: a distribuição equitativa do poder de tomar decisões coletivas e
o julgamento dos cidadãos quanto ao processo de tomada dessas decisões e os
seus resultados. A democracia nunca esteve só!<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É por aí que anda a democracia? Nos tempos que correm,
ela se transformou por herança de décadas anteriores, em uma espécie de objeto
colonizado do discurso individualista. “Os códigos fundamentais de uma cultura
— aqueles que regem sua linguagem, seus esquemas perceptivos, suas trocas, suas
técnicas, seus valores, a hierarquia de suas práticas — fixam, logo de entrada,
para cada homem, as ordens empíricas com as quais terá de lidar e nas quais se
há de encontrar<i>. ” </i>(Michel Foucault – <b>As Palavras e as Coisas</b>). É
democrático ter acesso a bens de consumo, é democrático ter um comportamento
fora dos padrões, é democrático criticar esquemas que oferecem direito a
políticas públicas, ou ainda, a própria existência destas, como viés de acesso
para grupos antes negligenciados. É democrático, não ser democrático. Ainda com
Foucault, a relação da palavra com o signo é uma relação infinita. Não que a
palavra seja imperfeita e esteja, em face da representação, num deficit que em
vão se esforçaria por recuperar. Só que o signo, foi por assim dizer, capturado
pela experiência do “real” em que segundo Jacques Rancière, a democracia não
representaria mais liberdade e igualdade junto as instituições de estado, mas
seria encarnada nas próprias formas de vida material e de experiência sensível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ora pois, se o signo que antes era a mais alta
representação de abrangência e isonomia, não sem antes passar por intermináveis
testes de adaptação cultural, e ser, ele mesmo, responsável por derivar e
sustentar mudanças “culturais”, passa a ser uma mera referência a preferências
e gostos individuais, há algo de muito doentio em todo o resto. O que se
observa, é o esvaziamento literal do que quer, de fato expressar a palavra
democracia, se avizinhando da conveniência, das influências, das paixões,
oferecendo margem para energias febris que se ativam na cena política,
desviando-a para a busca da prosperidade material, da felicidade privada e para
os laços societários, já conhecida de Aristóteles a partir de Lisístrata em a
“A greve do sexo” de Aristófanes, que busca neutralizar as formas de interação
social mais afeitas à efetivação do estado democrático de direito. Essa verdadeira
promoção do que é privado e individual, promovida pela mídia, sobretudo, tem o
efeito devastador de tornar os cidadãos indiferentes ao bem público e minar a
autoridade de governos, desviando as atenções do poder instituído paras
responder demandas reiteradas que emanam da sociedade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em <i>O ódio à democracia</i> Jacques Rancière explicita
o paradoxo democrático tido por alguns especialistas como “o reino dos
excessos”, que leva a ruína o governo democrático. Opa! Não é, a algo assim que
estamos assistindo? Uma enorme quantidade de garantias para individualidades –
sobretudo, para aqueles que se setem aptos a pagar por qualquer coisa –, em
que, tudo absolutamente tudo, é colocado à serviço de garantir direitos, a quem
já tem todo direito. Ainda há pouco, uma das maiores iniciativas da sociedade,
na tentativa de frear um pouco, a insaciável sede de poder de determinados
grupos políticos: a “Lei da Ficha Limpa”, foi classificada por um dos maiores
jurista brasileiro, como o resultado do trabalho de bêbados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Lembro muito bem, de toda a energia empenhada pela
sociedade organizada para reunir assinaturas que levassem o Projeto de Lei a
ser votado nas instâncias necessárias a sua legalização, não foram poucas
campanhas publicitárias, na mídia alternativa, para arregimentar cerca de 1,4
milhão de assinaturas e patrocinado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e
pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), duas instituições que
ainda gozam de certo respeito e respaldo para se posicionarem quando é
necessário garantir direitos democráticos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O emparedamento da democracia a coloca como um apetrecho
que é portado por políticos de toda monta. De tanto ser usada como referência
até mesmo do que ela não representa, se transformou em um espelho que reflete
ao contrário, uma similitude mal confeccionada de si mesma. Com voracidade essa
democracia é consumida em equivalência, ou afirmação ilimitada de poder
material e regurgita ingenuidade ou cinismo para fortalecer os indivíduos
democráticos e seus processos de legitimação
<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<o:p><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Juliete Oliveira</span></o:p></div>
<div class="Standard" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<o:p><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Palmas/TO, agosto de 2016</span></o:p></div>
Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-10150745437351320472016-04-11T12:38:00.001-07:002016-04-11T12:38:34.879-07:00"Instituições e políticas determinam se a nação vai fracassar ou não"<h1 class="documentFirstHeading" style="background-color: white; color: #231f20; font-family: 'Open Sans', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 30px; letter-spacing: -0.05em; line-height: 36px; margin: 0px 0px 0.5em; padding: 0px;">
<br /></h1>
<div id="viewlet-below-content-title" style="background-color: white; font-family: 'Open Sans', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8px; line-height: 19.2px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="documentDescription" id="parent-fieldname-description" style="color: #656565; font-family: 'Helvetica Neue', Arial, FreeSans, sans-serif; font-size: 20px; font-stretch: normal; font-style: italic; line-height: normal; margin: 15px 0px; padding: 0px;">
Professor da Harvard Kennedy School, aponta as causas dos limites do desenvolvimento brasileiro</div>
<div class="documentByLine" id="plone-document-byline" style="color: #666666; font-size: 10.88px; margin: 0px; padding: 0px;">
<span class="documentAuthor" style="margin: 0px; padding: 0px;">por Marcos de Aguiar Villas-Bôas — </span><span class="documentPublished" style="margin: 0px; padding: 0px;"><span style="margin: 0px; padding: 0px;">publicado</span> 11/04/2016 04h25</span></div>
</div>
<div class="horizontal" id="viewlet-social-like" style="background-color: white; font-family: 'Open Sans', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12.8px; line-height: 1em; margin: 5px 0px 0px; min-height: 3em; padding: 0px;">
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<div class="tile-rights" style="font-size: 10px; line-height: 1.2em; margin: 0px; padding: 0px; text-align: right;">
<span style="margin: 0px; padding: 0px;"></span></div>
<div class="canvasImg" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<img alt="Aposentados" class=" lazyloaded" data-src="http://www.cartacapital.com.br/revista/893/deficit-humano/aposentados/@@images/734c5487-7820-4925-b866-c65dcaef4d81.jpeg" height="511" src="http://www.cartacapital.com.br/revista/893/deficit-humano/aposentados/@@images/734c5487-7820-4925-b866-c65dcaef4d81.jpeg" style="height: auto; margin: 0px; max-width: 100%; padding: 0px; vertical-align: text-bottom;" title="Aposentados" width="768" /><div class="discreet" style="color: #666666; font-size: 13.6px; margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
A Previdência está por ser discutida, enquanto o Bolsa Família é um sucesso</div>
</div>
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<div style="border-bottom-color: rgb(204, 204, 204); border-bottom-style: solid; border-bottom-width: 1px; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 10px;">
<a href="http://www.cartacapital.com.br/economia/cobertura-da-previdencia-explode-mas-gasto-fica-estavel" style="border-bottom-style: none; color: black; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;">Cobertura da Previdência explode, mas gasto fica estável</a></div>
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<a href="http://www.cartacapital.com.br/politica/bolsa-familia-corte-jogaria-8-milhoes-na-extrema-pobreza-diz-ministerio-8565.html" style="border-bottom-style: none; color: black; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;">Bolsa Família: corte joga 8 milhões na extrema pobreza, diz ministério</a></div>
<div style="border-bottom-color: rgb(204, 204, 204); border-bottom-style: solid; border-bottom-width: 1px; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 10px;">
<a href="http://www.cartacapital.com.br/especiais/infraestrutura/brasil-um-pais-em-busca-de-luz" style="border-bottom-style: none; color: black; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;">Brasil, um país em busca de luz</a></div>
<div style="border: none; font-weight: bold; margin: 0px; padding: 10px;">
<a href="http://www.cartacapital.com.br/revista/880/e-preciso-combater-modelo-unico-de-politica-habitacional" style="border-bottom-style: none; color: black; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;">"É preciso combater o modelo único de política habitacional"</a></div>
</span></fieldset>
<div id="retangulo-noticias" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div id="div-gpt-ad-1449672726990-3" style="height: 250px; margin: 0px; padding: 0px; width: 300px;">
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</div>
</div>
</aside><div id="textstructured" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
O brasileiro Filipe Campante, professor associado de Políticas Públicas da Harvard Kennedy School, uma das principais escolas de política e administração públicas, negócios e economia, integra um grupo mundial de especialistas dedicados ao estudo das relações entre instituições políticas, inclusão social, democracia e crescimento.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Políticas públicas corretas são fundamentais, mas exigem boas instituições e quanto mais inclusivas forem, melhor sucedido é o país, explica Campante na entrevista a seguir.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<em style="margin: 0px; padding: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px;">CartaCapital:</strong> Muitos especialistas, entre eles Daron Acemoglu, do Massachusetts Institute of Technology, e James Robinson, da Universidade de Chicago, defendem que, apesar de boas políticas públicas serem fundamentais, um país precisa, antes de mais nada, ter boas instituições. Qual é a diferença entre instituições e políticas públicas, e que importância tem cada uma delas?</em></div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<strong style="margin: 0px; padding: 0px;">Filipe Campante:</strong> Esse ponto de vista é realmente muito influente no debate acadêmico e, cada vez mais, na discussão de políticas públicas. As instituições são o cenário, as regras do jogo que demarcam as políticas públicas e das quais elas emergem. Falamos mais até do que de mudanças nas <a class="external-link" href="http://www.cartacapital.com.br/economia/ideias-para-uma-reforma-tributaria" style="border-bottom-style: none; color: rgb(173, 27, 30) !important; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank" title="">áreas tributária</a> e da<a class="external-link" href="http://www.cartacapital.com.br/economia/reforma-da-previdencia-proposta-e-restricao-de-direitos-basico" style="border-bottom-style: none; color: rgb(173, 27, 30) !important; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank" title=""> previdência</a>, de reformas como aquela chamada no Brasil de política.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Não se trata, porém, só do ponto de vista de como são eleitos os deputados ou quais os poderes do Congresso e do presidente, qual o sistema partidário, entre outros pontos. Deve-se pensar como tudo isso vai refletir nos incentivos econômicos dados à sociedade, algo que Acemoglu e Robinson ressaltam bastante.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Eles enfatizam a necessidade de ter-se uma proteção ampla ao direito de propriedade. Acho que esse é um exemplo importante no debate brasileiro, por romper um pouco com essa dicotomia de esquerda e direita, onde, de um lado, se protegeria os interesses do capital e do outro, aquele dos oprimidos.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Quando falamos do direito de propriedade, não se trata de proteger as grandes empresas, mas de proteção ampla a toda a população, para permitir que os indivíduos possam se apropriar dos frutos dos seus esforços, dos seus investimentos, do seu trabalho. O conjunto das instituições e das políticas públicas em interação é o que vai determinar se as nações vão fracassar ou não.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
</div>
<dl class="image-inline captioned" style="float: none; margin: 0px 0px 1em; max-width: 660px !important; padding: 0px; width: 768px;">
<dt style="font-weight: bold; margin: 0px; padding: 0px;"><a href="http://www.cartacapital.com.br/revista/893/deficit-humano/filipe-campante" rel="lightbox" style="border-bottom-style: none; color: black; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;"><img alt="Filipe-Campante" class=" lazyloaded" data-src="http://www.cartacapital.com.br/revista/893/deficit-humano/filipe-campante/@@images/d3092d24-97b8-47e9-9626-7c9891f79c7f.jpeg" height="511" src="http://www.cartacapital.com.br/revista/893/deficit-humano/filipe-campante/@@images/d3092d24-97b8-47e9-9626-7c9891f79c7f.jpeg" style="border: 1px solid rgb(221, 221, 221); height: auto; margin: 0px; max-width: 100%; padding: 0px; vertical-align: text-bottom;" title="Filipe-Campante" width="768" /></a></dt>
<dd class="image-caption" style="color: #666666; font-size: 13.6px; line-height: 1.6em; margin: 0px 0px 1em 2em; padding: 0px 0px 0px 3px; width: 768px;">A história determina as escolhas sociais, mas há maneiras de mudar a trajetória, diz Campante</dd></dl>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<em style="margin: 0px; padding: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px;">CC:</strong> Acemoglu e Robinson argumentam também que o passado determina as instituições e políticas do presente, mas é possível remodelá-las no rumo de um futuro melhor. Eles citam exemplos, inclusive do Brasil, em que as formas de relações entre colonizadores e colonizados definiram o que seriam as nações. Aquelas com instituições mais inclusivas, que permitiram a ascensão de um número maior de indivíduos, obtiveram mais sucesso. O senhor concorda com o argumento?</em></div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<strong style="margin: 0px; padding: 0px;">FC:</strong> Eu concordo. Existe um debate acadêmico muito intenso sobre até que ponto esse aspecto institucional explica as diferenças entre os países. Isso é algo ainda em aberto e faz parte do meu trabalho acadêmico, mas, de forma geral, me parece bastante persuasiva a ideia de que o ambiente institucional e o grau de inclusão da proteção do direito de propriedade é fundamental para entender o desempenho econômico dos diferentes países.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Essa visão enfatiza fortemente o legado histórico, a ideia que você mencionou de diferentes tipos de colonização terem consequências que persistem ao longo do tempo. Em outras palavras, se o sistema colonial foi implantado de forma a proteger os direitos de propriedade da população como um todo, ou de uma minoria, de uma elite reduzida.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Isso importa, mas não é um destino incontornável. A história condiciona as escolhas sociais disponíveis, contudo há formas de mudar e existem lições importantes aí para o debate político no Brasil.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<em style="margin: 0px; padding: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px;"></strong></em></div>
<dl class="image-left captioned" style="float: left; margin: 0.5em 1em 1em 0px; padding: 0px; width: 266px;"><em style="margin: 0px; padding: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px;">
<dt style="margin: 0px; padding: 0px;"><a href="http://www.cartacapital.com.br/revista/893/deficit-humano/heranca" rel="lightbox" style="border-bottom-style: none; color: black; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;"><img alt="Herança" class=" lazyloaded" data-src="http://www.cartacapital.com.br/revista/893/deficit-humano/heranca/@@images/5e8111c0-1c45-4c28-8e91-0942f23853c1.jpeg" height="400" src="http://www.cartacapital.com.br/revista/893/deficit-humano/heranca/@@images/5e8111c0-1c45-4c28-8e91-0942f23853c1.jpeg" style="border: 1px solid rgb(221, 221, 221); height: auto; margin: 0px; max-width: 100%; padding: 0px; vertical-align: text-bottom;" title="Herança" width="266" /></a></dt>
<dd class="image-caption" style="color: #666666; font-size: 13.6px; line-height: 1.6em; margin: 0px 0px 1em 2em; padding: 0px 0px 0px 3px; width: 266px;">A herança do Brasil Colonial e aquela da Declaração da Independência dos EUA condicionaram opções sociais distintas (Foto: Debret e Deagostini)</dd></strong></em></dl>
<em style="margin: 0px; padding: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px;">CC:</strong> O <a class="external-link" href="http://www.cartacapital.com.br/politica/bolsa-familia-corte-jogaria-8-milhoes-na-extrema-pobreza-diz-ministerio-8565.html" style="border-bottom-style: none; color: black; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank" title="">Bolsa Família</a> está no centro das discussões políticas e econômicas no Brasil, representa uma política pública inclusiva e centraliza também o debate entre os graus de intervenção do Estado para garantir direitos, algo que o mercado, por si, não permite. Qual é a sua opinião sobre esse assunto?</em><div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<strong style="margin: 0px; padding: 0px;">FC:</strong> Há dois aspectos a considerar, na minha opinião. Um deles é o Bolsa Família enquanto política que se propõe a distribuir renda e compor uma rede de proteção social. Acho que há, em larga medida, um consenso entre os especialistas, independentemente dessa caricatura negativa no Brasil, de que é um<a class="external-link" href="http://www.cartacapital.com.br/politica/wikileaks-bolsa-familia-e--e2-80-9cquase-direito-sacrossanto-e2-80-9d-no-brasil-diz-telegrama" style="border-bottom-style: none; color: rgb(173, 27, 30) !important; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank" title=""> triunfo de política pública</a> para além do debate de quem o criou. É triste que isso se perca no debate político, ao invés de se reconhecer que esse é um triunfo do Estado Brasileiro.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
É um programa meritório, pois atinge os indivíduos que realmente precisam, é relativamente pouco custoso do ponto de vista operacional, gera poucas distorções econômicas e nós, economistas, somos a favor de se distribuir renda concedendo dinheiro de fato, dar a oportunidade de os cidadãos <a class="external-link" href="http://www.cartacapital.com.br/892/nivelar-o-consumo" style="border-bottom-style: none; color: rgb(173, 27, 30) !important; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank" title="">gastarem como bem entenderem</a>. Outro aspecto tem a ver com as implicações institucionais de políticas como o Bolsa Família, ou seja, como a redistribuição de renda afeta a distribuição do poder político.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
No Brasil, desde a redemocratização há uma relação entre renda e a participação no poder político a refletir que, quando se distribui renda, se dissemina também a consciência de que alguém informado pode participar mais efetivamente do resultado desse processo.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Por que ninguém questiona hoje o <a class="external-link" href="http://www.cartacapital.com.br/politica/bolsa-familia-corte-jogaria-8-milhoes-na-extrema-pobreza-diz-ministerio-8565.html" style="border-bottom-style: none; color: rgb(173, 27, 30) !important; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank" title="">Bolsa Família</a>? Porque não se pode ser contra esse programa e ganhar uma eleição. Isso ilustra uma dinâmica institucional positiva no sentido de olhar o Brasil num prazo longo. Eu acho que há um fortalecimento institucional que anda de mãos dadas com a necessidade de inclusão no nosso País.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<em style="margin: 0px; padding: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px;">CC:</strong> O que falta para o Brasil avançar na inclusão? Seria uma democratização em termos de capital humano?</em></div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<strong style="margin: 0px; padding: 0px;">FC:</strong> O Brasil tem há séculos uma deficiência em termos de capital humano, mas houve ganhos na área do ensino básico e redução do analfabetismo nos últimos anos, ainda que exista um gargalo gigantesco em relação à qualidade da educação, extremamente baixa, e isso limite a produtividade.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Mas essa é a parte difícil. Até pouco tempo atrás, eu achava que o Brasil tinha se graduado em termos de <a class="external-link" href="http://www.cartacapital.com.br/economia/ideias-para-uma-reforma-tributaria" style="border-bottom-style: none; color: rgb(173, 27, 30) !important; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank" title="">política econômica</a>, em relação ao combate à hiperinflação e o início do desenvolvimento macroeconômico.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Parecia o momento de se fazer escolhas difíceis, ou seja, onde vamos investir, como investir em capital humano, etc. Infelizmente, voltamos um pouco ao mundo da UTI, de pensar como vai ser feito o trabalho do crescimento econômico, e o capital humano é uma parte fundamental disso, sem dúvida.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<em style="margin: 0px; padding: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px;"></strong></em></div>
<dl class="image-left captioned" style="float: left; margin: 0.5em 1em 1em 0px; padding: 0px; width: 266px;"><em style="margin: 0px; padding: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px;">
<dt style="margin: 0px; padding: 0px;"><a href="http://www.cartacapital.com.br/revista/893/deficit-humano/bolsa-familia" rel="lightbox" style="border-bottom-style: none; color: black; margin: 0px; outline: none; padding: 0px; text-decoration: none;"><img alt="Bolsa-Família" class=" lazyloaded" data-src="http://www.cartacapital.com.br/revista/893/deficit-humano/bolsa-familia/@@images/c6a195df-0a77-4b0b-9915-a1b0705c3806.jpeg" height="400" src="http://www.cartacapital.com.br/revista/893/deficit-humano/bolsa-familia/@@images/c6a195df-0a77-4b0b-9915-a1b0705c3806.jpeg" style="border: 1px solid rgb(221, 221, 221); height: auto; margin: 0px; max-width: 100%; padding: 0px; vertical-align: text-bottom;" title="Bolsa-Família" width="266" /></a></dt>
<dd class="image-caption" style="color: #666666; font-size: 13.6px; line-height: 1.6em; margin: 0px 0px 1em 2em; padding: 0px 0px 0px 3px; width: 266px;">O Brasil tem há séculos uma deficiência em termos de capital humano, apesar dos avanços recentes (Foto: Edson Silva/Folhapress)</dd></strong></em></dl>
<em style="margin: 0px; padding: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px;">CC:</strong> Há quem diga que o Brasil comemorou em excesso o bom desempenho no início deste século e agora exagera na autocrítica, neste momento de crise.</em><div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<strong style="margin: 0px; padding: 0px;">FC:</strong> Houve uma euforia exagerada naquela época e parece que falamos de muito tempo atrás, mas trata-se de três ou quatro anos. Existia um clima de otimismo exacerbado, do “dessa vez é diferente”.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Se agora existe um pessimismo exagerado, é difícil avaliar no calor do momento, mas acho que parte do sentimento negativo de agora vem um pouco da decepção de ter-se deixado levar e de se imaginar como imune a qualquer surpresa.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Sob a ótica do “copo meio cheio, meio vazio”, entretanto, existe agora uma expectativa negativa um tanto exagerada. Parte da reação aos escândalos de corrupção é de um grau de amadurecimento institucional notável.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<em style="margin: 0px; padding: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px;">CC:</strong> Haveria no Brasil uma insistência em discutir se o Estado deveria intervir mais ou menos na economia, em vez de se debater quais são os benefícios e custos de cada intervenção?</em></div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<strong style="margin: 0px; padding: 0px;">FC:</strong> Num sentido meio trivial, sim. Seria necessário avaliar as intervenções em termos de política e verificar se os benefícios superam os custos, e apenas insistir naquelas que passam nesse teste. É preciso, no entanto, tratar a avaliação daquelas políticas como uma parte essencial desse processo, que ainda não ocorre.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Quando você implanta alguma intervenção, como uma participação do BNDES, qual a avaliação, quais os seus efeitos em detalhes? Quando as escolhas são feitas, com ou sem intervenção, tem-se custos e benefícios. Isso é fundamental, mas perde-se de vista, muitas vezes, no Brasil. Todos são favoráveis à melhora da educação, mas, para isso ocorrer, existirão custos.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Haverá necessidade de mais recursos, eles terão de vir de algum lugar e é isso que não se leva em conta, frequentemente, no debate político no Brasil. Passa-se a crer num mundo mágico onde seria possível viver sem ter de fazer escolhas, e essas são, realmente, decisões muito difíceis. Não há qualquer medida que cause só efeitos positivos.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<em style="margin: 0px; padding: 0px;"><strong style="margin: 0px; padding: 0px;">CC:</strong> No Brasil, discute-se a necessidade de uma reforma da previdência e diz-se que direitos dos trabalhadores serão restringidos pelo governo. Qual a sua opinião sobre essa reforma?</em></div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<strong style="margin: 0px; padding: 0px;">FC:</strong> O Brasil gasta em previdência o mesmo que a França ou o Japão, mas estes são países mais ricos e com população mais velha. Não se pode esperar que um país no qual os trabalhadores se aposentam aos 50 e poucos anos cresça a uma taxa anual de 4% ou 5%.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
Indivíduos que contribuíram com a expectativa de se aposentar com determinada idade, após a reforma, não poderiam mais fazê-lo. É possível defender determinadas políticas, mas é preciso ser honesto em relação às escolhas.</div>
<div style="margin-bottom: 1em; padding: 0px;">
<em style="margin: 0px; padding: 0px;">*Publicado originalmente na edição 893 de CartaCapital, com o título "Déficit humano"</em></div>
</div>
</div>
Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-74269727523339613862016-03-03T11:02:00.001-08:002016-03-03T15:42:29.865-08:00<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
<h2>
<span style="font-weight: normal; line-height: 24px;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: x-large;">E FEZ-SE A DIVERSIDADE</span></span></h2>
<span style="line-height: 24px;"><br /></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<div style="text-align: center;">
<img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQgD-m5JG9JxDqLeZBxE3jImn0_JP72s0ubJdjSE6fVduK50k-xM5ofRkhu0JEbIZ4mpPo939Q0cWAnFG3yYV6DILL6ZoiCmX9Ueh8UfCMHbrnqPx29LnnzNKlzpeTaGFXBy5IJzTtgko/s1600/Primeira+mulher+motorista+de+t%C3%A1xi+em+Nova+York+(anos%2B20%2Bdo%2Bs%C3%A9culo%2BXX)..jpg" /></div>
</div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: #232629;"><span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #232629;">Nos
últimos tempos temos seguido tanto a palavra diversidade, nos
aplicando a percebê-la em todos os contextos e situações da vida
pública e privada, no entanto ao mencioná-la estamos quase sempre
mais voltados para uma expressão </span><span style="color: #232629;"><i>p</i></span><span style="color: #232629;"><i>arodoxon
flacus</i></span><b><span style="color: #232629;">.</span></b><b><span style="color: #333333;">
</span></b><span style="color: #333333;">Um
paradoxo da estupidez, pseudo-paradoxo ou paradoxo do mal:
contradição auto anulativa, pode se aplicar, por exemplo, a
afirmações que se contradizem ou conceitos contrários em anulação
mútua, não presentes na natureza, mas inerente ao homem.</span><span style="color: #232629;">
Foi como um desses paradoxos que se anunciou que somente em 2133 as
mulheres receberão remuneração igual a dos homens. Este é um dado
lamentável que vem de Davos – encontro mundial para discutir as
principais economias globais e seus rumos. Levar-se-á ainda 118
anos, a contar da publicação no </span><span style="color: #232629;"><i>Global
Gender Report</i></span><span style="color: #232629;">
2015, para que a mulher </span><span style="color: #232629;">possa
</span><span style="color: #232629;">obter
equivalência salarial, ainda que em muitos aspectos ela apresente
desempenho superior. </span>
</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br />
</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #232629;">Em
que pese o número maior de mulheres nas universidades na maioria dos
países, nos 145 analisados pelo estudo; destes houve aumento
significativo de 22% da desigualdade, mesmo diante das conquistas
anteriores os avanços se mostraram tímidos, não se confirmaram ou
foram sordidamente obliterados. É o caso do Brasil, que caiu 14
posições no ranking, só em 2015. Esses dados, além de revelar um
preconceito criminoso, as mulheres sendo tratadas como cidadãs de
segunda classe, demonstra a inabilidade latente do mercado em lidar
com o desenvolvimento econômico como ferramenta para promover
riquezas e em consequência bem-estar entre os gêneros. Amartya Sen,
ao discutir “a relação entre rendas e realizações, entre
mercadorias e capacidades, entre nossa riqueza econômica e nossa
possibilidade de oportunidade de participação no comércio e na
produção”, defende que estas podem ajudar a gerar a abundância
individual, além de recursos públicos para os serviços sociais. E
mais importante: “</span><span style="color: #232629;"><i>Liberdades
de diferentes tipos podem fortalecer umas às outras</i></span><span style="color: #232629;">”
(grifo nosso). </span>
</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br />
</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #232629; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Este
é o ponto a que queríamos chegar: a perpetuação do afastamento da
mulher dos locais de geração e multiplicação de riquezas em uma
análise macroeconômica mesmo, que envolve mercado e mais valia como
aspectos que fazem a roda da economia girar. É no mínimo um
desperdício de conhecimento, energia, criatividade e inventividade
que retoma a tão propalada diversidade. E que delírios de grandeza
nos apartam dela? Um hemisfério direito, ou esquerdo? Cultura?
Educação? O que impede que sejamos apenas mulheres e homens
produzindo? Tomando decisões? Ou que tipo de pensamento envolve o
cenário da tomada de decisões, que define vidas, possibilidade,
quanta liberdade individual há na tomada de decisão? Falta a
semântica da diversidade. Que ela fosse, talvez menos branca, menos
heterossexual, masculina, europeia, não viveríamos, quem sabe,
tempos incertos, com relação à diplomacia entre nações; não
viveríamos inúmeras diásporas, genocídios por meio da fome, por
doenças do atraso a que são submetidas populações inteiras que
não têm acesso a bens essenciais à vida, como é o caso dos
recursos naturais.</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br />
</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #232629;">Fosse
a tomada de decisões mais diversa e revezada, inclusive em seus
aspectos mais elementares e básicos, a exemplo das câmaras de
vereadores – em Palmas, cidade onde moro, não se esboça nem mesmo
a silhueta de uma vereadora entre integrantes da casa, onde, em pleno
cerrado, a língua oficial e as leis soam como em latim –, nas
secretarias estaduais, nas presidências de sindicatos, entre os
grandes executivos de transnacionais, estas, inclusive, que ditam
políticas e modos de vida mundo afora, sem nunca considerar a vida
que levamos. Como seríamos sem o seu duvidoso apreço oficial?
Justos e alegres pelo mundo, tendo, de fato, como riqueza, a
qualidade de vida, o bem-estar social, o desenvolvimento humano. Um
mundo onde </span><span style="color: #232629;"><i>as
liberdades de diferentes tipos fortaleçam umas às outras</i></span><span style="color: #232629;">.</span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 0.85cm; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #232629; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Juliete
Oliveira</span></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #232629;">Palmas-TO,
0</span><span style="color: #232629;">3</span><span style="color: #232629;">
de março de 2016</span></span></div>
<div align="justify" style="line-height: 100%; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #232629; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="color: #232629; line-height: 100%;">Imagem: </span><span style="color: #232629;"><span style="line-height: 16px;">http://memorias-de-taxistas.blogspot.com.br/p/a-mulher-e-o.html</span></span></span></div>
<div style="line-height: 0.85cm; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-30446500819246699382014-07-29T09:45:00.001-07:002016-03-03T15:46:23.361-08:00Inhotim Escola - Peter Pál Pelbart<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="//www.youtube.com/embed/Y0HsdnXxcF4" width="480"></iframe>Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0Palmas - TO, República Federativa do Brasil-10.249091 -48.324285799999984-10.4990865 -48.647009299999986 -9.9990955 -48.001562299999982tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-50373504530029849012013-09-23T09:02:00.001-07:002016-03-03T16:07:53.129-08:00Onde foi que perdi minhas imagens pisoteadas?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUPfGWuaAsx-0VPITlfiTh5NHjHhR7NmedLYGVi82oTAFzdWFkpnKC-TUJLvGqn97vKRpRqF_R0tmVRkERFfUL48gLem5zdKnbqsyz60GhYHufUywl7CY-36IVxLq1hUcyMOFhgBSeYTlp/s1600/Dorothy+Stang.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUPfGWuaAsx-0VPITlfiTh5NHjHhR7NmedLYGVi82oTAFzdWFkpnKC-TUJLvGqn97vKRpRqF_R0tmVRkERFfUL48gLem5zdKnbqsyz60GhYHufUywl7CY-36IVxLq1hUcyMOFhgBSeYTlp/s1600/Dorothy+Stang.jpg" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;">
<i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">À Tarsila Estrela e Francisca Barros<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Conheci alguém que me falou muito de ti, do teu gosto
pela ajuda, da crescente necessidade em promover o bem, a preocupação com a
melhora, o avanço, a educação do outro..., pena que não te deixaram cumprir
tudo que planejara, no meio do caminho tinha uma “bala”, como no poema do
Carlos Drummond de Andrade havia uma “bala”, mas ao revés do poema que serviu ao
Drummond como amplitude e argumento a pedra te calou, atravessou as coronárias
colocando por terra um estuário de possibilidade, junto com ele quem poderá
dizer o que mais? Ficamos apenas a conjecturar que se, por aqui estivesses... A
Terra do Meio não seria apenas o lugar que assistiu o teu sangue ser derramado,
por onde as árvores se alimentaram do teu magma e hoje guardam na memória de
suas seivas os teus brancos cabelos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Cheguei mesmo a visitar-te, agora no túmulo em que te
colocaram entre as árvores. Muitas são as pessoas que duvidam da tua
permanência ali! É assim mesmo, de tão assombrosos alguns fatos se tornam lenda,
mito! Agora promovem julgamentos para o teu retrato, é só o que se pode sob a atmosfera
do entorpecimento, é certo que aqueles que apertaram o gatilho, e não se iluda
não foi apenas um, ou dois, foi todo um município, um estado, um país, esse
mesmo que vêm continuamente apertando o gatilho contra as vozes dissonantes em favor
dos que sequer podem ter voz. Como na canção de James Blunt: <i>Tem crianças paradas aqui, / Braços
estendidos para o céu, / Lágrimas secando nos seus rostos. / Ele esteve aqui. /
Irmãos enterrados em covas rasas, / Pais perdidos sem deixar vestígios. / Uma
nação cega para sua desgraça. / Desde que ele esteve aqui. </i>Leiam Estado! Um
nome que o silêncio e as paredes me repetem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Por seis meses a tua presença foi muito forte entre as
minhas ideias, não que a abandono agora, enfim posso respirar melhor, me afastando
dos teus restos mortais. Fui paralisada, como todos ali. Como nos enraizamos
dia a dia, num canto do mundo. Anapu é apenas um lugar para onde rumastes assim
como eu, oito, ou nove anos depois da tua involuntária partida, estando ali,
pouco ou quase nada pude fazer, a mesma perpetua bala me calou, a bala da
necessidade de se manter vivo, de sustentar a família, de não ser
inconveniente, de ter medo, de ser pouco, ou quase nada, de não ser louco, de
não ser ridículo, de... de... Quantos argumentos são possíveis retirar do
contexto em que toda a região do Xingu vive hoje? <i>“</i><i><span style="line-height: 150%;">Lá estávamos nós / Olhando para alguns países pela
janela / E embora tenhamos nossos problemas, ficamos bem / O céu estava azul e
a noite foi tudo que eu queria / Deixe-me ser o seu cometa, eu voarei” </span></i><span style="line-height: 150%;">Brandon
Flowers<i>, Jacksonville. </i>Tive abrigo,
para além de todas as casas que busquei habitar, foi possível perseguir, isolar
uma essência intima e concreta para o valor singular de nossas imagens comuns.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Voaremos, sempre cotaremos com a onírica
possibilidade de Ícaro, o distanciamento é por fim, mais saudável. Ou ainda, é
tudo que nos resta afogados pela ininterrupta chuva, afinal a mata precisa dos
índices pluviométricos e as hidroelétricas também, mesmo que o recurso da
energia elétrica não seja direito de todos, assim como não é direito de todos
continuarem vivos e gozando de liberdade, observando a chegada das estações, ou
sentindo o orvalho da manhã, o que são trinta anos, se grande parte deles serão
fora do encarceramento<i>? “Agora Cinderela,
não vá dormir / É uma forma azeda de se refugiar / Oh você não sabe, o reinado
está sitiado / E todo mundo precisa de você / há ainda magia no sol da
meia-noite? / ou você deixou isso em 61? / na cadencia dos olhos do jovem homem
/ eu não sonharia tão alto”.</i> Brandon Flowers, </span><i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A Dustland Fairytale.</span><span style="font-family: "arial" , sans-serif; font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Juliete Oliveira<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 150%; text-align: justify;">Marabá-Pa, setembro de 2013</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 150%; text-align: justify;"><br /></span>Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-15370765752105807382013-04-22T11:15:00.001-07:002013-04-22T11:15:16.770-07:00Quem é Eve Ensler?<a href="http://umbilhaoqueseergue.blogspot.com.br/2012/11/quem-e-eve-ensler_1.html"><span style="color: white; font-size: large;">Quem é Eve Ensler?</span></a><br />
<div class="post-header">
<div class="post-header-line-1">
<span style="color: white; font-size: large;"></span></div>
</div>
<div class="post-body entry-content" id="post-body-168991203492726452" itemprop="description articleBody">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUEhpgeu09E50F5VeEKSHYCO02GEK7k4eRhvzexAbnC82BgVO6UbZKzGy48xUrMQNBHewgNW-TfG40uk0UtuizVwrdVDJGOgZNuiuOCbcgJENAPgcLHAKvN2OoG5iTVN9u9pigZD8yEnMr/s1600/eve-ensler.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: white; font-size: large;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUEhpgeu09E50F5VeEKSHYCO02GEK7k4eRhvzexAbnC82BgVO6UbZKzGy48xUrMQNBHewgNW-TfG40uk0UtuizVwrdVDJGOgZNuiuOCbcgJENAPgcLHAKvN2OoG5iTVN9u9pigZD8yEnMr/s320/eve-ensler.jpg" width="208" /></span></a></div>
<br /><br /><div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
<span style="font-size: medium;"><span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"><br />Nasceu em 25 de maio de 1953 em Scarsale, no estado de Nova York (EUA). F<span lang="pt">eminista, escritora e artista, Eve Ensler </span>é uma das personalidades mais importantes do mundo do teatro e tem uma longa militância como uma ativista pelos direitos das mulheres. Sua obra mais importante, Os Monólogos da Vagina (<a href="http://umbilhaoqueseergue.blogspot.com.br/#" id="_GPLITA_0" in_rurl="http://i.trkjmp.com/click?v=QlI6OTY2Mzo0MTpwcmVtaWFkbzpkYjFlYmM3ZGMwNDdiZGI2YjNkYmFkM2VlZWRkODE0Njp6LTEzMzUtMTcwMDU3OnVtYmlsaGFvcXVlc2Vlcmd1ZS5ibG9nc3BvdC5jb20uYnI6MzYwOTk6OTlkOWJlYWQzYjcxMmJkOTU5NzI1NzY5NzU5MmRkMzU" style="text-decoration: underline;" title="Click to Continue > by Text-Enhance"><span style="color: red;">premiado</span></a> em 1997, o prestigiado prêmio Obie), foi traduzido para 48 idiomas e trouxe para o palco com grande sucesso em 120 países na Broadway (de estrelas como Susan Sarandon, Glenn Close, Melanie Griffith e Winona Ryder), Londres (Kate Winslet e Cate Blanchett), na Itália (entre outros por Lella Costa, Lucia potties, Lucrezia Lante della Rovere, Cenci Athina). A partir desse ato nasceu o movimento V-Day, movimento ativista global para acabar com a violência contra mulheres e meninas.<br />Ela se formou em Middlebury <a href="http://umbilhaoqueseergue.blogspot.com.br/#" id="_GPLITA_2" in_rurl="http://i.trkjmp.com/click?v=QlI6MjgyODU6MTg6Y29sbGVnZTpkOWQyM2Q1NDc0YTVlNzczY2E5ZTc5ZjFjMzU4YWY3NTp6LTEzMzUtMTcwMDU3OnVtYmlsaGFvcXVlc2Vlcmd1ZS5ibG9nc3BvdC5jb20uYnI6MDow" style="text-decoration: underline;" title="Click to Continue > by Text-Enhance"><span style="color: red;">College</span></a>, no ano de 1975, com uma tese sobre o suicídio na poesia contemporânea, foi uma forma de superar o trauma sofrido aos 10 anos por causa de abuso sexual e físico por parte de seu pai.</span></span></div>
<span style="font-size: medium;"><span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"><div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
<br />Casou-se em 1978 com Richard McDermott, de quem se divorciou em 1988. Mãe adotiva do ator Dylan McDermott, que ela adotou quando ele tinha 15 anos e ela tinha 23 anos. Bissexual declarada, Eve vive atualmente com seu parceiro Ariel Orr Jordan, que é também o seu psicoterapeuta em Nova York, onde ensina escrita dramática na Universidade de Nova York. <br />Em todas as suas obras, o autor oferece espaços valorizados e incomuns de maturidade e crescimento para a consciência feminina. Além disso, Ensler, em sua tentativa de levar as mulheres para uma nova descoberta de si mesmas, também se destina a orientar os homens para o respeito pelas mulheres</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
Originalmente publicado no Blog: Um Bilhão que se Ergue / <a href="http://www.blogger.com/profile/09994638705481041992">http://www.blogger.com/profile/09994638705481041992</a></div>
</span><div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
</div>
</span><div class="MsoNormal" style="line-height: normal;">
</div>
</div>
Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-25686267840204251022013-04-17T11:32:00.001-07:002016-03-03T10:24:30.019-08:00Não dá mais pra segurar...<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNWQoMviSeilKe7ARzn4dPyW0qU0EZol2wH7NP-vgrvic0E187PTEcN6LcwAaznEZKXiHFlmnJ_j7HAsEgItmlx9nSNQy_8sx9K2mqfxVK25ax0JP2gTJmVW2hOp34nsMsaOAZkMpAx566/s1600/Shutterstock.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNWQoMviSeilKe7ARzn4dPyW0qU0EZol2wH7NP-vgrvic0E187PTEcN6LcwAaznEZKXiHFlmnJ_j7HAsEgItmlx9nSNQy_8sx9K2mqfxVK25ax0JP2gTJmVW2hOp34nsMsaOAZkMpAx566/s400/Shutterstock.jpg" width="400" /></a></div>
<br /><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Poucas coisas me tiram a voz, verborrágica que sou. No entanto na semana que passou um episódio me fez a voz morrer na garganta, emudeci, tal foi o grau de assombro que a cena causou, sei que não fui a única a se sentir assim, muitas pessoas devem ter compartilhado do mesmo sentimento de indignação, revolta e impotência. A cena a que me refiro é do renomado artista Gerald Thomas enfiando a sua mão dentro do vestido de uma apresentadora de TV (aberta sic!) e submetendo a moça a tantos outros constrangimentos. Mas absurdo ainda foi as explicações da apresentadora: “por ele ser gay não dei importância”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A que ponto chegamos? Não sou público do programa em questão, mas, já que o fato tomou relevância e foi divulgado em outros veículos, impossível foi não se estarrecer com ele. Recentemente a violência contra a mulher foi classificada pela ONU como uma pandemia, segundo o estudo divulgado na semana do dia 08 de março, sete em cada dez mulheres no mundo passarão por algum tipo de violência. O que nos revela, ou confirma o absurdo presenciado pela sociedade e que aparentemente não causou grandes constrangimentos, adormecidos que estamos por doses diárias desses absurdos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para Boaventura de Sousa: “para além de ocidental e capitalista, a ciência moderna é sexista. O binômio cultura/natureza pertence a uma longa família de dualismos em que podemos distinguir, entre outros, abstrato/concreto, espírito/corpo, sujeito/objeto, ideal/real. Todos estes dualismos são sexistas na medida em que, em cada um deles, o primeiro polo é considerado dominante, sendo ao mesmo tempo associado com o masculino.” Chegamos assim na visualização desse dualismo com os prejuízos sempre do lado inferir da polarização. O Gênero Feminino. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Brasil padece de uma esquizofrenia de modernidade, tem as leis mais humanistas e avançadas do mundo: Lei de Meio Ambiente, Lei Maria da Penha, Lei das Águas, Lei de Proteção à fauna. Mas a sua capacidade se esbarra na elaboração dos compêndios. Por outro lado, convivemos com a quase inexistência de aplicação dessas Leis, o que se vê, é: Descumprimento da Lei de meio ambiente; 7ª posição no ranking de países com maiores índices de homicídios femininos no mundo; tráfico de animais e extermínio de espécies, contaminação e mau uso da água, país afora, entre tantas outras situações. A impressão que se tem é que o Brasil esgota todos os seus esforços apenas na representação, na figuração: o culto do parecer, em detrimento do ser.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pena, pena mesmo! Fico a pensar em nossas filhas, sobrinhas, irmãs, filhas das amigas e nos nossos filhos, também, que herdam uma nação que não respeita em plenitude os seus filhos, que não age para que se possa respeita-los e amá-los como devem ser amados. Quando me dei a escrever o protesto não parava de pensar na música do Gonzaguinha: “Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder / O que não dá mais pra ocultar e eu não posso mais calar (...) / Não dá mais pra segurar explode coração”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*1 bilhão que Se Ergue – campanha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Juliete Oliveira</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Imagem: ShutterstockJuliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-45118331359001596612013-03-10T08:05:00.001-07:002013-03-10T08:11:12.605-07:00Vocábulos de água<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8UqoOgWKEll1JG3GBg2RAtoz8zUSaPPil5_-UasBzUOFJqRqKY7HQSs2ogjAbwQN8IyH8pbn7oFMgKmClK_zT0tpXC_Gt8ILLM4pZ7hDR4L-JY9yuqwia4AU8S3qHaZyon2hMNAFrWvjP/s1600/S%C3%ADtio+de+poesia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8UqoOgWKEll1JG3GBg2RAtoz8zUSaPPil5_-UasBzUOFJqRqKY7HQSs2ogjAbwQN8IyH8pbn7oFMgKmClK_zT0tpXC_Gt8ILLM4pZ7hDR4L-JY9yuqwia4AU8S3qHaZyon2hMNAFrWvjP/s1600/S%C3%ADtio+de+poesia.jpg" /></a></div>
<div style="border-bottom: solid #4F81BD 1.0pt; border: none; mso-border-bottom-themecolor: accent1; mso-element: para-border-div; padding: 0cm 0cm 4.0pt 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">1.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;">“Certa
manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua
cama metamorfoseado num inseto monstruoso.” A Metamorfose, Franz Kafka</span><o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Eu vi o encontro de Dante com Kafka! Foi um
casual encontro num fim de rua, de uma casa do sertão central, entre um menino
e um livro. Essa visão reuniu ali não apenas duas pessoas, mas dois mundos que
se rastreavam, tendo como bússola sequer a mudança das estações. Aos seis anos,
Dante, o menino, consegue avistar as pegadas lendárias, muito mais como uma
investida que um e outro esperava, e que também a mim me fez conjecturar sobre
novas e intrigantes considerações em torno do que acontece se de repente alguém
se desloca ao lado de um grão de luz. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Eu <i>presente-fiquei</i>
que de todos os entomologistas do século XX, incluído aí Nabokov, ou mesmo
Joyce, Woolf, Faulkner ou Eliot, foi Kafka o que mais radicalmente soube o que
é o ambiente. Ele fez o corpo de um inseto triunfar sobre a obscuridade de
galáxias inteiras prestes a perecer. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tudo está remagnetizado e não consumado!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">E esse ato de ligação entre natureza e animal
como fundamento do ligado, do conectado, do sentir o ambiente a partir de
fluxos que não mais o plasmático, de poder ver não mais com a órbita ocular e sim
com a energia de um corpo de inseto, capaz de explodir o mundo convencional
para fazer florescer ambientes promissores onde seja possível experimentar
fluxos outros que não se ligam apenas por sílabas, silvos, balbucios, onomatopeias.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Voltamos a fazer parte de um mundo em que não
faremos esvaecer essa ondem antiga, tanto da vida real quanto da vida dos
sonhos? Ou alçamos de novo o que não pode ser pego? O que é o território do
invertebrado para o vertebrado? E se as relações entre animal e natureza não
forem mais rigorosamente bilaterais, se já se encontram irrecuperáveis? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Kafka não poderia de forma alguma
apaixonar-se por música ou empreender viagem aos mares do Sul ou a seu ego. Sem
ser afeito à racionalidade, Kafka volta-se para o indizível, ou seja, não
escreve tão-somente livros, sequer ficções. Kafka ultrapassa o contador de
histórias habitual, aquele que tão bem seleciona trechos a que leitores terão
acesso numa livraria de bairro, suas próprias histórias intercaladas aí. Ao contrário
disso, Kafka argumenta, desencadeia ideias, ele mesmo desde sempre “sem poder
mover-se do lugar”, é o mais voraz que pode um escritor, ou para que entendam,
é hardcore: faz Gregor Samsa vislumbrar muito mais do que o mero despertar do
que a todos sufoca e aliena em meio ao “sono agitado” na névoa social
industrializada. O despertar, em Kafka, implica em fazer um novo uso dos fluxos
de percepção e consciência, estes sim a operar a transição a um mundo que se
inventa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sua análise reflexiva a partir de uma nova
experiência do mundo remonta o sujeito a uma condição de possibilidade distinta
e adversa dele mesmo, e empreende uma síntese cultural construída como aquilo
sem o que não haveria mundo. Como objeto do mundo e tendo que suportá-lo como a
uma paternidade nefasta, ele se transveste no incognoscível. Não se transforma
em um vingador, num bom samaritano ou num homem do capital. Transforma-se
naquilo que ninguém, nem o mais desprezível dos indivíduos pensaria em ser. Um
repugnante inseto. Assim, a reflexão arrebata-se a si mesma e se recoloca em
uma subjetividade invulnerável, para além do ser e do tempo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O tempo aqui não é mais senhor de si, e nem
muito menos fator determinante, ele obedece aos círculos próprios do reino à
que o inseto se filia. Crescer aqui poderá não significar “viver”, uma vez que
se trata de um inseto adulto e os deslocamentos próprios do crescimento não
foram experimentados, pois que, num sentido inverso, a cada instante eu
fantasio acerca de coisas como uma criança. Estas coisas estão dentro de nós e
queremos que saiam. Imagino objetos ou pessoas cuja presença aqui não seria
incompatível com o contexto, e, todavia elas não se misturam ao meu mundo. Daí
pensar ter promovido o encontro entre Dante e Kafka, o menino e a lenda, ainda
que se saiba que no decorrer dos fatos, Dante arquitetou tudo a Kafka, criou as
condições geográficas ao desenvolvimento de espécimes como Kafka, pensou o
cimento que daria liga ao universo de seu póstero. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Como experimentar a partir do corpo todas as
sensações do ambiente, senão ao andar sobre filamentos e voar com asas <strong><span style="font-weight: normal;">vestigiais,</span></strong><strong>
</strong>com cabeça que aponta para baixo, quase como se ela tivesse
sido criada para dar marteladas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O corpo do inseto fala também sobre as
sensações atmosféricas, poluição sonora, lixo, da água, das bacias
hidrográficas, vegetação, fauna, e pode ainda falar das concentrações
demográficas, dos diferentes territórios, da desterritorialização, das
diferenças sociais, do mercado de câmbio, da movimentação da bolsa, da produção
de arroz, de soja, da criação de gado, da construção de hidroelétricas,
termoelétricas, usinas nucleares, dos poços de petróleo, da fome, das doenças
de veiculação hídrica, da legislação ambiental, do código florestal, das
florestas ou da inexistência delas, dos desertos, da desertificação, das
calotas polares, do buraco de ozônio, das emissões de gases poluentes, das
pegadas, do trabalho escravo, da questão de gênero, da mortalidade infantil, do
proletariado, da luta pela terra, da luta por pão, por direitos, por direitos
étnicos, dos conflitos de interesse, dos conflitos, da educação,
educomunicação, da alfabetização, do letramento, da questão marítima e de sua poluição,
das chuvas ácidas, dos índices pluviométricos baixos ou altos, das enchentes,
dos desmoronamentos, dos deslocamentos populacionais, da diáspora, dos
terremotos e das placas tectônicas, dos vulcões e dos seus adormecimentos, dos
tsunamis, do conforto visual, atmosférico, ambiental, da ecologia social,
mental e ambiental... O seu corpo não substitui a "teoria periférica"
por uma "teoria central", ele sente com todas as suas conexões
radicais um outro mundo de sustentabilidades. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Se a realidade de minha percepção estivesse
fundada apenas na coerência intrínseca das "representações", ela
deveria ser sempre hesitante e, abandonado às minhas conjecturas prováveis, eu
deveria a cada momento desfazer sínteses ilusórias e me reintegrar ao real,
como um estranho dentro do seu próprio corpo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O pequeno Dante na casa de fim de rua, no
sertão central brasileiro, apalpa as folhas da publicação em que Kafka se
distende em sua <i>endo</i> condição de ver
o mundo. Ler agora, quase cem anos depois, o que Gregor Samsa sentiu
organicamente em sua nova condição de vida e mundo, é para Dante uma brincadeira
de criança: sentar-se quieto e verter os seus efluentes quando tem nas mãos
aquela delirante e tão verdadeira possibilidade. Esta seria a constatação eloquente
da próspera herança da sua invenção, ou os sonos hipnóticos encalham, de fato,
as paisagens perigosas?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">2.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt;">“É proibida a entrada
a quem não estiver espantado de existir.”<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Arial Unicode MS";">(cartaz afixado no muro que separa a aldeia de Chora-Que-Logo-Bebes da Floresta
Branca)<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quando Raquel Carson gerou a <i>Primavera Silenciosa, </i>ela o fez com o
seu corpo para produzir uma fábula para o amanhã... É esta fábula que não se interpreta,
nem se compreende, que constitui a passagem estreita às águas de superfície e mesmo
aos mares subterrâneos: enormes corpos não diferenciados, interligados,
igualmente ameaçados pelo elixir da morte. Que tudo pare um momento, tudo <i>se
</i>cristalize (depois, tudo recomeçará). E no ambiente algo se cristaliza?
Pode ser que sim, pode ser que não. Para uma cigarra o corpo é todo melodia,
existindo para dar sentido a círculos que não pertencem unicamente ao indivíduo
cigarra, seus conectores demasiadamente ligados, uma vez que os objetos
parciais, são ainda, demasiado orgânicos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A cigarra existe única e exclusivamente para
ser um contralto, como Raquel em um mundo idealizado por Kafka pode ser
ofendida pelos outros habitantes através de suas criações químicas de defesa?
Justamente porque seu corpo de inseto pleno, sem órgão de anatomia humana, é
improdutivo, estéril a outras funções que não o canto que anuncia coisas
necessárias como a primavera, nesta condição de cigarra ela é mesmo o
engendramento, o inconsumível. Quem precisa de cigarras? De seu ensurdecedor
canto renitente? De sua melodia para afetar formigas? Toda uma rede de
possibilidades ambientais, uma emoção, uma circunstância. O corpo sofre por
estar assim organizado. Sair dos reinos do solo, ganhar asas e na copa das
árvores, onde emiti um som para atrair a fêmea e depois gerar vida. Existe aqui
um condicionamento para esse corpo, uma pré-condição, um existir entre grades,
quais as chances de defesa no ambiente de uma cigarra? O silêncio implacável. Quando
nem mesmo os pássaros cantam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O que foi Kafka para a cigarra Raquel? O
enxofre, a criação surreal de todos os produtos sistêmicos em uma tela de Dali,
ou Bosch, sem Kafka as cigarras simplesmente existiriam independente de sua
prisão corpórea. O que exclui a hipótese de uma verdadeira anestesia e sugere a
de uma recusa da deficiência é Raquel existir e ser cigarra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">No território em que coexistem baratas,
besouros e cigarras aí também é o território da educação, seja ela ambiental,
social, patrimonial, para a água, para os gases, venha com que vestimenta vier,
aqui cada atomozinho que seja faz parte da mesma complexidade, corrobora para
os mesmos resultados, sejam danosos ou não ao seu meio comum. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Num ambiente em que a água gera mais
expectativa do que em outros lugares do planeta, representando não propriamente
a vida, mas a inexistência dela, a pedra deverá para o corpo também ser água,
inseto, energia, tudo mais tarde restituído ao carbono que seremos. Aqui se vai
ver como os fatos são ambíguos, e toda experiência animal, vegetal e mineral
são cruciais e nenhuma explicação é definitiva. Agora devo pensar com o meu
corpo constituído de toda matéria frente os grandes discursos da complexidade, muitas
vezes esvaziados de corporeidades, da energia que faz a roda da fortuna não
parar de se mover. Seremos refém desse movimento? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O jogo entre Dante e Kafka continua, Raquel
entrou no jogo, cada um ao seu modo, antecipando informações que gerarão e geram
mais informação, repercutem, esgarçam os tecidos dos ambientes, provocam. Os
dois primeiros estiveram presentes em muitos debates nos centros do
conhecimento no último século; ela alimentou o cerne de uma comoção mundial na
busca por resposta de como viver em harmonia. Será possível? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quem agride quem, homem ou natureza? Quem é
mais predador? Quem devora quem? Quem tem direito sobre o outro? Absolutamente
todos os campos do conhecimento se envolveram com a cigarra Raquel tanto quanto
nenhum centro de filosofia mundo a fora pôde abrir mão de reconhecer a existência
do demônio Dante e do inseto Kafka. Mas que ninguém se engane, isso não tem
nada ver com êxito ou sucesso. O que isso sugere são somas, números e ter
sempre alguém a apertar os botões das engrenagens do mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Falta a esse jogo um integrante, que se
deverá acrescentar aqui, um poeta local, mas fora do lugar, sobretudo porque
não quis ser apenas mais um lírico interessante, mas aquele que será capaz de
visualizar as relações espaciais entre os objetos e de seus caracteres
geométricos com um olhar de cão, mas não qualquer cão, um vira latas, um que se
danou, que viveu num bolso de rio, numa cova, sem plumas poéticas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">3.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">“Você
gosta desse jardim que é seu? Evite que os seus filhos o destruam!” Sob o
Vulcão, Malcolm Lowry<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“O verbo ser, misto de atribuição e de
afirmação, cruzamento do discurso com a possibilidade primeira e radical de
falar, define a primeira invariante da proposição, e a mais fundamental. Ao
lado dele, de uma parte e de outra, elementos: partes do discurso ou da “oração”.
Essas regiões são ainda indiferentes e determinadas apenas pela figura tênue,
quase imperceptível e central que designa o ser; funcionam, em torno desse
“julgador”, como a coisa a julgar — o <i>judicande</i>,
e a coisa julgada — <i>o judicat</i>.” (Michel Foucault, <i>As Palavras e as Coisas</i>). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">Nesse único livro
João Cabral de Melo Neto trata a linguagem como visceral (oposição a cerebral),
o estômago do cão a se revirar e revoltar-se com o meio. A farejar irresoluto
qualquer possibilidade. No nordeste uma geomorfologia do ambiente é toda árida
para o cachorro, ele não é como os outros animais ditos “adaptados”, capazes de
se transfigurar em outras coisas para resistir aos inclementes meses de sazonalidade
radial que os afronta. É aí que o cão como um rio se distende. Ele é todo faro,
penetra fundo na terra em uma adesão que possibilita compensar as oscilações
climáticas, seu corpo adquire um poder precioso sobre os obstáculos, mesmo que
esse poder não seja total; ele é sim coberto por fragilidades, externalidades
que o expõe mais que a um calango – pele grosa, escamosa mesmo, enfrenta os
espinhos da caatinga como couraça –, mas para o cão do semi-árido “perceber” já
é envolver de um só golpe todo um devir de experiências num presente que, a
rigor, não o garante nunca. Vivo até quando? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">Volto, repenso:
como os rios pode um cachorro ser intermitente? Se permitir desaparecer na seca,
reaparecer no inverno? E qual a regularidade do ser vivo para a inclemência das
estações aqui? Existem certezas nesse mundo em geral, mas não das coisas em
particular. Aqui é a coisa em particular que faz toda a diferença.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-weight: bold;">O ventre triste do
cão atravessa incólume pequenos vilarejos, um quilombo, um assentamento. Ele
mesmo não tem assento em parte alguma. Pode por vezes se deter no vôo impreciso
de uma borboleta e admirar-lhe as asinhas ligeiras, o colar furta-cor a lembrar
do arco-íris, as belas flores da catingueira formando alamedas imensas, quase
como se fossem dar voltas à terra em uma brincadeira infantil de carrossel – ou
ainda, um rio caudaloso de amarelo forte, um quadro, uma pintura, um filme. Há
um esgotamento, uma fadiga aí, mas já houve épocas piores e muito mais terríveis.
Dessa vez ainda, se comparado ao rio, pode o cão, como a paisagem, adquirir transfiguração,
transmutar-se – resistir à extrema carência de tudo ali ser.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: ArialMT;">A postura
política patriarcal que guiou certa literatura social e as cartografias
geopolíticas expressas a partir das <i>casas-grandes</i>
e <i>senzalas</i>, menos do que um pensar e
mais um indagar que em nada altera a rotina e ainda mais zelam pelo patrimônio
tradicional de seus salões e vastas propriedades, chegariam ao fim algum dia
também para ele? Se é que se pode admitir a um cão sentir ou raciocinar,
tivesse o cão um chão, um lugar algum seu que não aquele de outro dono e de
tanta disputa <i>presente-ficado</i> pela
cadela Baleia: </span><i><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">“Olhou-se de novo, aflita. Que lhe estaria
acontecendo? O nevoeiro engrossava e aproximava-se. Sentiu o cheiro bom dos
preás que desciam do morro, mas o cheiro vinha fraco e havia nele partículas de
outros viventes” (Graciliano Ramos, Vidas Secas). <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-style: italic;">Ter saído de um
parto como os outros mamíferos da terra não lhe confere nenhuma vantagem, ou
privilégio. </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É a este corpo que será preciso proteger, de um modo
quase médico. Com o branco da lucidez médica, da higiene médica, mas esse parto
é ainda mais extenso, fluente, povoado – é preciso proteger também no Nordeste,
o que é Brasil, as pessoas, os vultos quase que elas são. Pelo que o cão serve
a esse papel de guardar o outro, os bens, e expor a si, como aquele que não
terá nada a perder. Inclusive esse é o jogo que há séculos se joga com
habilidade no Nordeste brasileiro: o perde-ganha, e invariavelmente mais que se
perde.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Para o clima, para a tempestade, para o sol,
para o sal, para o solo, para a água... Ah! Para a água. O ar também meio
perdido do nordestino. Para a vontade política ou para a ausência dela, para as
frentes de serviço, para o sistema de trabalho e emprego, para as rodovias, para
o corte de cana, para a carteira de trabalho, para a cesta básica, para tirar
pedras de um lado e colocar de outro, para o abandono familiar, para a
prostituição infanto-juvenil, para a gravidez na adolescência, para a morte
puerperal, para a morte infantil, para o aborto, para o sistema educacional, a
evasão escolar, o letramento, para droga, o tráfico de entorpecentes de animais
e de pessoas, o assassinato, a grilagem, a violência contra a mulher, a
corrupção em suas diferentes configurações e modos, no que o poder político
aqui tem de mais versátil e escabroso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Acredita o cão, ou melhor, lhe diz o
instinto: a vegetação foi reduzida a esse confinamento da condição de bioma
pobre, incapaz de gerar riquezas, levada a se consumir em um sem número de
atividades degradantes, quase a se prostituir. Reconhecendo-se sempre como
aquela que só pode viver sob as condições ressequidas do solo salinizado,
servindo quase que exclusivamente ao fogo. Uma estética do calor a se contrapor
a outra do frio, em que se consome (não se é consumido) a vida num exercício
catártico sem fim? “A estrutura é essa designação do visível que, por uma
espécie de triagem pré-linguística, permite a ele transcrever-se na linguagem.
Mas a descrição assim obtida não é mais que um modo de nome próprio: deixa a
cada ser sua individualidade estrita e não enuncia nem o quadro a que ele
pertence, nem a vizinhança que o cerca, nem o lugar que ocupa. Ela é pura e
simples designação. E, para que a história natural se torne linguagem, é
preciso que a descrição se torne “nome comum” (Michel Foucault, <i>As Palavras e as
Coisas</i>).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O nome comum é o que incorpora vestimenta
própria na linguagem do sertão, como de todo lugar – o que é uma coisa aqui
pode em outro lugar ser outra, toda revestida de delicada conceituação e
sentido. A história natural tem como tarefa fundamental “a disposição e a
denominação”. <i>Seria
a água daquele rio fruta de alguma árvore</i>?
Algumas árvores na caatinga são capazes de chocar água em pequeninos ovos. O
cão já vira incontáveis vezes, por exemplo, o umbuzeiro derramar água de suas
pequenas frutas azedas, que se torna um delicioso néctar quando devidamente
preparada nas obesas cozinhas das casas de família. Uma iguaria. O caju de que se
extrai transparente refresco levemente amarelado, tão aprazível nos dias de sol
intenso. Uma única chuva é capaz de fazer com que as árvores engravidadas de
açúcar deem a luz, então ninguém poderá dizer que não pariram água. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É pelo desviar-se que a natureza se reinventa,
e reinventa reinventar-se em movimentos imprecisos do oblíquo, do não
correlato, do pouco comum, das veredas em curvas, do que no rio é serpentear-se
num desaguar. Para ir à cidade, o cão precisa escapar ao medo de um ambiente de
multidão, uma vez que o cão só habita o que o sertão lhe fornece: monturos,
cactos, quintais, ratos, pequenas cobras, cemitérios, crianças, igrejas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Daí que talvez desminta a figura do retirante
há décadas tatuada ao corpo do sertanejo. Como não tem um dono, não quer ir, é
livre e cativo ao mesmo tempo. Como desprender-se daquilo que tão intimamente
lhe roça à pele? Os fedores, os cheiros azedos que por vezes lhes servem como
comida? Do fundo das redes onde as próprias falas obtêm sentido? Contudo há
sempre algo a incitar os demônios que os seres segregam, por isso deve ir ao encontro
do mar. Cumprir destino de não ser daqui nem de lá, de lugar nenhum e de todos.
E ali onde está o mar, está também o urbano, um maracatu forjado num ambiente outro.
“Cobra Norato”, de Raul Bopp, a regurgitar outro mundo para o que lhe vai da
imagem de universos pouco visitados: <i>"Rios magros obrigados a trabalhar
descascam barrancos gosmentos. Raízes desdentadas mastigam lodo." </i>Assim o cão resolve traçar trajetória até a
cidade, o roteiro aprendido na mesma educação pela pedra por Severino. Não mais
mineral, mas metafórica, da dureza de encontrar terras outras. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">A água e sua ondulação
salgada, sua corrente cardíaca, seu modo muito suspeito de se desnudar, penetrar,
erodir, sulcar, avançar, tomar etc. Todos os verbos marítimos envelhecem e
carcomem a cidade e seus moradores. </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Nada poderá deter a morte
que um dia deverá aportar à cidade. Nada poderá deter a doença, o detrito, a
salsugem segregada no bucho podre dos navios. É pelo porto que o cão se embarca na realidade da cidade.</span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;"> </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Andando ali, ele não se reconhece
na paisagem, não divisa nem uma particulazinha sua no forjado urbano. </span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<div style="text-align: justify;">
Poderá um cão viver ali, cercado de incontornáveis riscos, violências, desigualdades? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O animal é aquele que no discurso nos olha direto na cara. Enquanto nos olha, se põe a falar. O animal é o olho que fala no discurso. E dessa retórica se vale o cão para ir do sertão à cidade e aos que atravessam os rastros do seu caminhar. Delicado pensar que animais construíram esse novo ambiente: barata, cigarra, cachorro poderiam criar condições para uma retórica da educação? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por vezes, só o que perdemos é nosso. Ao deixar para trás o sertão o cão tem-no agora preso ao seu corpo. Seus foram os dias que se perderam na poeira amarelada dos caminhos que cruzou. O mover-se na dança da chuva que desejou, sem muitas vezes alcançar sequer nenhuma gota, que dali a chuva é levada pelos ventos que orientam o terror, não a esperança. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por vezes só o que morreu é nosso. O fúnebre poema, a cantiga, a ladainha pagã que acompanha o morto, e que para ele é improvisada, mas para que ele se faça acompanhar dessa singular beleza, é preciso que esteja morto. O choro, a saliva, o carpir lhe fazem pertencer de novo ao chão – o que não lhe pertence mais é não fluir a música, esgarçada pelos últimos momentos.</div>
</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">
<br />Bibliografia <br /><br />BOPP, Raul, “Cobra Norato”, José Olympio, 1994. <br />CARSON, Rachel, “Primavera Silenciosa”, Gaia Editora, 2010. <br />FOUCAULT, Michel, “As Palavras e as Coisas”, Martins Fontes, 2000. <br />NETO, João Cabral de, “Morte e Vida Severina”, Alfaguara, 2007. <br />NETO, João Cabral de, “O Cão Sem Plumas”, <a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/busca/busca.asp?avancada=1&titem=1&bmodo=&palavratitulo=&modobuscatitulo=pc&palavraautor=&modobuscaautor=pc&palavraeditora=ALFAGUARA%20BRASIL&palavracolecao=&palavraISBN=&n1n2n3=&cidioma=&precomax=&ordem=disponibilidade">Alfaguara</a>, 2007. <br />KAFKA, Franz, “A Metamorfose”, Vida Cultural, 2002. </span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">RAMOS, Graciliano, “Vidas Secas”, Record, 2006. </span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Juliete Oliveira (Arte e Pensamento: A Reinvenção do Nordeste. Organização André Queiroz. Editora SESC</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Imagem: sítio de poesia</span><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /> </span>Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-87864820331096642082013-03-08T02:35:00.000-08:002013-03-08T02:35:02.492-08:00O que me sussurraram as mulheres do sertão<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Ao aportar no nordeste
brasileiro, propriamente no sertão em um bioma bem conhecido denominado de
caatinga o que para as terminologias ambientais e climáticas é em grande parte
semiárido, tive uma relação muito próxima com as mulheres, elas me ensinaram
que mesmo, em que pese todo o julgo de ser minoria política a alegria e a
autoestima são simbologias fulgurantes em seus espíritos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi77wyuWCINL5_ejztW1-jzhKkn84AxuckzWrwAGwgiLMgIxxXtLreU7EB79n5ZcAsU6bRZkCh6PK7fJMJQCFTMs5ocsZ-w7PhMWIg5_JrgTqXAyZeDxOKG8uvfSbaYtk4WdLTTblcUCVp4/s1600/Duas+Mulheres+Praia+Picasso+02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="254" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi77wyuWCINL5_ejztW1-jzhKkn84AxuckzWrwAGwgiLMgIxxXtLreU7EB79n5ZcAsU6bRZkCh6PK7fJMJQCFTMs5ocsZ-w7PhMWIg5_JrgTqXAyZeDxOKG8uvfSbaYtk4WdLTTblcUCVp4/s320/Duas+Mulheres+Praia+Picasso+02.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Tive a partir dessa
convivência uma experiência axiomática, me liguei cartograficamente a esse
território, eu desterritorializada que sou. Comparando-se com o que foi pensado
até hoje sobre o feminino, tanto pela psicanálise, quanto pela filosofia,
veremos que estas duas áreas do saber tentam até hoje desvendar essa figura que
fenomenologicamente se coloca à frente do masculino como um mistério. A relação
com as árvores sempre visceral / mulheres se ligam inexoravelmente ao vegetal /
relações de vizinhança sempre importante / o lugar, meu lugar, minha vida / eu
me ligo ao outro pelo que não vejo / o fluxo da memória é tudo o que eu tenho/ Lembranças
/ a proximidade do outro, agora é separado / o que povoa a vida são os
elementos da natureza / sabemos as árvores, todas as árvores pelo nome / a casa,
sempre a casa / no meio rural a casa é o que mais importa / as minhas historias
se ligam à natureza / o que imagino pode ser a minha verdade, nem sempre a do
outro / as historias são breves, objetivas, das mulheres distendidas / As
mulheres se derramam, lembram pequenos detalhes / as flores entram na fala / lágrimas
fáceis / essa água que mina na cacimba e eu tenho que esperar, o tempo de uma
infância / a reza de olhos fechados, a reza do sono no caminho / mulheres tiram
uma história da outra, sem perder o fio / homem a palavra difícil. (<i>falas recortadas das mulheres durante o
trabalho de campo para a construção da cartografia social do vasto e
inesgotável São Francisco, que a todos se oferece, seja de perto ou de longe</i>)<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Essa cartografia, eu a
chamo pelo nome de amor, um pequeno filete de rio que irriga agora o que sou.
Não foram poucas as tentativas de saber o que deseja uma mulher, ou o que ela
representa para o mundo masculino. Sabe-se que essas tentativas, muitas vezes
vazias, de tentar configurar o desejo feminino, pela via do masculino, podem
muito bem construir um feminino que queira somente ser e ter os mesmos
preceitos anteriormente decodificados e
impostos pelo masculino.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Construí um mapa, a
minha carta afetiva ficou mais rica, meus tesouros da imanência eu os guardo
sob uma pele muito fina, tênue recurso a que lanço mão para amealhar alegrias
em dias longos. A proposta de falar de uma identidade feminina, da mulher, e
também de seu par opositivo, ou seja, do homem, do masculino, tem como imposição
geralmente falar do que define estas duas categorias. E o que nos define? Senão
o que nos recorta, poeira estrelar na cumeeira em manhã de abril. Lembrando a
Florbela:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Gosto
de ti, ó chuva, nos beirados,</span></i><i><span style="color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><br />
<span style="background: white;">Dizendo coisas que ninguém entende!</span><br />
<span style="background: white;">Da tua cantilena se desprende</span><br />
<span style="background: white;">Um sonho de magia e de pecados</span></span></i><span style="background: white; color: #333333; font-family: "Georgia","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">.</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Juliete Oliveira<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
Imagem: Picasso</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
Para: Eva, Jeane,
Janete, Francinete, Tarsila Estrela, Veza Manuela, Fátima Lucatelli, Rosinete
(LoLó), Dorinha, Raquel Acásio, Sandra Letícia, Autalina Martins, Deyse, Miriam
Guedes, Ana Paula Guedes, Palmina Guedes, Consuelo Sales, Teresinha, Cristiane
Melo, Cristiane Mello, Katyucia Carvalho, Elianeiva Odíssio, Renata Acásio,
Edna Miranda, Wayla Luiza, Marinete, Marinha, Sandra Campos, Eliane do Valle,
Mary Veras, Michelle Medeiros, Eliana Pareja, Driele, Helena, Maryana Carvalho,
Graziele Reis, Adriana Damaceno, Giovana Lobo, Pati Lucatelli, Ana Maria
Cortes, Joana Cabral, Jezebel Andreoni Lílian
Marckezani, Verônica Bittencout, Ana Angélica, Carol Bueto, Rosilene, Marina
Gontijo, Emília, Poliana Silva, Lenimara do Vale, Patrícia Lopes, Cassiana
Moreira, Celly dos Santos, Janaina Neide
Herculano, Luca Lucatelli ... Tantas outras amigas irmãs.<o:p></o:p></div>
Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-46508268243077047022013-02-15T17:57:00.000-08:002013-02-15T18:16:03.538-08:00Corpo holograma<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
No mesmo dia em que uma chuva de meteorito atingiu a
terra ferindo algumas pessoas, o que pode ser considerado um fato raríssimo,
assisti acidentalmente a um fato que no caso da Amazônia não é de maneira
nenhuma raro, o que é raro, é assistir a uma batida policial em um local de
possível exploração sexual de menores! Estava almoçando ao contemplar a cena, e
foi impossível continuar a degustar o delicioso almoço aos moldes nordestino
que era servido no momento. Estou no olho do furacão! Em Altamira/PA, que hoje
se constitui um dos principais locais de migração de mão-de-obra, de todas as
espécies no território nacional.<o:p></o:p><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgWlfM6R3Um5H7ik6mvkKQsAUvgNgV64IrLE7qc1DM6tZkHDdxblSbw5Zp_cROZ1iX_3YxAxDRy_WMXvJ5yixMG-rfl3QkRGHbkZZLtWDZUhTRCPdv42DvcCfR7dSDvxaNj1erNwIlUfRO/s1600/Takeshi+mano.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgWlfM6R3Um5H7ik6mvkKQsAUvgNgV64IrLE7qc1DM6tZkHDdxblSbw5Zp_cROZ1iX_3YxAxDRy_WMXvJ5yixMG-rfl3QkRGHbkZZLtWDZUhTRCPdv42DvcCfR7dSDvxaNj1erNwIlUfRO/s320/Takeshi+mano.jpg" width="320" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<o:p><br /></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
“<i>Ver um objeto
é ou possuí-lo à margem do campo visual e poder fixá-lo, ou então corresponder
efetivamente a essa solicitação, fixando-o. Quando eu o fixo, ancoro-me nele,
mas esta ‘parada’ do olhar é apenas uma modalidade de seu movimento: continuo no
interior de um objeto a exploração que, há pouco, sobrevoava-os a todos, com um
único movimento fecho a paisagem e abro o objeto</i>.” Merleau-Ponty. O objeto
aqui é o corpo da menina, que também é o meu, o da minha filha, o da minha mãe,
seria o objeto que me habita e que é habitado por mim. Doeu, dói. As meninas
sendo recolhidas em uma ambulância da secretaria municipal de saúde. Denotou
doença, falta de sanidade, enfermidade. Estamos, somos enfermas todas as
mulheres quando o nosso corpo é alvo do prazer mórbido do outro, quando a
violência invade e profana entranhas tão jovens e por vezes inocentes. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
A violência contra a mulher não arrefece. Quando se
oferece oportunidade de trabalho no Brasil, com a abertura ainda colonial de
frentes de serviços, oferece-se sexo, carne barata, ou até gratuita, oferece-se
fome, descontrole, ant-desenvolvimento e um manancial de sofrimento que pode se
perpetuar por inúmeras gerações após o fato. Com todo o discurso que temos hoje
na ponta da língua, em torno da sustentabilidade, erramos sempre, quando o
ativo envolvido é o corpo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;">Holograma é a fantasia de captar a realidade ao vivo
que continua – desde Narciso debruçado sobre a sua fonte. Suspender o real a
fim de o imobilizar, suspender o real no mesmo momento que o seu duplo.
Debruçamo-nos sobre o holograma como Deus sobre a sua criatura.</span><i> “A Polícia Civil desarticulou, na noite de ontem, uma casa de prostituição que funcionava por meio de um esquema de tráfico interno de pessoas para exploração sexual, na zona rural de Vitória do Xingu, oeste do Pará. No local, cinco pessoas eram mantidas em cárcere privado – uma travesti, três mulheres adultas e uma adolescente – todas da região Sul do Brasil. O gerente e um funcionário do local foram presos em flagrante e encaminhados para a sede da Superintendência da Polícia Civil na Região do Xingu, em Altamira, para lavratura dos procedimentos policiais. O crime foi denunciado por uma adolescente de 16 anos, que fugiu ontem (13) do estabelecimento. A prática criminosa foi confirmada, por volta de 22 horas, durante operação policial deflagrada pela Polícia Civil sob a coordenação do superintendente regional, delegado Cristiano Marcelo do Nascimento”. (<a href="http://www.policiacivil.pa.gov.br/?q=content%2Fpol%C3%ADcia-civil-desarticula-esquema-de-tr%C3%A1fico-de-pessoas-em-vit%C3%B3ria-do-xingu">http://www.policiacivil.pa.gov.br/?q=content%2Fpol%C3%ADcia-civil-desarticula-esquema-de-tr%C3%A1fico-de-pessoas-em-vit%C3%B3ria-do-xingu</a>)</i></div>
<i>
</i><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;">Juliete Oliveira<o:p></o:p></span><br />
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;">Foto: Takeshi Mano</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background-color: white; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;">Altamira/PA, 15 de
fevereiro de 2013<o:p></o:p></span></div>
Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com1Altamira - PA, República Federativa do Brasil-3.1962012 -52.2123383-11.2506752 -62.5394868 4.8582728000000008 -41.8851898tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-70028750836709166212012-10-01T16:14:00.000-07:002012-10-12T09:28:47.716-07:00Dentro da noite sem cor<b><span style="color: yellow; font-size: x-large;">DENTRO DA NOITE SEM COR</span></b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJSzXP6-xCaGohB-pIhFjWMtT9kw5uic2HXeOm5LSp7-kb5IK38rHzyE1iAePmXNBMsbonZXstfi-qwDc0E5eW8l6Vh6Xjw8MrPoA53HlmPliQvzsBTeP6LCQwVoryLmESsK9nibhviAdK/s1600/Giovanni_Segantini_004.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="202" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJSzXP6-xCaGohB-pIhFjWMtT9kw5uic2HXeOm5LSp7-kb5IK38rHzyE1iAePmXNBMsbonZXstfi-qwDc0E5eW8l6Vh6Xjw8MrPoA53HlmPliQvzsBTeP6LCQwVoryLmESsK9nibhviAdK/s400/Giovanni_Segantini_004.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="color: red; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><br /></span></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: red; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i><span style="font-size: 12pt;">Patchwork livro para teatro</span></i><span style="font-size: 12pt;"> de André Queiroz (Multifoco, 2011) é como o título quer: uma mixórdia, contudo tem o cheiro ocre das velas acessas em uma cerimônia fúnebre; todos os recortes escolhidos por Queiroz levam inevitavelmente à morte </span></span><span style="background-color: white; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 20px; text-align: left;"><span style="color: red;">–</span></span><span style="color: red; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"> </span><i style="color: red; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">perdidos & abismados fragmentos/emissários alados da morte (</i><span style="color: red; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Ney Ferraz Paiva). Relaciono-me com a escrita desse autor há pelo menos doze anos, tomando parte muitas vezes da cozinha dele, dos bastidores de sua biblioteca, das conversas, vendo-o para além do distendimento que a escrita produz.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt;"><span style="color: red; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Certa vez ao ler um de seus romances tive reações cardíacas que não me agradaram, e me afastei por um tempo da sua produção ficcional; detive-me aos ensaios. </span></span><span style="color: red; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Encaro agora quase como um atrevimento escrever sobre este livro, do qual ouvi falar muito antes de publicado, para encontrar outras bifurcações para o título, gosto de chamar de nome, penso que personifica a obra; e dessa vez tive de consultar a tradução, uma vez que inevitavelmente me remetia aos interessantes panos de prato que minha mãe confecciona. E foi com grata surpresa que percebi que André também teve esse delicado olhar sobre o cotidiano, o doméstico, o que está dentro, o que im-porta (em atenção à raiz da palavra importância).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt;"><span style="color: red; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">“<i>te escrevo hoje porque fiquei sabendo que estás por estes lados. Recolheram a ti como a mim. Ironia do destino este quase encontro de que padecemos! Como estás? Soube que Ângela ainda te habita a alma?”</i><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: red; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;">No jogo do tarô a carta XIII, a Morte, é a que mais provoca receios aos consulentes, mas de acordo com os textos antigos sobre a arte da adivinhação, </span><span style="font-size: 12pt;">a morte se tornou o símbolo que evidencia a inutilidade de toda a riqueza, poder ou vaidade. Por isso, esta carta simboliza a transformação que destrói as coisas para que possam ser reconstruídas depois. É uma transformação inevitável ou mesmo um rejuvenescimento. Em Patchwork a morte se dá muitas vezes como uma lembrança embotada do que não se viveu, do que por muito se esperou, ou como um devir, muito próximo a quem se consegue inclusive sentir o cheiro, como é o caso de <i>O grito na suspensão da morte, </i>em que um já espectro se coloca diante de soldados em um – não muito claro – campo de extermínio. E dali, daquela posição pouco confortável se põe como um vidente a imaginar as ínfimas possibilidades de vacilo do atirador, quando tem absoluta certeza que não existe nenhuma chance para outro desenlace.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt;"><span style="color: red; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O livro é para o teatro, mas poderia ser para tocar no rádio, ouvir em praça pública, em movimento e dança, essa cartografia de memórias recapituladas, sem algum apelo paisagístico, como bem disse Deleuze: <i>No Ocidente a árvore plantou-se nos corpos, ela endureceu e estratificou até os sexos.</i> Corpo-livro não estratificado no qual tudo se possibilita em tantas e tamanhas direções, fluxos, pensamentos. Daí o transcurso de Queiroz ir além da filosofia: <i>Se eu fosse mulher cada poema de Álvaro de Campos seria um alarde para a vizinhança. Mas sou homem – e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais. Assim tudo acaba em silêncio e poesia.</i> Fernando Pessoa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt;"><span style="color: red; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O mundo tornou-se caótico, mas o livro permanece sendo a imagem do mundo </span></span><i style="color: red; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: 15.555556297302246px;">–</i><span style="color: red; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"> sábia organização maquínica do pensamento. Quantos mundos cabem em Patchwork? Cabem o mundo da razão e des-razão, da vida e da morte, da tristeza e da alegria, da amizade e da rivalidade. Um dos homens mais sábios que existiu, disse que “a certeza da morte poderia adoçar cada vida com uma gota perfumada de leveza...” Friedrich Nietzsche. Queiroz trata a morte com a urgência cadente de quem nasce: ... </span><i style="color: red; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">as pernas o caminho, tem sede os olhos saltam para fora, quais os que vejo nessa aflição da hora empanturrada na morte de cá, senão os dela, a outra na descostura da pele – de dentro pra fora, o lance da vida em força, os olhos saltitantes em festa, são distantes os olhos no tempo a se fazer, será que duro este remendo. (“</i><span style="color: red; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">A criança breve”).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt;"><span style="color: red; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">“- A gente não vai para o céu. É o oposto: o céu é que nos entra, pulmões adentro. A pessoa morre é engasgada em nuvem.” Mia Couto. A morte sempre rende e renderá boas histórias; nosso escritor não é imune a essa compreensão, sempre tocando as extremidades da vida com enorme delicadeza, com o sentido de que coisas frágeis demais podem ser rompidas, dependendo de como inclusive são olhadas. A literatura a que Queiroz se entrega em Patchwork tem um suave cheiro de morte como um bosque de eucaliptos após a chuva de verão. Não é uma leitura que de início fascine pela trama elaborada, depende de certo esforço, é um corredor apertado e pouco confortável que oferece ao principiante certa dificuldade, tem um ritmo próximo do <i>rock & roll</i>, uma batida psicodélica e imagética; posso estar falando de algo distante, estranho ao texto, mas compreendo que a literatura tem esse poder de reverberar de maneira diversa por cada ouvido.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt;"><span style="color: red; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Juliete oliveira<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt;"><span style="color: red; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Imagem: Giovanni Segantini</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-size: 12pt;"><span style="color: red; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Salgueiro-PE, 02 de abril de 2012</span></span></div>
</div>
Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-16776377448761705372012-07-07T20:19:00.002-07:002012-07-08T05:02:09.842-07:00América Latina (latindo a solidão?)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8X68Qc2B4EdgYQLSMwAUmV4hbHB2qmOAgDAf9K2yG9ZXDj6mP0aN0fwhPT3QzYXk8MgPMlJrF4NCdxElOayLwAjxJc9-7DGFrBL6uizEeDvEA37MjsPsI9ag5u1IeA-7Z_oPiFEghun6t/s1600/dimi.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8X68Qc2B4EdgYQLSMwAUmV4hbHB2qmOAgDAf9K2yG9ZXDj6mP0aN0fwhPT3QzYXk8MgPMlJrF4NCdxElOayLwAjxJc9-7DGFrBL6uizEeDvEA37MjsPsI9ag5u1IeA-7Z_oPiFEghun6t/s320/dimi.png" width="237" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">É com assombro que leio a recente
declaração do analista Juan Carlos Monedero, ex-conselheiro do presidente Hugo
Chaves: “a salvação do planeta está na América Latina”. Carta Maior, </span><span style="color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Sábado, 07 de Julho de 2012.<o:p></o:p></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Muito mais do que uma constatação
isso nos remete a uma sentença. Como assim? Novamente teremos, “nós os latinos
americanos” que salvar algo? Sendo que sequer nos recuperamos de ter salvo
vários países europeus via mercantilismo – mesmo tendo se passado alguns
séculos, vivemos ainda à sombra da hecatombe que provocou o desaparecimento de
nações inteiras e gerou a cultura escravocrata da qual não conseguimos nos
livrar, sem falar no aniquilamento da possibilidade de se conhecer e fortalecer
as culturas eliminada.<o:p></o:p></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O argumento de Monedero se ancora na
impossibilidade da Europa, frente aos problemas financeiros e sociais iniciados
na última década, no desinteresse da China e incapacidade total da África, por
razões que nem precisam ser citadas. “A sociedade pode executar as suas
próprias ordens, e executa-as de fato: e se emite ordens incorretas em vez de
corretas, ou se emite ordens em relações e assuntos em que não devia interferir,
exerce uma tirania social mais alarmante do que muitos tipos de opressão
política, dado que deixa menos meios de escapar”. John Stuart Mill. E mesmo que
estas não sejam impostas através de punições extremas, podem penetrar muito
mais profundamente nos pormenores da vida, escravizando a alma.</span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">O que a América Latina, tem a
oferecer nesse momento para a voracidade do mercado que se quer verde?
Poderemos agora mesmo está sendo cooptados por um discurso encantador e nos
deixando comprar pelo discurso uníssono, sem perceber que isso pode ser uma espécie
de “tirania da maioria”. Ora, se a China pode se dar o luxo de ligar o botão do
“F”, sendo ela uma das nações que mais atola o mundo com bugigangas muitas
delas desnecessárias, produzidas sem levar em consideração o impacto gerado na
extração de matéria prima; se a Europa mais uma vez vai levantar a sua cabeça e
se manter acima da situação, ditando regras, as quais ela não se inclui como
parte arrolada no cumprimento; se os Estados Unidos se mantêm como aquele a
qual todo o resto do mundo deve prestar contas, devendo sempre ser servido. O
que tem mais uma vez a América Latina com isso?<o:p></o:p></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Sendo que, no que pese a aparente
resolução de problemas relativos à democracia – neoliberal é verdade. Essa
parte do continente ainda regurgita problemas primários que tendem cada vez mais
eliminar parcelas da sociedade. “Sem uma crítica da racionalidade ocidental
dominante pelo menos nos últimos duzentos anos, todas as propostas apresentadas
pela nova análise social, por mais alternativas que se julguem, tenderão a
reproduzir o mesmo efeito de ocultação e descrédito.” Boaventura de Sousa
Santos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">E é exatamente o que se reproduz hoje
em matéria de pensamento político, sob o folheado de esquerda que assumiu a
América Latina, na visão dele ela traduz hoje um exemplo de modernidade a ser
seguindo justamente pelo enfraquecimento disfarçado do capitalismo, sem
esquecer é claro o camaleão que este é. Devemos passar a vista nas diferentes
configurações nacionais de composição desta América Latina: Brasil desponta
como um dos mais promissores mercados e galgou o lugar de a 6ª. economia do
mundo, internamente apresenta números lastimáveis para saúde e educação, no
quesito distribuição de renda se compara aos mais paupérrimos do planeta;
Argentina vem se arrastando nas últimas décadas para conseguir se reerguer de
um período nebuloso que alternou militarismos e neoliberalismo que aterraram o
país minando quase que completamente as chances de colocar nos eixos novamente
a economia interna dos hermanos; Cuba talvez hoje a maior expressão dos equívocos
do comunismo como sistema de governo, claro que não exclusivamente pela atuação
do povo cubano e sim pela exclusão propiciada pelo resto mundo a esse país que
escolheu peitar o vizinho rico e poderoso; Bolívia se consome nas próprias
questões étnicas, as quais não tem conseguido resolver mesmo diante da boa
vontade de grande parte do continente após a eleição de Evo Molares; Colômbia e
o seu escancaramento que permite que uma das pernas do país esteja sob o jugo
Norte Americano e a outra ainda entregue aos narcostraficantes e às </span><!--[if gte mso 9]><xml>
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<![endif]--><span style="mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">guerrilhas <span style="background: white; color: black;">marxistas-leninistas das Farc</span></span><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">; Peru do
presente é determinado por sua condição histórica periférica (dependências de
investimentos estrangeiros e rigidez de recursos) agravada pela não
incorporação de parte considerável da população indígena à política e ao
próprio Estado. Chile, uma nação que tem Fujimori na sua história não se
recupera fácil dessa presença, talvez seja o que mais padeceu durante o regime
militar e ainda hoje tenta se reerguer dos escombros e enterrar os fantasmas do
período. Os demais países nem é necessário citar, tamanha é a dificuldade que
encontram para se manterem como nação soberana e minimamente cumprirem os seus
deveres como estado. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">É esse o cenário que se desenha como
o salvador do planeta</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">! Há uma América
Latina plural, diversa e que nunca poderá se manter em bloco com uma política
hegemônica e planificada, há uma América Latina com problemas sociais bem próximos
aos da África – exclusão social, políticas públicas equivocadas, privilégio de
grupos (minorias), sem saneamento básico, e há uma América Latina rica em
recursos naturais renováveis ou não, minérios, água, sol, florestas, culturas e
todo um mosaico de encher os olhos de países velhos, cansados, exploradíssimos e
com o olho comprido lá onde o novo é possível. </span><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Essa América Latina pode até ser o elemento
considerado como salvaguarda do mundo, contudo corre o imenso risco de não
salvar nem a si mesmo!</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Juliete Oliveira</span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Belém-PA, 08 de julho de 2012</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt 35.45pt; text-align: justify;">
</div>Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-34860571695104634972012-04-13T12:27:00.000-07:002012-04-13T12:27:29.637-07:00Da educação mercadoria à certificação vazia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2r9VVGEcg6VIn0874Yg67unm3grYiWIXmcGkwdhZp2s3oELITksuUOnzwBbQWcOCIHcC6EhwyRPz45p2xQZDNfBgL2nu7fLWjzWvXORb1MJTpWTsTb_5D24SjA3krKGe0DSVBingFfhza/s1600/gordon-matta-clark-conical-intersect1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2r9VVGEcg6VIn0874Yg67unm3grYiWIXmcGkwdhZp2s3oELITksuUOnzwBbQWcOCIHcC6EhwyRPz45p2xQZDNfBgL2nu7fLWjzWvXORb1MJTpWTsTb_5D24SjA3krKGe0DSVBingFfhza/s320/gordon-matta-clark-conical-intersect1.jpg" width="217" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>Enquanto não houver uma mudança radical, o próprio sentido de educação estará comprometido, posto que seu fim mais elementar não é atingido: em vez de promover a emancipação humana, produz lucro para o capital que só enxerga as camadas sociais C, D e E quando estas se apresentam como potencial mercado consumidor.</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O ensino superior, público e privado, no Brasil passou por grandes transformações nas últimas décadas. Essas mudanças – travestidas de democratização, por favorecerem o acesso – visaram atender a uma proposta de privatização e barateamento da educação.</div><div style="text-align: justify;">O Ministério da Educação (MEC) alardeia números, sobretudo para organismos internacionais – que obrigam o país a se enquadrar em padrões estipulados por eles na competição do mercado de consumo, trabalho e pesquisa –, que demonstram o crescimento do acesso ao ensino superior, ainda que distantes daqueles objetivados pelo Plano Nacional de Educação (PNE) (o acesso é de apenas 13,8% dos jovens, entre 18 e 24 anos). Porém, esse suposto processo de inclusão tem facilitado, para além do aceitável, um crescimento vertiginoso das instituições de ensino superior (IES) privadas, com desdobramentos que passam pela precarização do trabalho docente e pela formação duvidosa que essas empresas têm oferecido aos alunos por ela formados.</div><div style="text-align: justify;">A predominância de objetivos economicistas em detrimento dos pedagógicos nas IES privadas permitiu um fenômeno relativamente novo no Brasil: a formação de conglomerados educacionais, grandes empresas, de capital aberto e com forte participação de grupos estrangeiros em seu quadro de acionistas. A autorização para funcionamento dessa espécie de oligopólio do setor educacional tem intensificado a visão mercantil da educação superior no Brasil. Os exemplos mais representativos desse modelo de organização empresarial na educação ficam por conta dos grupos educacionais Kroton-Pitágoras, Estácio de Sá, SEB (Sistema Educacional Brasileiro) e Anhanguera Educacional. Esta última, com a recente aquisição da Uniban, passou a ser o maior grupo educacional do país, atendendo aproximadamente 400 mil alunos em campi espalhados por diversos estados brasileiros. Além disso, manteve sua projeção de crescimento de atingir 1 milhão de estudantes em cinco anos, segundo matéria do Valor Econômico de 17 de novembro de 2011.</div><div style="text-align: justify;">A alteração no padrão de financiamento das IES privadas promoveu uma mudança significativa no modelo de gestão: o papel que antes era predominantemente exercido por mantenedoras, de caráter familiar ou religioso, hoje passou a ser de responsabilidade de bancos ou fundos de investimentos que contratam executivos como seus representantes, padronizam procedimentos de relações de trabalho nos departamentos de recursos humanos e prestam contas ao fundo de ações. Decorre daí um perfil de gestão alinhavado com a lógica empresarial, sob responsabilidade de executivos, e muito distante dos objetivos educacionais que sempre foram sustentados por professores e pesquisadores.</div><div style="text-align: justify;">Abandono do Estado</div><div style="text-align: justify;">Tomado pela óptica do lucro, o setor educacional privado tem se valido, oportunamente, do abandono do Estado na oferta de vagas públicas para a formação superior. Dessa forma, as IES privadas, cuja existência deveria ter um caráter complementar, acabaram predominando e se consolidando em grupos que formulam e ditam as regras de seu interesse para a (des)regulamentação do setor, regras essas beneficiadas pelas chamadas políticas de parcerias público-privadas, as quais são alicerçadas sobre o princípio da transferência de dinheiro público para a iniciativa privada com a finalidade de que esta última cumpra o papel que o Estado se nega a exercer. No caso do ensino superior, essas transferências se dão predominantemente por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni) e do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), além dos programas de benefícios de isenção fiscal oferecidos pelo BNDES. Nesse ponto, o discurso falacioso do Estado e o do setor privado convergem: trata-se de iniciativas e proposições que manifestam concretamente a preocupação com a formação do brasileiro e com o desenvolvimento do país!</div><div style="text-align: justify;">De modo geral, a consolidação da mercantilização da educação e a formação de oligopólios educacionais têm ocorrido com base na incorporação de princípios e fundamentos do setor empresarial, ou seja, na otimização dos recursos. Como afirma Marilena Chauí (2001), “a Universidade está estruturada segundo o modelo organizacional da grande empresa, isto é, tem o rendimento como fim, a burocracia como meio e as leis do mercado como condição”. Essa fórmula – clássica do neoliberalismo – consiste na diminuição das despesas para o consequente aumento dos lucros. Assim, com vistas a assegurar um perfil rentável − à empresa, é claro −, torna-se necessária a precarização das relações de trabalho: redução de salários, perda de direitos, ameaças e cobranças pelo desempenho da instituição nas avaliações externas promovidas pelo MEC são alguns traços da rotina de professores das IES privadas.</div><div style="text-align: justify;">Ao mesmo tempo, concorre para intensificar os contornos dramáticos desse quadro a expansão da modalidade EaD (educação a distância), que em 2010 fechou o ano com 973 mil alunos matriculados, o que corresponde a 30% de todos os universitários em instituições privadas. Nesse caso, a educação mediada pela tecnologia, que deveria servir para aproximar os extremos sociais, acaba por aprofundá-los. Contudo, para os empresários, o aliciamento desse recurso é tomado como mais uma vantagem mercadológica capitalista, sobretudo por potencializar sua capacidade de lucro.</div><div style="text-align: justify;">Na outra ponta, os salários praticados nas IES privadas são – via de regra – aviltantes, o que obriga muitos profissionais a lecionar em várias instituições, seja para compor a renda, seja para se prevenir das demissões, muitas vezes arbitrárias. Nesse contexto, os professores se veem impedidos de desempenhar tarefas diretamente ligadas à sua função (e ao ensino superior, ou seja, ensino, pesquisa e extensão), absorvidos que estão por uma jornada de trabalho extenuante. No entanto, paralelamente a isso, ocorre um processo silencioso de captura da subjetividade dos docentes com objetivo de estabelecer uma competição interna, cuja face mais alarmante é a perda da autonomia. Como toda competição tem exigências, impõe-se que esses profissionais – para terem condição de competir – sejam aguerridos, “pró-ativos”, competentes e indiferentes às questões coletivas, o que os leva a um distanciamento de seus sindicatos e associações e permite, muitas vezes, que sejam – deliberadamente – vistos como mão de obra manipulável pelos patrões.</div><div style="text-align: justify;">Precarização e intimidação</div><div style="text-align: justify;">Se de um lado temos a perda da autonomia dos professores como uma ameaça à própria noção de função docente, de outro notamos que, por parte dos empresários da educação, a oferta de uma formação aligeirada tem exigido profissionais cada vez menos críticos e progressivamente mais alienados da prática educativa. Não é raro o relato de professores do ensino superior que têm seus conteúdos – planos e ementas de cursos –, bem como suas avaliações, elaborados por um terceiro que nunca sequer esteve em uma sala de aula. Essa tentativa, por parte dos patrões, de padronizar a prática pedagógica para garantir um rendimento mínimo nas avaliações externas evidencia de maneira cabal seu propósito de controle absoluto sobre a mercadoria que vendem.</div><div style="text-align: justify;">Dessa forma, a reação e a resistência a essa prática de mercantilização da educação impõem grandes desafios. No estado de São Paulo, que acompanhamos mais de perto, tem sido cada vez mais difícil o enfrentamento com os patrões do ensino superior nas campanhas salariais organizadas por nossa federação, a Fepesp (Federação dos Profissionais de Educação do Estado de São Paulo), pois há um evidente conflito nas pautas apresentadas para negociação. Do lado de lá, a ofensiva é para subtrair direitos historicamente conquistados e que, vistos com a luneta do capital, representam entraves normativos à expansão dos lucros. Em razão disso, questões como plano de carreira, regulamentação da EaD e aumento real são deliberadamente ignoradas pelos patrões, que, por sua vez, promovem lobbiesjunto ao Poder Legislativo, a fim de que as regras do setor continuem a beneficiá-los.</div><div style="text-align: justify;">Entretanto, a predominância de valores empresariais na organização das IES e a falta de regulamentação efetiva por parte do MEC têm imposto uma permanente ameaça, ainda que velada, que é o desemprego. Assim, os professores insatisfeitos com salários e condições de trabalho incorporam a responsabilidade incutida pelo patrão, de que o mercado funciona assim: os insatisfeitos que se mudem. A aceitação dessa ideia leva a um comportamento defensivo, porque nos faz crer que nada pode ser feito e, por isso mesmo, qualquer iniciativa coletiva deve ser vista como prejuízo ao próprio trabalhador.</div><div style="text-align: justify;">Há também que se ressaltar a necessidade urgente de que o debate sobre a educação seja tomado como fundamento para um crescimento qualitativo e efetivo do Brasil, sobretudo para a população que ainda anseia conhecer na prática a longo prazo esse crescimento. Para validarmos o princípio democrático do direito à educação, sem, contudo, ignorar que o mercado do ensino privado não arrefecerá a curto prazo, precisamos assegurar o investimento de 10% do PIB na educação pública – que estimamos universal e de qualidade –, a fim de que ela seja o referencial para o setor privado, e não o contrário.</div><div style="text-align: justify;">Enquanto não houver uma mudança radical nesse quadro, o próprio sentido de educação estará comprometido, posto que seu fim mais elementar não é atingido: em vez de promover a emancipação humana, produz lucro para o capital que só enxerga as camadas sociais C, D e E quando estas se apresentam como potencial mercado consumidor.</div><div style="text-align: justify;">A forte presença do controle corporativo em um setor essencial como a educação provoca sérias fissuras na malha social, na medida em que os desdobramentos da transferência tácita da responsabilidade do Estado para a iniciativa privada têm autorizado o funcionamento de fábricas de diplomas com certificação vazia, para uma população que, embriagada pela democratização do acesso, ainda não se sabe enganada.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><em><strong>* Andrea Harada Souza</strong> é Professora de literatura, presidente do Sinpro Guarulhos e membro da coordenação estadal da CSP-Conlutas.</em><br />
<em>** Publicado originalmente no site<a href="http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1072" target="_blank"> Le Monde Diplomatique</a>.</em><br />
(Le Monde Diplomatique)<br />
Imagem: Gordon Matta ClarkJuliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-87355258288292573452012-04-06T18:14:00.012-07:002012-04-06T21:58:40.226-07:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoNBFJcIuZ2RPXeItypEahBPeMXv1wUO75udbsCkPzyYWFxK_v8Vl52LzExCeD4VETHhUPgMxuKdHdbeTxKu-t-H53DTCJFlPHoAbi_QoGvp17k15747H_fa2k6t-aGaap4j_6VL3W5MUw/s1600/4184599916_3ebbdbdbb3_z.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoNBFJcIuZ2RPXeItypEahBPeMXv1wUO75udbsCkPzyYWFxK_v8Vl52LzExCeD4VETHhUPgMxuKdHdbeTxKu-t-H53DTCJFlPHoAbi_QoGvp17k15747H_fa2k6t-aGaap4j_6VL3W5MUw/s400/4184599916_3ebbdbdbb3_z.jpg" width="266" /></a></div><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 16pt; line-height: 150%;"><span style="font-size: x-large;"><span style="color: red;">De queijo, impunidade e outros odores sujos da lei<o:p></o:p></span></span></span></b><br />
<strong>por Juliete Oliveira</strong><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><br />
<div class="MsoNormal" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="background-color: #93c47d;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; font-family: Arial, sans-serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;"><b>Tribunais podem cheirar a queijo, instalados numa venda do Mississippi rural numa história contada por William Faulkner. Outros podem exalar odores menos palatáveis, ainda que sediados numa corte suntuosa e com localização nobre numa capital federal. O mau cheiro da sentença – a um só tempo técnica e política, ética e jurídica da ministra do Superior Tribunal de Justiça Maria Thereza de Assis Moura contra vítimas de estrupo. Três meninas de 12 anos. O mau cheiro e a vergonha assinalam o horizonte extenso dessa questão. Os desastres que expõem. Quem estará resguardado no ambiente refinado dos tribunais, se aí se fabricam histórias a partir de realidades falsas, alucinadas, para lá de ficcionais? Prostitutas, meninas ou adultas, desde então com culpa permanente no cartório, a se validar o senso comum e o preconceito das ruas na interpretação de uma corte de justiça. Tal seria a condição da prostituta, a culpa? Prostituta, no Brasil, não teria defesa? Seria este o crime preferencial, verdadeiro? Ou bem ao contrário do que supõe a ministra, sua alegação se fundamentaria numa visada arcaica, muito antiga mesmo, constituída por uma instância de autoridade contra outro que sequer tem o corpo para se defender? Até mesmo o Estado patriárquico pode sentir aí o cheiro nauseabundo do preconceito e da impunidade. A determinação da ministra, ou seria mais correto dizer, seu discurso, incorpora a cifragem da censura e do recalcamento meramente moralista e retrocede a uma sociedade em que as desigualdades prosperam, sobretudo porque as vítimas “tomam o lugar” do réu nos tribunais. Com efeito, um parecer de “justiça” que vê em meninas prostituídas tamanha periculosidade – “as vítimas, à época dos fatos, lamentavelmente, já estavam longe de serem inocentes, ingênuas, inconscientes e desinformadas a respeito do sexo”, não corresponde a nenhuma das “mudanças sociais” operadas na sociedade brasileira, antes, ao retrocesso das mutações, às viragens próprias do poder. Ou ainda mais, remete a uma autoridade publicamente reconhecida que diverge da obtenção legal e consensual de que a infância deve ser protegida, sobretudo da exploração sexual e suas variantes. Uma vez que meninas não vêm ao mundo para ser prostitutas. São crianças, e se tão logo estão “longe de serem inocentes”, esse é um desiquilíbrio que cabe à sociedade e à justiça restabelecerem. Que meninas de 12 anos possam ser consideradas nocivas por conta da experiência dramática em que vivem, podendo inclusive ser penalizadas pela vulnerabilidade da sua inocência, torna irredutível o desenrolar de uma sessão na corte e do seu registro escabroso: uma juíza do Supremo Tribunal de Justiça conflituar os termos <i>experiência</i> (“conhecimento”) e <i>inocência</i> (“ser não nocivo”) em defesa de um estuprador, libidinoso e patético. Por que Faulkner teria instalado uma sessão da corte numa venda de arrabalde? Talvez porque os produtos ali expostos, todos de baixa qualidade e possivelmente fora do prazo de validade, se equiparam aos pronunciamentos e decisões tomadas – “chegando em intermitentes lufadas, momentâneas, breves, por entre o outro cheiro, constante, o cheiro e o senso</b></span></span><span style="font-family: Arial, sans-serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: large;"><b>, de medo...” Crianças que desde tenra idade se vendem por alguns trocados nas ruas das cidades Brasil afora, atravessam enfileiradas de uma ponta à outra na imagem desolada destas três meninas que, ao que parece, ao que tudo indica, foram vendidas agora, sob o abrigo da lei e da justiça, uma vez mais.</b></span></span></span></div></div>Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-24534488376874774962012-04-02T05:57:00.004-07:002012-04-06T22:18:53.506-07:00O que aprendi com as nuvens<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3Q8lXjtGYMJXXldsQKU0xgAhlfnMBM_M7vyGYuc0uaN2gjDEvVI0JuiANW4877oP6_KGt5VLfkqWzOprWuynBJV3izQJ8feQ-S8opq9hvlxlIiMCzAofApwa5HYMQoOvdPz5mrZrzpGw4/s1600/3561553883_a2deeea8a5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3Q8lXjtGYMJXXldsQKU0xgAhlfnMBM_M7vyGYuc0uaN2gjDEvVI0JuiANW4877oP6_KGt5VLfkqWzOprWuynBJV3izQJ8feQ-S8opq9hvlxlIiMCzAofApwa5HYMQoOvdPz5mrZrzpGw4/s1600/3561553883_a2deeea8a5.jpg" /></a></div><h3 style="border-bottom-color: initial; border-bottom-style: none; border-bottom-width: medium; border-left-color: initial; border-left-style: none; border-left-width: medium; border-right-color: initial; border-right-style: none; border-right-width: medium; border-top-color: initial; border-top-style: none; border-top-width: medium; text-align: justify;"><span style="background-color: orange;"></span><span style="background-color: #b6d7a8;"> </span><span style="background-color: #b6d7a8; font-size: x-small; text-align: right;">Para o VII Fórum Brasileiro de Educação Ambiental</span></h3><h3 style="border-bottom-color: initial; border-bottom-style: none; border-bottom-width: medium; border-left-color: initial; border-left-style: none; border-left-width: medium; border-right-color: initial; border-right-style: none; border-right-width: medium; border-top-color: initial; border-top-style: none; border-top-width: medium; text-align: justify;"><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: large; text-align: justify;"><br />
</span></h3><h3 style="border-bottom-color: initial; border-bottom-style: none; border-bottom-width: medium; border-left-color: initial; border-left-style: none; border-left-width: medium; border-right-color: initial; border-right-style: none; border-right-width: medium; border-top-color: initial; border-top-style: none; border-top-width: medium; text-align: justify;"><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: large; text-align: justify;">Ao sobrevoar Salvador numa aeronave pequena advinda do sertão pernambucano, tive dois </span><i style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: x-large; text-align: justify;">insights</i><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: large; text-align: justify;">, o primeiro: as cidades, quando vistas do alto, por maiores que sejam se constituem de pequenos pontos, quase que como pontinhos que alteram a continuidade da paisagem da terra. O segundo: o parcelamento do solo pode ser razoavelmente compreendido quando se tem em mente essa perspectiva da geografia lá em baixo. </span></h3><h3 style="border-bottom-color: initial; border-bottom-style: none; border-bottom-width: medium; border-left-color: initial; border-left-style: none; border-left-width: medium; border-right-color: initial; border-right-style: none; border-right-width: medium; border-top-color: initial; border-top-style: none; border-top-width: medium; text-align: justify;"><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: large;">Mas o que se sabe mesmo com extrema clareza, é que essa partilha obedece a fatores outros que não se filiam única e exclusivamente à alternativa locacional justa, para quase todos os ambientes. Jean Baudrillard em seu “simulacros e simulações” versa sobre a distribuição aérea dos hipermercados: Há que ver como centraliza e redistribui toda uma região e uma população, como concentra e racionaliza horários e percursos, práticas – criando um imenso movimento vaivém. Contudo, ele vai mais além, denuncia que os abjetos expostos nesses ambientes não são mais mercadorias e sim testes, que nos interrogam e somos intimados a responder e que a resposta está incluída na pergunta. Uma mensagem dos media.</span></h3><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: large;"></span><br />
<h3 style="text-align: justify;"><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: large;">O que me levava a Salvador buscava discutir também esses pontos, talvez por isso a percepção das nuvens envolvessem tais aspectos. O VII Fórum Brasileiro de Educação Ambiental se constituiria num espaço “livre” para fazer voar o pensamento. Muito mais do que as condições climáticas, bióticas, hídricas do ambiente lá esteve em discussão o sujeito, como uma instância não evidente a se restabelecer: não basta pensar para ser, como proclamou Descartes, já que inúmeras outras maneiras de existir se instauram fora da consciência, ao passo que o sujeito advém no momento em que o pensamento se obstisna em apreender a si mesmo e se põe a girar como um peão enlouquecido, sem enganchar em nada dos territórios reais da existência, os quais por sua vez derivam uns em relação aos outros, como placas tectônicas sob a superfície dos continentes.</span></h3><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: large;"></span><br />
<h3 style="text-align: justify;"><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: large;">Descobrimos no Fórum a necessidade de qualificar a nossa participação nos processos decisórios, e que devemos enxergar o projeto de desenvolvimento ao qual o Brasil se atrela e que isso faz parte de um projeto mundial que não leva em consideração subjetividades e singularidades comunitárias, uma recusa que nos adoece imensamente. “Trata-se, na verdade, de fazer que intervenham saberes locais, descontínuos, desqualificados, não legitimados (pelo olhar estrangeiro). Contra a instância teórica unitária que pretende filtrá-las, hierarquizá-las, ordená-las em nome de um conhecimento verdadeiro, em nome dos direitos de uma ciência que seria possuída por alguns.” Salienta Michel Foucault.</span></h3><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: large;"></span><br />
<h3 style="text-align: justify;"><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: large;">Estando ali e aprendendo uns com os outros fomos além: o saber empossando a vida toda, em um curso apaixonado e imprevisível próprios dos saberes que não são amarrados por convenções e estão dispostos como uma xícara de café oferecida ao amigo em um dia qualquer.</span></h3><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"></span><br />
<h3 style="text-align: justify;"><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Juliete Oliveira</span></h3><h3 style="text-align: justify;"><span style="background-color: #b6d7a8; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Salgueiro-PE, 02 de abril de 2012.</span></h3>Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-3468111964720619162012-03-08T04:27:00.000-08:002012-03-08T04:27:41.740-08:00102 anos de luta pacífica<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggbufBm3HcUV3ykMeX-rmOWKawSJLKjzfFWM7gy93tFHbQ04Yxjn7zpkjNLEkgzbyrwTjb3u2BGwLrlphoJCEw9KN7AebKY8cHvItx15DMuMMEbp85vw1wJmo4twQUXkT-r6TQj2D8cb9I/s1600/foto_mat_24649.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213px" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggbufBm3HcUV3ykMeX-rmOWKawSJLKjzfFWM7gy93tFHbQ04Yxjn7zpkjNLEkgzbyrwTjb3u2BGwLrlphoJCEw9KN7AebKY8cHvItx15DMuMMEbp85vw1wJmo4twQUXkT-r6TQj2D8cb9I/s320/foto_mat_24649.JPG" width="320px" yda="true" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: right;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios.</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Ana Cristina Cesar </span></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"><br />
</span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Há 102 anos, em 1910, a socialista alemã Clara Zetkin propôs, na 2ª Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, na Dinamarca, a criação do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, em homenagem as mulheres que morreram na fábrica em 1857. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Toda vez que penso nesta história imagino aquelas mulheres felizes e ansiosas por terem conseguido uma reunião, seriam ouvidas.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Finalmente poderiam falar de suas dificuldades, das 16 horas diárias de trabalho, da equiparação salarial, pois só recebiam um terço da remuneração masculina, tratamento digno dentro do ambiente de trabalho e tantas outras simples e justas reivindicações. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Choro a dor do espanto, do desespero de se encontrarem trancadas e morrerem queimadas. Em quem pensavam aquelas mulheres? Provavelmente em seus homens, filhos, maridos, pais.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Sempre foi assim a luta feminina jamais derramou o sangue masculino em seus protestos pela busca da igualdade, do reconhecimento, do respeito, da valorização. Foi e é pacífica, sem armas, sem violência. No entanto quantas são as histórias de mulheres mortas, as tecelãs operárias de Nova York¹ as alunas de Engenharia vítimas da loucura de um aluno machista no recente ano de 1989, no Massacre de Montreal². E quantas são as vítimas anônimas, porque disseram não, porque quiseram trabalhar, estudar..., foram mortas por homens, pelos seus homens.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Nós, mulheres rasgamos sutiãs, realizamos passeatas, batemos panelas, às vezes pelos direitos dos maridos, em referência ao protesto das esposas de militares durante a greve da Polícia Militar do Tocantins em 2001.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">E o mais interessante é que a luta nunca foi para tomar o poder ou território masculino, ao contrário, pela igualdade em nossas diferenças, a valorização das características femininas. Por que tudo que é feminino é considerado pejorativo, insignificante, prejudicial? “mulher fala muito, é vaidosa, emocional”, quando que a capacidade aguçada de comunicação, o cuidado zeloso consigo mesmo e principalmente a capacidade de sentir deixaram de ser importantes para uma sociedade civilizada. Somos diferentes, que maravilha! Na natureza nenhuma folha é igual a outra e na diferença se faz o equilíbrio a completude.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">E todas as conquistas foram comemoradas sem o desdém arrogante da vitória pela vitória, e sim com a alegria amorosa de quem conseguiu um futuro melhor para todas e todos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">A luta se fará ainda por cem anos, pacífica pela fraternidade entre os gêneros e contra toda e quaisquer formas de discriminação e preconceito.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">Letícia Bordin</span></div><div style="text-align: right;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">março 2012</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"><br />
</span> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">¹No Dia 8 de março de 1857, operárias de uma fábrica de tecidos, situada na cidade norte americana de Nova Iorque, fizeram uma grande greve. Ocuparam a fábrica e começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho para dez horas (as fábricas exigiam 16 horas de trabalho diário), equiparação de salários com os homens (as mulheres chegavam a receber até um terço do salário de um homem, para executar o mesmo tipo de trabalho) e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. A manifestação foi reprimida com total violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">²Massacre de Montreal – A tragédia ocorreu na Escola Politécnica, em Monteral, no Canadá, há quase 20 anos, em 1989. Um rapaz de 25 anos invadiu a sala de aula e ordenou que os homens (aproximadamente 48) se retirassem da sala, permanecendo somente as mulheres. Gritando: “você são todas feministas!?”, ele começou a atirar enfurecidamente e assassinou 14 mulheres, à queima roupa. Em seguida, suicidou-se. O rapaz deixou uma carta na qual afirmava que havia feito aquilo porque não suportava a idéia de ver mulheres estudando engenharia, um curso tradicionalmente dirigido ao público masculino.</span> </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span>Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-64752055914880360312012-03-02T10:49:00.003-08:002012-03-02T11:05:53.268-08:00<div class="comment-content1" style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: #141414; background-image: initial; background-origin: initial; margin-left: 36pt; text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyhOxIOEZbayOrmnDhWx3NHEhClIkW6KDPalwWINV7M1BRxi3Sn65-9U-5JLwr4ADD7iPBLBY6mvIPDb3gnA0JYnVW_-oCK9hhnadqnpFTU3etaVdLLDBvdpevmUJlaXO3JhyphenhyphenOkULi6Uxs/s1600/bandeira_para.gif" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyhOxIOEZbayOrmnDhWx3NHEhClIkW6KDPalwWINV7M1BRxi3Sn65-9U-5JLwr4ADD7iPBLBY6mvIPDb3gnA0JYnVW_-oCK9hhnadqnpFTU3etaVdLLDBvdpevmUJlaXO3JhyphenhyphenOkULi6Uxs/s1600/bandeira_para.gif" /></a></div><span style="font-size: large;"><b style="font-family: inherit;"><span dtx-highlight-backgroundcolor="yellow" id="dtx-highlighting-item"><span style="color: red;">Lúcio</span><span style="color: red;"> </span></span><span dtx-highlight-backgroundcolor="yellow" style="color: red;">Flavio </span><span style="color: red;">Pinto</span><span dtx-highlight-backgroundcolor="magenta" id="dtx-highlighting-item" style="color: red;"> é </span><span dtx-highlight-backgroundcolor="cyan" id="dtx-highlighting-item" style="color: red;">um </span><span dtx-highlight-backgroundcolor="blue" id="dtx-highlighting-item" style="color: red;">perseguido </span><span dtx-highlight-backgroundcolor="lime" id="dtx-highlighting-item" style="color: red;">político </span><span style="color: red;">– pelos governos que se revezam no Pará e que não mudam a condição de entrega deliberada das riquezas do estado, submetidos e omissos aos modelos econômicos que foram se impondo;</span><span dtx-highlight-backgroundcolor="cyan" id="dtx-highlighting-item" style="color: red;"> um </span><span dtx-highlight-backgroundcolor="blue" id="dtx-highlighting-item" style="color: red;">perseguido </span><span dtx-highlight-backgroundcolor="lime" id="dtx-highlighting-item" style="color: red;">político </span><span style="color: red;">pelas classes dominantes, pelo poder judiciário, pelas elites que tudo tomam para si como forma de lucro, decorrente de golpe, fraude, trapaça. Esses que atuam na Amazônia e a empurram para a barbárie, o atraso, a degradação. E o jornalismo de</span><span dtx-highlight-backgroundcolor="lime" id="dtx-highlighting-item" style="color: red;"> Lúcio </span><span style="color: red;">Flávio Pinto</span><span dtx-highlight-backgroundcolor="magenta" id="dtx-highlighting-item" style="color: red;"> é </span><span style="color: red;">sua experimentação política, denota posição</span><span dtx-highlight-backgroundcolor="magenta" id="dtx-highlighting-item" style="color: red;"> é</span><span style="color: red;">tica, não se restringe apenas à função de informar, ainda que informe, mas se utilizando da informação para pensar as relações socias de poder, não apenas os temas (a violência, a ocupação, o desmando), mas os paradoxos, contradições, antíteses. Daí a palavra que prospera admiravelmente</span><span dtx-highlight-backgroundcolor="magenta" id="dtx-highlighting-item" style="color: red;"> é </span><span style="color: red;">a vida, suas formas de liberdade ativa.</span></b><span style="color: white; font-family: inherit;"> </span><strong style="font-family: inherit;"><o:p> </o:p></strong></span></div><div style="text-align: justify;"><strong><br />
</strong></div><div style="text-align: justify;"></div><h2 class="contentheading"><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: x-large;">''No Pará não apenas o grileiro consegue se apropriar das terras públicas, como ainda se precisa indenizá-lo quando se denuncia''. Entrevista especial com Lúcio Flávio Pinto </span></h2><h2 class="contentheading"><span style="color: red; font-family: inherit; font-size: x-large;"> </span></h2><div style="text-align: justify;"><b>Imagine a cena. Você é jornalista e decide usar seu trabalho para denunciar um empresário que se considerou dono de uma terra pertencente ao patrimônio público. O fato é comprovado judicialmente. No entanto, o empresário usa o<span dtx-highlight-backgroundcolor="cyan" id="dtx-highlighting-item"> pode</span>r financeiro para deixar claro que não gostou de uma expressão utilizada em sua denúncia. Você é processado por danos morais ao tentar esclarecer a opinião pública e defender o patrimônio nacional. E o pior: você é condenado pela justiça a indenizar o grileiro ofendido. Resumidamente, este é o <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506616-apos-denunciar-caso-de-grilagem-jornalista-e-condenado-a-pagar-indenizacao-por-danos-morais">caso real</a> do jornalista <a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/19708-e-preciso-mudar-radicalmente-o-metodo-de-decidir-e-colocar-em-pratica-projetos-hidreletricos-no-brasil-entrevista-especial-com-lucio-flavio-pinto-">Lúcio Flávio Pinto</a>, que concedeu a entrevista a seguir, por telefone, para a <span dtx-highlight-backgroundcolor="lime" id="dtx-highlighting-item">IHU </span><span dtx-highlight-backgroundcolor="yellow" id="dtx-highlighting-item">On-Line</span>, relatando detalhes do processo do qual é vítima.</b></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong>IHU On-Line – Pode explicar brevemente <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506616-apos-denunciar-caso-de-grilagem-jornalista-e-condenado-a-pagar-indenizacao-por-danos-morais">o caso da grilagem de terras e do processo</a> movido pela Construtora C.R. Almeida contra você?</strong><o:p></o:p></div><div style="text-align: justify;"><strong>Lúcio Flávio Pinto –</strong> Em 1995, <strong>Cecílio do Rego Almeida</strong> adquiriu o controle acionário de uma empresa de Altamira, chamada <strong>Incenxil.</strong> Com essa compra, vieram vários papéis, que eram registros e que estavam no cartório, embora não tivessem o título para que essas terras passassem do domínio do estado para o domínio particular. Com esse controle ele se considerou dono de uma área em que apenas uma das fazendas somaria quatro milhões e 700 mil hectares. Um ano depois, em 1996, o Instituto de Terras do Pará – Iiterpa entrou com uma ação de cancelamento e anulação desses registros, por serem fraudulentos. A ação foi recebida pelo então juiz de Altamira, onde hoje está sendo construída a hidrelétrica de <strong>Belo Monte,</strong> e a empresa recorreu para o Tribunal. O primeiro a dar uma sentença favorável foi o desembargador <strong>João Alberto Paiva</strong>, que restabeleceu a plenitude do registro que havia sido cancelado pelo juiz local da comarca. Em seguida, o estado também apelou, entrando com interdito proibitório para impedir que qualquer pessoa entrasse nessa vastidão, que caso se constituísse um estado, seria o vigésimo primeiro maior estado do Brasil. A desembargadora <strong>Maria do Céu Cabral Duarte</strong> concedeu o interdito proibitório antes mesmo de receber o pedido. Todas essas irregularidades eu fui denunciando, porque também sou muito amigo do que era então diretor do departamento jurídico do Iterpa. E nós preparamos, juntos, uma ação para cancelar esses registros. Cecílio ficou extremamente irritado com a minha participação e com os meus artigos. E entrou na comarca de São Paulo com uma ação de indenização por dano moral, porque se considerou ofendido pelo uso da expressão “pirata fundiário”. Essa ação foi deslocada de São Paulo para Belém, porque o local certo é Belém. Mas o juiz de São Paulo que recebeu também uma ação parecida contra um repórter da revista <strong>Veja</strong>, movida por um vereador de Altamira, não aceitou a ação. E não apenas inocentou os réus, como também os elogiou, dizendo que estavam defendendo o patrimônio público. Eu fui o único condenado, em 2006, por um juiz que não era o titular da vara onde estava o processo. Ele ocupou essa vara por apenas um dia e devolveu o processo quando a titular já havia retomado o controle da vara. Ele não podia mais decidir. E para que a sentença dele tivesse validade, assinou com data retroativa de quatro dias anteriores. Eu fui condenado a pagar oito mil reais de indenização, retroativas a 1999, quando saiu meu artigo no <strong>Jornal Pessoal</strong>, que é um quinzenário que mantenho aqui, que com os juros e correção monetária, daria hoje 20 mil reais. Eu recorri, mas o Tribunal negou vários recursos, inclusive quando o autor da ação (Cecílio do Rego Almeida) morreu, em maio de 2008. Foi mantida a sentença. Durante esse longo percurso de 11 anos, eu só perdi e várias arbitrariedades foram cometidas. Quando o processo finalmente subiu para Brasília, foi descoberto um erro formal, que fez com que o presidente do <strong>Superior Tribunal de Justiça </strong>não aceitasse o recurso. Nesse momento, achei que já era demais, porque desde 1992 venho sofrendo processos por pessoas que não tem a mínima preocupação em esclarecer o público, que não exercem o direito de resposta, e que encontraram no poder Judiciário um cúmplice, para me impedirem de continuar a exercer o jornalismo, o que eu faço há 46 anos.<o:p></o:p></div><div style="text-align: justify;">Então, era o limite. E <strong><a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506817-jornalistaperdenostjedesistederecurso">resolvi não recorrer dessa decisão</a></strong>. Abri uma <strong>subscrição pública</strong> para as pessoas que quisessem contribuir para indenizarmos o grileiro. Espero agora que o processo venha com a execução da sentença. E no dia em que for para pagar, vou comparecer e vou convidar todas as pessoas que participaram dessa subscrição para irmos fazer um ato simbólico no Tribunal, que é entregar o dinheiro e mostrar que no Pará não apenas o grileiro consegue se apropriar das terras públicas, como ainda se precisa indenizá-lo quando se denuncia.<br />
<br />
<strong>Quem denuncia é punido</strong><o:p></o:p></div><div style="text-align: justify;">A revolta foi ainda maior porque, em novembro do ano passado, a Justiça Federal de primeiro grau aceitou uma ação do Ministério Público Federal e mandou cancelar os registros do <strong>Cecílio do Rego Almeida,</strong> porque eram indevidos. Ou seja, reconheceu que realmente ele fez uma grilagem. Então, para a Justiça Federal trata-se de uma grilagem. Para a justiça de São Paulo, quem denunciou não apenas não deve ser processado, como deve ser elogiado, porque defendeu o patrimônio público da apropriação ilícita. E para o Tribunal de Justiça do Pará, que tem a jurisdição sobre o segundo maior estado da federação, quem denuncia é punido e as maiores arbitrariedades são cometidas, porque não apenas o tribunal favorece o grileiro, mas também quer se livrar de um crítico incômodo. Todos esses anos em que estou sendo processado na justiça, desde setembro de 1992, em 33 processos, tenho sido vítima de uma perseguição da justiça do Pará. Eu sou talvez o único jornal, embora pequenino, que mostra todos os erros do tribunal. E não é só contra mim que o tribunal faz isso. É que a justiça do Pará é muito ruim.<br />
<br />
<strong>IHU On-Line – O que lhe motivou a <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506817-jornalistaperdenostjedesistederecurso">desistir de recorrer</a> à justiça neste processo? Qual o significado político deste gesto?</strong><o:p></o:p></div><div style="text-align: justify;"><strong>Lúcio Flávio Pinto –</strong> É justamente mostrar que eu estou em um <strong>julgamento político</strong>. A lei foi deixada de lado, a verdade foi deixada de lado, meus argumentos não foram considerados, as provas dos autos foram ignoradas para me punir, para me calar, para me intimidar. Meu <strong>Jornal Pessoal</strong> tem 25 anos e ele é sempre crítico, nunca foi desmentido, porque sempre tive essa cautela de só escrever sobre aquilo que posso provar em qualquer estância, administrativa ou judicial. A maneira que eles encontraram foi criar um processo político, em que não interessa o que eu estou dizendo, mas que tenho que ser condenado. Já que eles agiram politicamente, eu resolvi reagir politicamente. Mostrar que eles querem que se pague para um grileiro que está se apropriando de uma área no Pará do tamanho da Bélgica, onde moram 10 milhões de pessoas. Então, vamos pagar. Agora, o culpado é o Tribunal de Justiça do Pará. Tem gente boa lá? Tem. Tem gente competente? Tem. Mas que não tem nenhum acesso ao poder, que não modificam as decisões. O Tribunal se transformou em um lugar onde os criminosos estão conseguindo ganhar. Ninguém provou que o que eu disse era mentira, mas eu sou condenado. Não me deixam o direito de provar. Então, eu quis fazer uma denúncia aproveitando uma arbitrariedade do Tribunal para que a opinião pública não só saiba, como também participe, porque quem doou dinheiro para pagar a indenização está aceitando pagar o sujeito que só não foi para a prisão porque completou 70 anos e a prescrição da pena que cabia a ele já estava prescrita pela idade dele. Se não fosse isso, ele teria uma ordem de prisão da justiça federal. E para a justiça do estado, ele tem razão. <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506576-jornalistaameacadosomostodoslucioflavio"><strong>As pessoas estão contribuindo</strong></a> e espero que logo adiante se alcance essa estimativa no valor da indenização. Nestes próximos dias estou lançando um livro contando todos os fatos e citando os nomes de todas as pessoas que participaram disso que eu chamo de um "gulag tropical".<br />
<br />
<strong>IHU On-Line – O que esse episódio evidencia sobre a situação da grilagem de terras no país? O que está em jogo nessa questão?</strong><o:p></o:p></div><div style="text-align: justify;"><strong>Lúcio Flávio Pinto – </strong>Em primeiro lugar, mostra que tem que se apoiar no <strong>CNJ</strong> para aumentar o controle externo do poder Judiciário, que é, dos três poderes constitucionais, o que está menos visível e o que está mais refratário ao controle da sociedade. Em segundo lugar, a grilagem se intensifica todas as vezes que há alguma incerteza econômica. Então, as pessoas que têm dinheiro procuram, comprando terras, criar uma reserva de valor contra as ameaças reais, possíveis ou imaginárias, da economia. As terras, pelo seu baixo valor e pelo conceito errado do uso dos recursos naturais da <strong>Amazônia</strong> (que torna a terra mais importante do que a floresta), se tornam uma reserva de valor certa para os especuladores. Por isso, <strong>em momentos de crise</strong>, a grilagem e o desmatamento crescem, porque a Amazônia é uma reserva do país, sobretudo dos grupos poderosos que têm dinheiro para investir e manter grandes áreas como instrumentos de especulação imobiliária e financeira. Então, o que precisa ser feito é moralizar o registro de terras que até hoje, apesar dos avanços tecnológicos, continua precário. Os cartórios, por exemplo, fazem o que querem.<br />
<b><br />
<strong>IHU On-Line – Se as terras em questão pertenciam ao patrimônio público, porque o dono da Construtora C.R. Almeida se disse ofendido por ser chamado de “pirata fundiário”? Ou seja, chamar grileiro de grileiro é crime? </strong></b><o:p></o:p></div><div style="text-align: justify;"><strong>Lúcio Flávio Pinto –</strong> Ele está na lógica dele. Ele quer um pretexto para me intimidar, para me calar, já que comprar, ele não podia. Então, ele inventou essa história. Não deu certo em São Paulo, mas deu certo em Belém. Então, ele tentou e se deu bem. As conexões mostram que foi uma conspiração real e que o objetivo dele era de que não interessasse o que eu estava dizendo, eu seria condenado. E para isso ele usou do seu poder. E não é só um poder que veio do fato de ele ter 1,90m de altura, ou por ele ser um sujeito agressivo, mas é o poder do dinheiro. A fortuna do grupo <strong>C.R. Almeida</strong> hoje está calculada em <strong>5 bilhões de dólares.</strong><br />
<br />
<strong>IHU On-Line – Como você se sente, pessoalmente, como cidadão e jornalista brasileiro, diante do episódio?</strong><o:p></o:p></div><div style="text-align: justify;"><strong>Lúcio Flávio Pinto –</strong> Quando eu vi a decisão do STJ, fiquei perplexo, desanimado, com vontade de ir embora do Brasil, porque mesmo em uma democracia houve o abuso do poder econômico. Mas depois decidi reagir e de uma forma que eles não esperavam, pois acharam que eu ia continuar preso ao processo. Resolvi ultrapassá-lo, sabendo dos riscos de perder a primariedade e de pagar a indenização. Então, estou perfeitamente consciente: vou pagar o preço por tentar mobilizar a sociedade, por tentar fazer com que ela perceba que não é um problema individual, mas um problema social grave o que eu estou enfrentando.<br />
<br />
<strong>IHU On-Line – Como está a situação atual de Belo Monte e do rio Xingu? Quais os desafios atuais a serem enfrentados na região diante da construção da hidrelétrica?</strong><o:p></o:p></div><div style="text-align: justify;"><strong>Lúcio Flávio Pinto –</strong> Eles estão fazendo a mesma coisa que foi feita em <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/505987-disputaentrejiraue-seguradoriraaobndes"><strong>Jirau</strong></a>, no <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506080-peixesdomadeiradesaparecemcomooscientistaspreviramdepoisvembelomont"><strong>rio Madeira</strong></a>: estão criando fatos consumados. Até a <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506699-ibamamultaconsorciodebelomonteporatrasonaimplantacaodeprojetosambientais"><strong>multa que o Ibama aplicou</strong></a> à <strong>Norte Energia</strong>, ao consórcio que está construído, nos faz pensar se é para valer ou se é como um “banho de piranha”, para desviar a atenção, porque a multa é excessiva, não se justifica ao delito que eles cometeram, que é simples. O governo está sendo rigoroso e o resultado concreto disso é que os fatos vão avançando. Hoje já é difícil colocar em questão se Belo Monte será construída ou não. Parece que agora vai mesmo ser construída. No entanto, o que se pode fazer para atenuar os problemas? Acho que essa é uma questão que ainda ninguém examinou com rigor, porque não se tem uma visão completa da situação. Talvez esta seja a linha de transmissão mais cara da história do Brasil. Vai representar uns 60% do custo da obra de geração. Então, o grande desafio para <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506607-filme-sobre-belo-monte-e-exibido-ao-publico-do-festival-de-cinema-de-berlim"><strong>Belo Monte</strong></a> não é construir, pois eles vão construir de qualquer maneira, mas é o dia seguinte. Quanto irá custar? Qual será o prejuízo? Qual será o subsídio? O governo do PT sempre foi contra a privatização, sempre acusou o PSDB de colocar o Estado a serviço dos interesses particulares. No entanto, a atual grande marca do governo do PT são as grandes obras, que continuaram desde o regime militar sem mudar nada, incluindo o dinheiro do <strong>BNDES</strong> e o tesouro nacional. As hidrelétricas anteriores não tinham esse esquema. Então, o caminho será o de questionar quem vai pagar essa conta e de quanto será, para atender ao desejo impulsivo e compulsivo de construir Belo Monte.<o:p></o:p></div>Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-42456019182274082352012-02-27T13:54:00.001-08:002012-02-27T13:58:43.914-08:00<b><span style="color: yellow; font-family: inherit; font-size: x-large;">Defensores da Amazônia encaram o exílio ou a morte</span></b><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><i><span lang="EN-US" style="font-family: Tahoma, sans-serif;"><b>por Tom Phillips, do The Guardian</b></span></i><span lang="EN-US" style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><i><span lang="EN-US" style="font-family: Tahoma, sans-serif;"><b><br />
</b></span></i></div><table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi10E1BxwmhImlzE6O4wWzy_b28sE-7sFe6WA9oilWIY8VVvfhi_Yt8OQBP8egLoj5dk85yOC9IJgPcO85Hb4Zd0_0j7T9EIJdO2_upUEFIRr644XdWI7dEbIvvxh_Rx5a_JGXA5WvqTIpV/s1600/patio_laminados_triunfo_5793_25482.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="204" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi10E1BxwmhImlzE6O4wWzy_b28sE-7sFe6WA9oilWIY8VVvfhi_Yt8OQBP8egLoj5dk85yOC9IJgPcO85Hb4Zd0_0j7T9EIJdO2_upUEFIRr644XdWI7dEbIvvxh_Rx5a_JGXA5WvqTIpV/s640/patio_laminados_triunfo_5793_25482.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i>Ativistas brasileiros que denunciavam madeireiros ilegais podem esperar visitas de pistoleiros.</i></td></tr>
</tbody></table><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><i><br />
</i></span></div><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">Um único tiro na têmpora foi a recompensa de João da Gaita por dar com a língua nos dentes. Seu amigo, Junior José Guerra, só teve um pouquinho mais de sorte.</span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">Qual foi o prêmio recebido por Guerra por denunciar os madeireiros ilegais que destroem a maior floresta tropical da Terra? Um lar quebrado, duas crianças petrificadas e o exílio incerto de uma vida que ele havia passado anos construindo na Amazônia brasileira.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">“Eu não posso voltar”, diz Guerra, um dos mais novos refugiados ambientais da Amazônia, três meses depois que o brutal assassinato de seu amigo forçou ele, sua mulher e seus dois filhos a se esconderem. “Me contaram que eles estão tentando descobrir onde estou. A situação é muito complicada.”<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">João da Gaita, 55 anos, e Guerra, 38, moravam ao lado da BR-163, estrada remota e traiçoeira, que corta o Estado do Pará de norte a sul. Eles eram migrantes do sul do Brasil, que haviam vindo em busca de uma vida melhor.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">Nenhum dos dois era ambientalista de carteirinha e ambos haviam supostamente se envolvido com crimes ambientais. Mesmo assim, eles optaram por cometer o que é considerado um pecado capital nesse rincão isolado do Brasil – eles denunciaram criminosos que estariam ganhando milhões com a ceifa ilegal de ipês das unidades de conservação num canto da Amazônia conhecido como Terra do Meio.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">Numa região frequentemente comparada ao Velho Oeste, trair os responsáveis pela pilhagem da floresta frequentemente leva ao caixão ou ao exílio. João da Gaita, músico amador e mecânico cujo nome era João Chupel Primo, encontrou seu destino primeiro.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">Em outubro passado, ele e Guerra entregaram às autoridades um dossiê que apontava as supostas atividades de madeireiros ilegais e grileiros da região. Em questão de dias, dois homens apareceram na oficina de Primo, na cidade de Itaiatuba, e o mataram a bala. Uma fotografia ensanguentada de seu cadáver, colocada na laje do agente funerário, foi publicada pelo tabloide local. “Há sinais de que isso foi execução”, disse ao jornal o chefe de polícia da cidade, José Dias.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">Guerra escapou da morte, mas também ele perdeu a vida. Avisado do assassinato de seu amigo, ele se trancou em casa, agarrado a uma espingarda para resistir aos pistoleiros. No dia seguinte, ele foi escoltado para fora da cidade pela Polícia Federal. Desde então, Guerra embarcou numa peregrinação solitária pelo Brasil, viajando milhares de quilômetros em busca de apoio e segurança. Ele se tornara o mais recente exilado amazônico – gente que é forçada a esconderijos autoimpostos ou proteção policial por causa de suas atitudes contra aqueles que destroem o meio ambiente.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">“Eles ordenam o assassinato de qualquer um que os denuncie” (às autoridades), disse Guerra esta semana por uma precária linha telefônica no seu mais recente esconderijo. “Nós pensávamos que (…), se denunciássemos os crimes, eles (o governo) fariam alguma coisa (…). Mas o resultado foi que João foi assassinado.”<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">Em junho, o Brasil hospedará a Conferência Rio +20 das Nações Unidas, sobre desenvolvimento sustentável. Líderes mundiais se reunirão no Rio para debater como conciliar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental e a inclusão social.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">O Brasil poderá alardear avanços na batalha contra o desmatamento – em dezembro, o governo disse que a destruição da Amazônia havia caído ao seu nível mais baixo em 23 anos. Mas as contínuas ameaças aos ativistas ambientais representam uma enorme mancha em suas credenciais em questões de meio ambiente.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">“O que está em jogo (…) é a capacidade do governo de proteger as florestas e seus povos”, diz Eliane Brum, jornalista brasileira vencedora de inúmeros prêmios por suas reportagens sobre a Amazônia. “Se nada for feito (…), o governo estará desmoralizado às vésperas da Rio+20.”<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">Guerra está longe de ter sido a primeira pessoa forçada ao exílio por se opor à destruição. De acordo com números do governo, 49 “defensores dos direitos humanos” estão atualmente sendo protegidas no Estado do Pará, enquanto outras 36 testemunhas também estão recebendo proteção.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">No ano passado, depois dos assassinatos de grande visibilidade dos ativistas amazônicos José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, duas famílias locais pegaram um avião rumo a um esconderijo e assumiram novas identidades num rincão distante do Brasil. Como Primo e Guerra, elas sabiam demais.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">No Estado vizinho do Amazonas, onde os ativistas dizem que quase 50 pessoas correm risco iminente de assassinato, a líder rural Nilcilene Miguel de Lima foi forçada a fugir de casa. “Os pistoleiros e os assassinos deveriam estar na prisão, mas sou eu que estou presa”, disse ela ao site <i>O Eco</i> depois que uma tentativa de assassinato a forçou ao exílio.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">José Batista Gonçalves Afonso, veterano advogado de direitos humanos da Amazônia, disse que já viu “incontáveis” famílias forçadas ao exílio pelo medo de serem assassinadas. Ele atribui a culpa da situação à “ineficiência do Estado para investigar ameaças e fornecer segurança”.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">Brum, que tornou públicas as provações de Guerra, disse que a situação dele reforça a ideia de que “não vale a pena denunciar o crime organizado, porque denunciar significa morrer”.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">“É possível que, depois do que aconteceu (…), outras pessoas terão a coragem de se rebelar e denunciar o crime organizado na Amazônia?”, ela pergunta.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">Ramais de Castro Silveira, o secretário executivo de Direitos Humanos do país, descreveu a situação de Guerra como “extremamente séria” e disse que suas preocupações eram “legítimas”. Mas Guerra não foi incluído num programa federal de proteção a defensores dos direitos humanos porque ele não se qualificava como ativista de direitos humanos, disse Silveira. Ele admitiu que não havia nenhuma proteção específica para ativistas ambientais, mas disse que Guerra tinha recusado lugar num esquema de proteção de testemunhas em outra parte do Brasil por causa de suas “restrições”.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">“É direito meu morar lá”, disse Guerra. “Eu arrisquei a minha vida para denunciar esses crimes, e agora eu tenho que ir embora?”<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">Silveira disse que os responsáveis pelo assassinato de Primo e o exílio de Guerra seriam capturados “no curto a médio prazos”. “Não acredito que o drama pelo qual eles passaram e estão passando tenha sido em vão”, disse ele.<o:p></o:p></span></b></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="color: white; font-family: inherit; font-size: large;">Por enquanto, a vida de fugitivo vai cobrando o seu preço de Guerra, sua mulher e seus filhos, que ele não conseguiu matricular na escola. “Temos que permanecer fortes e tentar lidar com isso”, ele disse. “É o único jeito”.</span></b><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: small;"><o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><b><span style="font-size: large;"><br />
</span></b></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: red; font-family: inherit;"><b><i><span style="font-size: 12pt;">* Tradução de Idelber Avelar.</span></i><span style="font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></b></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-size: 12pt;"><span style="color: red; font-family: inherit;"><b>** Publicado originalmente no site <a href="http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_noticia.php?codNoticia=9719/defensores-da-amazonia-encaram-o-exilio-ou-a-morte-" target="_blank">Revista Fórum</a>.</b></span></span></i></div>Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-36227587971881238962012-02-15T12:03:00.001-08:002012-02-15T12:05:08.783-08:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVBo897GxHACTUH-XkFPKn25LijXrMjdgKiyA-wKp_ZxZa8ylDMRDtyTvV1XD8REFY5k-iTVU1WITFVnAWKRQ8EoIuDFlTkZnUF5BscuTgs4nedHRs4IQf3Q01rrylob1f1Z3P6LSnxVCP/s1600/untitled.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVBo897GxHACTUH-XkFPKn25LijXrMjdgKiyA-wKp_ZxZa8ylDMRDtyTvV1XD8REFY5k-iTVU1WITFVnAWKRQ8EoIuDFlTkZnUF5BscuTgs4nedHRs4IQf3Q01rrylob1f1Z3P6LSnxVCP/s320/untitled.png" width="308" /></a></div><b style="color: yellow;"><span style="font-size: x-large;"><span style="font-family: inherit;"></span></span></b><br />
<b style="color: yellow;"><span style="font-size: x-large;"><span style="font-family: inherit;">A indignidade que estão fazendo contra o jornalista Lúcio Flávio Pinto </span></span></b><br />
<br />
<div style="color: white;"><span style="font-size: large;"><b>Raul Bastos:</b></span></div><div style="color: white;"><br />
</div><div style="color: white;"><span style="font-size: large;"><b>Peço que você não deixe de ler esta nota. É a história de uma injustiça. Uma indignidade. Lúcio Flavio Pinto é um jornalista de Belém do Pará que há quase vinte anos edita uma publicação chamada Jornal Pessoal. É um profissional excepcional e fonte obrigatória quando for ser escrita a verdadeira história da região dos anos 70 para cá. Trabalhou, entre outros lugares, na Realidade, no Correio da Manhã e, por longos anos, no O Estado de S.Paulo como principal repórter da região e coordenador geral da cobertura dos correspondentes da Amazônia. Nesse período teve vida acadêmica e deu cursos sobre a Amazônia em universidades dos Estados Unidos e da Europa. O Jornal Pessoal ele faz sozinho, da apuração à edição. Não tem publicidade. Evidentemente, o jornal luta para se manter. Mas esse é o menor problema da vida do Lúcio Flávio.</b></span></div><div style="color: white;"><span style="font-size: large;"><b>O grande problema é a pressão sistemática que ele sofre dos poderosos da região por publicar matérias que denunciam indignidades e incomodam justamente os poderosos da região. Tentam calá-lo de várias maneiras, da intimidação à agressão, e ele tem resistido bravamente.Tentam sufocá-lo e calá-lo com 33 processos. Um deles está para ser concluído e tudo indica que poderá ser desfavorável. Qual o "crime" do Lúcio Flávio Pinto?</b></span></div><div style="color: white;"><span style="font-size: large;"><b>O Lúcio publicou denúncias comprovadas de que estava ocorrendo uma enorme grilagem de terras na região. Com isso impediu que o empreiteiro CR Almeida fizesse na Amazônia a maior grilagem da história do Brasil. Em represália, foi processado por CR Almeida sob a alegação de ter sido chamado de pirata numa das matérias do Lúcio Flávio, o que julgou ofensivo. Foi indo, foi indo e, agora, anos depois e por incrível que pareça, o caso está terminando assim: Com o CR Almeida não aconteceu nada. Com o Lúcio, se avizinha uma condenação. Com essa condenação, a perda da primariedade, uma porta aberta para a intimidação absoluta. Os amigos do Lúcio Flávio,entre os quais com muito orgulho me incluo, decidiram que ele não pode e nem vai ficar sozinho. Vamos batalhar para tentar esgotar todas as possibilidades jurídicas do caso.</b></span></div><div style="color: white;"><span style="font-size: large;"><b>Vamos batalhar para que o caso ganhe espaço na imprensa e nas redes sociais. Vamos chamar a atenção da imprensa especializada e internacional para o caso. Vamos batalhar, se por acaso ocorrer o pior, para que ele tenha recursos para enfrentar a situação. O objetivo deste email é dar conhecimento do que está acontecendo e da nossa disposição de não deixar continuar acontecendo. O objetivo deste email é pedir a sua ajuda. Primeiro, divulgando o que está acontecendo no seu veículo de comunicação, na sua coluna, nos sites, redes sociais. Depois, nos ajudando nas ações nas áreas da comunicações e mobilização que tomaremos diante de cada circunstância. Para quem quiser mais informações do que aconteceu e do que está acontecendo ler o texto abaixo do próprio Lúcio.</b></span><br />
</div><div style="color: white;"><b> </b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz5ouBtPf-igVNVcRk4GYnGQ-z3JcOFRaD8cG5o8jSZGz38f6EmiLengmoP7-Nu3V0J_801Y9hugR67Rt1ldLGth8tm6c_Fveuf4lQgtDyQz47-csv6QOXWFLrcXxDvSZO5YOdDX5rpBuH/s1600/Grilagem+%282%29.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="236" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz5ouBtPf-igVNVcRk4GYnGQ-z3JcOFRaD8cG5o8jSZGz38f6EmiLengmoP7-Nu3V0J_801Y9hugR67Rt1ldLGth8tm6c_Fveuf4lQgtDyQz47-csv6QOXWFLrcXxDvSZO5YOdDX5rpBuH/s320/Grilagem+%282%29.jpg" width="320" /></a></div><div style="color: yellow; font-family: inherit;"></div><div style="color: yellow; font-family: inherit;"><br />
<span style="font-size: x-large;"><b>O Grileiro vencerá?</b></span></div><br />
<div style="color: white;"><span style="font-size: large;"><b>Em 1999 escrevi uma matéria no meu Jornal Pessoal denunciando a grilagem de terras praticada pelo empresário Cecílio do Rego Almeida, dono da Construtora C. R. Almeida, uma das maiores empreiteiras do país, com sede em Curitiba, no Paraná. Sem qualquer inibição, ele recorreu a vários ardis para se apropriar de quase cinco milhões de hectares de terras no rico vale do rio Xingu, no Pará, onde ainda subsiste a maior floresta nativa do Estado, na margem direita do rio Amazonas, além de minérios e outros recursos naturais. Onde também está sendo construída a hidrelétrica de Belo Monte, para ser a maior do país e a terceira do mundo. Os 5 milhões de hectares já constituem território bastante para abrigar um país, mas a ambição podia levar o empresário a se apossar de área ainda maior, de 7 milhões de hectares, o equivalente a 8% de todo o Pará, o segundo maior Estado da federação brasileira. Se fosse um Estado, a "Ceciliolândia" seria o 21º maior do Brasil.</b></span></div><div style="color: white;"><span style="font-size: large;"><b>Em 1996, na condição de cidadão, ajudei a preparar uma ação de anulação e cancelamento dos registros das terras usurpadas por C. R. Almeida, com a cumplicidade da titular do cartório de registro de imóveis de Altamira e a ajuda de advogados inescrupulosos. A ação foi recebida e todos advertidos de que aquelas terras não podiam ser comercializadas, por estarem sub-judice, passíveis de nulidade. Os herdeiros do grileiro podem continuar na posse e no usufruto da pilhagem, apesar dessa decisão, porque a grilagem recebeu decisão favorável de dois desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado. Deve-se salientar que essas foram as únicas decisões favoráveis ao grileiro. Com o acúmulo de informações sobre o estelionato fundiário, os órgãos públicos ligados à questão foram se manifestando e tomando iniciativas contra o golpe. O próprio poder judiciário estadual interveio no cartório de Altamira e demitiu todos os serventuários que ali trabalhavam, inclusive a escrivã titular, por justa causa. Todos os que o empresário processou na comarca de São Paulo foram absolvidos. O juiz observou que essas pessoas, ao invés de serem punidas, mereciam era homenagens por estarem defendendo o patrimônio público. A justiça de São Paulo foi muito mais atenta à defesa da verdade e da integridade de um bem público ameaçada por um autêntico "pirata fundiário", do que a justiça do Pará, com jurisdição sobre o território esbulhado. C. R. Almeida considerou ofensiva à sua dignidade moral a expressão, "pirata fundiário", e as duas instâncias da justiça paraense sacramentaram a sua vontade. Mesmo tendo provado tudo que afirmei fui condenado. A cabulosa sentença de 1º grau foi confirmada pelo tribunal, embora a ação tenha sido abandonada desde que Cecílio do Rego Almeida morreu, em 2008. Depois de enfrentar todas as dificuldades possíveis, meus recursos finalmente subiram a Brasília em dezembro do ano passado. O recurso especial seguiu para o presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Ari Pargendler, graças ao agravo de instrumento que impetrei (o Tribunal do Pará rejeitou o primeiro agravo; sobre o segundo já nada mais podia fazer). Mas o presidente do STJ, em despacho do último dia 7, negou seguimento ao recurso especial. Alegou erros formais na formação do agravo: "falta cópia do inteiro teor do acórdão recorrido, do inteiro teor do acórdão proferido nos embargos de declaração e do comprovante do pagamento das custas do recurso especial e do porte de retorno e remessa dos autos".</b></span></div><div style="color: white;"><span style="font-size: large;"><b>A falta de todos os documentos apontada pelo presidente do STJ me causou enorme surpresa. Vou tentar esclarecer a situação, sabendo das minhas limitações. Não tenho dinheiro para sustentar uma representação desse porte. Muito menos para arcar com a indenização. Desde 1992 já fui processado 33 vezes. Nenhum dos autores exerceu o legítimo direito de defesa. O Jornal Pessoal reproduz todas as cartas que recebe, mesmo as ofensivas, na íntegra. Todos foram diretamente à justiça, certos de contarem com a cumplicidade daquele tipo de toga que a valente ministra Eliana Calmon, Corregedora Nacional de Justiça, disse esconder bandidos, para me atar a essa rocha de suplícios, que, às vezes, me faz sentir no papel de um Prometeu amazônico. Apesar de todas essas ações e do martírio que elas criaram na minha vida nestes últimos 20 anos, mantenho meu compromisso com a verdade, com o interesse público e com uma melhor sorte para a Amazônia, onde nasci. Não gostaria que meus filhos e netos (e todos os filhos e netos do Brasil) se deparassem com espetáculos tão degradantes, como o que vi: milhares de toras de madeira de lei, incluindo o mogno, ameaçado de ser extinto nas florestas nativas amazônicas, nas quais era abundante, sendo arrastadas em jangadas pelos rios por piratas fundiários, como o extinto Cecílio do Rego Almeida. Depois de ter sofrido todo tipo de violência, inclusive a agressão física, sei o que me espera. Mas não desistirei de fazer aquilo que me compete: jornalismo. Algo que os poderes, sobretudo o judiciário do Pará, querem ver extinto, se não puder ser domesticado conforme os interesses dos donos da voz pública. Decidi escrever esta nota não para pressionar alguém. Não quero extrapolar dos meus direitos. Decisão judicial cumpre-se ou dela se recorre. Se tantos erros formais foram realmente cometidos no preparo do agravo, o que me surpreendeu e causou perplexidade, paciência: vou pagar por um erro que impedirá o julgador de apreciar todo meu extenso e profundo direito, demonstrado à exaustão nas centenas de páginas dos autos do processo. Terei que ir atrás da solidariedade dos meus leitores e dos que me apoiam para enfrentar mais um momento difícil na minha carreira de jornalista, com quase meio século de duração. Espero contar com a atenção das pessoas que ainda não desistiram de se empenhar por um país decente.</b></span></div><br />
<div style="color: yellow;"><span style="font-size: small;"><b>Belém (PA), 11 de fevereiro de 2012</b></span></div><div style="color: yellow;"><span style="font-size: small;"><b>LÚCIO FLÁVIO PINTO<br />
Editor do Jornal Pessoal</b></span></div>Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-765756876212737716.post-55115246984659203802012-02-06T12:34:00.000-08:002012-02-06T15:03:10.829-08:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxDTvyuNbf3Vx6BbgYieZKYthflHNS0pKsHqJ1P7rxSTVnRhMViZ-yHYaxDz0yU7BHwSVM6KKgJtcJLyNXlMOgHdiE4NYzfXRxh2PBxy8SOsGrI2MVMRcqbR4_KpdjkaKcU4xymVQObU1w/s1600/6a00d8341c7a9753ef014e898428ee970d-800wi.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxDTvyuNbf3Vx6BbgYieZKYthflHNS0pKsHqJ1P7rxSTVnRhMViZ-yHYaxDz0yU7BHwSVM6KKgJtcJLyNXlMOgHdiE4NYzfXRxh2PBxy8SOsGrI2MVMRcqbR4_KpdjkaKcU4xymVQObU1w/s320/6a00d8341c7a9753ef014e898428ee970d-800wi.jpg" width="320" /></a></div><div style="font-family: inherit; text-align: justify;"><br />
</div><div style="color: yellow; font-family: inherit; text-align: justify;"><span style="font-size: x-large;"><i><b>Belo Monte: “O capital fala alto, é o maior Deus do mundo”</b></i></span></div><div style="font-family: inherit; text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZf_1eHowTfpOC7Wktiz7x1pfaC4fFUWqufMSNARhotwGRiWKT27hpz86pjkrWNQ3PDAuEr5XnQ5Bn5TFuWDETK7Qn8Gnb8q9IcxM7Gd8_kCFQbT6d4HbkcoI8QN6cY504skS78M9XdHPj/s1600/ignez-dsc009641.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZf_1eHowTfpOC7Wktiz7x1pfaC4fFUWqufMSNARhotwGRiWKT27hpz86pjkrWNQ3PDAuEr5XnQ5Bn5TFuWDETK7Qn8Gnb8q9IcxM7Gd8_kCFQbT6d4HbkcoI8QN6cY504skS78M9XdHPj/s320/ignez-dsc009641.jpg" width="230" /></a></div><div style="font-family: inherit; text-align: justify;"><br />
</div><div style="color: yellow; font-family: inherit; text-align: justify;"><i><span style="font-size: large;"><b>“Todas as informações estão sendo dominadas por essa democracia ditatorial, que nunca pensei que pudesse existir. Ela é ainda pior que a militar, porque é enganosa, porque diz ser uma coisa e é outra”, afirma a religiosa.</b></span></i></div><div style="color: white;"><span style="font-family: inherit; font-size: large;"><b><br />
Há 35 anos, Irmã Ignez Wenzel deixou as atividades que desenvolvia no Colégio São João, em Porto Alegre, onde trabalhava junto aos Lassalistas, para abraçar a causa dos colonos que migraram para o Pará em função da construção da Rodovia Transamazônica (BR-230). Em Medicilândia (PA) e Altamira (PA), iniciou os trabalhos pastorais, visitando mais de 80 comunidades, onde pôde observar de perto o abandono do Estado e os problemas sociais que se arrastam há anos na região.<br />
Atualmente, ela vive em Altamira (PA), e está engajada com o Movimento Xingu Vivo para Sempre na luta contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Em visita ao Rio Grande do Sul, Irmã Ignez recebeu a IHU On-Line no Convento Monte Alverne, onde concedeu a entrevista a seguir. Por trás da voz tranquila, encontramos uma mulher incansável, que conhece as mazelas do interior paraense e está disposta a continuar lutando em defesa da vida, a exemplo de São Francisco de Assis. Depois de conviver mais de três décadas do outro lado do país, ela é enfática: “O que mais me indigna é a incompetência, a incapacidade do povo do Sul e do Centro de julgar a situação do povo do Norte”, referindo-se à intolerância e ao descaso do governo federal com as populações que dependem do Rio Xingu para sobreviver. Na entrevista a seguir, ela explica quais são as contradições da usina hidrelétrica de Belo Monte e critica o posicionamento de alguns cristãos, que não se manifestam em relação aos problemas sociais e ambientais da região. “A voz maior é a do bispo, Dom Erwin Kräutler, e muitos já se sentem contemplados com a fala dele. É uma lástima. Nem todas as religiosas estão engajadas com estas questões”, lamenta.<br />
Irmã Ignez também denuncia as artimanhas do governo e da Norte Energia, empresa responsável pela construção, operação e manutenção da hidrelétrica de Belo Monte, para cooptar indígenas e ribeirinhos que estavam engajados com as manifestações contra a hidrelétrica, e a postura da Advocacia Geral da União (AGU), que solicitou o afastamento do procurador da República Felício Pontes Jr. dos processos que envolvem a construção de usinas hidrelétricas. “Ele era nosso grande líder, estava ao nosso lado, era coerente, de pé no chão. O governo está nos tirando o último fio que nos esquentava na solidão, a nossa força legal, Felício Pontes”, afirma.<br />
Ignez Wenzel é graduada em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e em Teologia pela Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). É religiosa da Congregação das Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã.<br />
Confira a entrevista.</b></span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: large;"><b><br />
IHU On-Line – Desde quando a senhora vive em Altamira, no Pará? Pode nos contar um pouco da sua trajetória?<br />
Ignez Wenzel – Estou em Altamira há 35 anos. Fui morar no Pará porque Dom Eurico Kräutler, tio de Dom Erwin, veio a Porto Alegre pedir socorro para a Igreja da cidade. Ele queria que enviassem irmãs, irmãos e padres para Altamira porque, em função da construção da Rodovia Transamazônica, milhares de famílias de colonos migraram para a região e não havia padres que pudessem assistir essas pessoas e tampouco escolas para as crianças. Três congregações foram enviadas para lá: os Lassalistas, as Irmãs Escolares de Nossa Senhora, nós, Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã, e três padres diocesanos. As Irmãs Escolares de Nossa Senhora abriram escolas em Brasil Novo (PA), nós nos instalamos em Medicilândia (PA), os Lassalistas, em Uruará (PA), e os padres diocesanos atuaram nas três regiões, atendendo o povo e organizando as comunidades. O projeto de colonização visava a dividir os imigrantes de acordo com a sua origem, para que o povo brigasse entre si e não com o governo. A ideia era dividir para dominar. Então, a Igreja católica foi o centro das atenções no sentido de dar apoio a esse povo inseguro e abandonado, por meio das Comunidades Eclesiais de Base. Em 1987, surgiram os primeiros municípios na região e as comunidades passaram a ter autonomia e a se organizar como estrutura política e social de defesa da própria comunidade. Eu morei durante treze anos em Medicilândia, onde trabalhava diretamente com o povo e visitava cerca de 80 comunidades, onde formávamos lideranças. Quando mudei para Altamira, ajudei a articular os movimentos sociais com as pastorais.</b></span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: large;"><b><br />
<span style="color: yellow;">Luta</span></b></span><br />
<span style="font-family: inherit; font-size: large;"><b><br />
Hoje moro em Altamira, e participo da luta contra a construção de Belo Monte, um projeto que se estende desde a década de 1980. Em 1989, nós participamos de uma grande mobilização contra a construção da hidrelétrica: mais de 800 indígenas do Brasil e de outros países participaram. Na ocasião, o governo federal pleiteou um empréstimo no Banco Mundial para construir a hidrelétrica, mas os organismos sociais conseguiram barrar este empréstimo e a discussão acerca da construção da hidrelétrica ficou adormecida. Depois dos anos 2000, o debate reacendeu e começamos a discutir a questão novamente. Em 2007, realizamos um encontro com todos os caciques indígenas e foi nesta ocasião que adotamos o nome Xingu Vivo para Sempre, após um dos caciques gritar: “Nós queremos o Xingu vivo para sempre”. Percebemos aí uma filosofia de vida e desde então nos tornamos o Movimento Xingu Vivo para Sempre. Nesta ocasião, os indígenas pediram para organizarmos uma grande mobilização envolvendo a sociedade civil a fim de discutir as implicações da construção de Belo Monte. Reunimos cerca de cinco mil pessoas. Os indígenas coordenaram parte do evento onde todo mundo teve direito de fala, inclusive o governo e os representantes da Eletrobrás. Durante a explanação do representante da Eletrobrás, os indígenas começaram a dançar, demonstrando que não estavam satisfeitos com os argumentos dele. Ao manifestar que também não concordava com os indígenas, o representante da Eletrobrás caiu no meio deles e sofreu um pequeno corte no braço. Algumas pessoas ainda respondem processo com a alegação de terem armado os indígenas. Mas não foi isso que aconteceu. Essas pessoas apenas possibilitaram os ornamentos necessários para uma manifestação digna da cultura deles. Em função desse incidente, nós entramos em crise e acabamos cancelando uma passeata que ia ocorrer na cidade. Porém, não cancelamos o evento.</b></span><br />
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IHU On-Line – Como a população que reside em Altamira reage diante da construção de Belo Monte? Os moradores participam das manifestações e demonstram um posicionamento em relação ao projeto da hidrelétrica?<br />
Ignez Wenzel – O governo sempre consegue intimidar a população com ameaças. Muitas pessoas são contra a construção da hidrelétrica, mas dizem que não podem fazer nada em relação à decisão de construí-la. A maioria do povo é contra a barragem, mas não tem condições psicológicas de reagir. A Norte Energia e o governo têm estratégias: eles estudam as lideranças para depois cooptá-las. Agiram assim com os ribeirinhos e fizeram o mesmo com os indígenas. Recentemente, nós (civis, movimentos do Brasil inteiro e indígenas) estávamos acampados em cima de um canteiro de obras de Belo Monte, quando, de repente, as lideranças indígenas desapareceram e, ao voltarem, o cacique ordenou que recolhessem suas coisas e fossem embora. Ninguém entendeu esta atitude. Quando eles chegaram no município de Conceição do Araguaia (PA), o cacique fez várias compras. O que aconteceu? A Norte Energia os chamou, deu dinheiro e nos deixou com as “calças na mão”. Na semana passada, fizemos um protesto por causa do início das obras da hidrelétrica, barrando uma região do Xingu. Levamos duas faixas: uma de 40 e outra de 15 metros de comprimento, onde dizíamos que não queremos Belo Monte. Barramos por uma hora e não deixamos os caminhões passarem porque Belo Monte é contra a lei, contra a Constituição.</b></span><br />
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IHU On-Line – Como a senhora se sente quando vê os casos de cooptação dos indígenas e ribeirinhos que estavam engajados nesta luta?<br />
Ignez Wenzel – Eles serão prejudicados, ficarão sem as terras, sem a sua cultura, e serão os futuros “beirantes de estradas”. Sentimos uma indignação que quase não conseguimos expressar. Os ribeirinhos são ainda mais frágeis do que os indígenas, porque eles moram sozinhos e não têm um clã. Um ribeirinho ganhou R$ 900 mil pelo seu lote e arrastou mais 12 pessoas com ele. Eles vão viver em uma terra seca. O rio vai secar mais ou menos 140 quilômetros. Apesar de tudo isso, continuamos a nossa luta e temos vários centros de Xingu Vivo espalhados pelo Brasil, nas cidades de Belém, São Paulo, Santa Catarina, São Leopoldo. A índia Sheila Juruna e Antônia Melo já foram para os Estados Unidos e para a Europa, conseguimos entrar com uma ação na Corte Interamericana, mas o governo brasileiro disse que isso era uma banalidade e que nada do que estamos falando era verdade. Notamos que os governos Lula e Dilma têm a seguinte filosofia: “Acolham todo mundo, mas toquem para frente, não parem”. Pessoalmente, estou muito aflita porque o Xingu fica no meio da Amazônia, onde está prevista a construção de mais de 300 barragens até 2050. O que vai sobrar do ecossistema? Os colonos não podem derrubar uma árvore, e os envolvidos com Belo Monte desmataram uma área enorme. Essa madeira está parada e será utilizada para outros fins.</b></span><br />
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Dilemas sociais</b></span></div><span style="font-family: inherit; font-size: large;"><b><br />
O sistema econômico nos explora. Desde a construção da Rodovia Transamazônica, milhares de pessoas migraram para Altamira e a cidade continua com os mesmos hospitais, a mesma infraestrutura. As pessoas que trabalham em torno de Belo Monte sempre têm prioridade nos atendimentos hospitalares. A população já fez manifestos contra isto, mas nada acontece porque a prefeitura é dirigida pela Norte Energia. As escolas, as estradas e os postos de saúde prometidos ainda não foram construídos. O fedor das ruas continua o mesmo de 20 anos atrás. Em um determinado momento da construção de Belo Monte, Altamira vai receber 18 mil trabalhadores e em torno de cem mil habitantes. Hoje os universitários que chegam do interior dormem em cima de colchonetes, têm de procurar comida e geralmente não encontram nada para comprar. O preço dos aluguéis aumentou mais de 300%, enquanto que os chefes de Belo Monte moram em apartamentos que têm custo alto e são pagos pela Norte Energia.</b></span><br />
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IHU On-Line – A Igreja continua engajada na busca de solução para esses problemas, como estava há 35 anos? Como os membros da Igreja se posicionam diante de Belo Monte e desses dilemas sociais?<br />
Ignez Wenzel – Alguns estão atuando junto com o movimento Xingu Vivo para Sempre, mas dentro da Igreja também tem pessoas que sentem medo. A voz maior é a do bispo e muitos já se sentem contemplados com a fala dele. É uma lástima. Nem todos estão engajados com estas questões.</b></span><br />
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IHU On-Line – Dom Erwin está à frente como bispo, mas terá de deixar o cargo ao completar 75 anos. Quem poderá assumir o cargo dele? Como ficará a luta contra a construção da usina, considerando que ele é visto como referência hoje?<br />
Ignez Wenzel – Ainda não tivemos tempo de pensar na saída de Dom Erwin, mas talvez ele seja substituído por um bispo de fora. Devido às circunstâncias, certametamente haverá mudanças. A nossa prelazia começa no Mato Grosso e termina em Macapá, no Estado do Amapá, no outro lado do Rio Amazonas. É uma extensão muito grande e não há como atender a todos. Este ano, Dom Erwin completará 73 anos, e aos 75 tem de avisar ao Papa que está na hora de deixar o cargo, mas nem sempre o Papa atende logo. Portanto, poderá ficar mais alguns anos ou poderá sair em seguida. Mesmo deixando o cargo, não deixará de lutar; talvez disponha de mais tempo. De toda maneira, não deixará de ser uma liderança nossa. Liderança não se prende.</b></span><br />
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IHU On-Line – Ele continuará sendo influente nesta luta?<br />
Ignez Wenzel – Sim, porque será sempre o bispo do Xingu. Quando se aposentar, ele será “emérito”, e aí vão dizer que ele tem muito mérito. (Risos)</b></span><br />
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IHU On-Line – A senhora percebeu alguma mudança no debate sobre Belo Monte após a saída de Ana Júlia Carepa (PT) e a entrada de Simão Jatene (PSDB) no governo estadual?<br />
Ignez Wenzel – Não gosto do partido atual porque ele não tem uma postura solidária, mas, por outro lado, foi ele quem deu o grito de que o governo federal do PT desrespeita a lei do Estado.<br />
Em função do PT, o movimento Xingu Vivo para Sempre ficou dividido. Nós trabalhávamos dentro da Fundação Viver, Produzir, Preservar e fomos expulsos. Pedimos ajuda ao bispo, para termos um espaço para reunir as pessoas e não sermos manipulados. Dói muito ver que os mesmos companheiros e colegas que lutaram para conseguir melhorias sociais não estão mais do nosso lado. Em relação à Ana Júlia, posso dizer que não fez quase nada.</b></span><br />
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IHU On-Line – Como a mídia paraense atua em relação a Belo Monte?<br />
Ignez Wenzel – A mídia paraense aparece quando os veículos de outros estados pedem informação. A TV Cidade Livre, da Prelazia, tem um jornal diário de 30 minutos e é favorável à luta contra Belo Monte. Somente as rádios comunitárias divulgam informações, as demais estão fechadas para esta questão. Todas as informações estão sendo dominadas por essa democracia ditatorial, que nunca pensei que pudesse existir. Ela é ainda pior que a militar, porque é enganosa, porque diz ser uma coisa e é outra.</b></span><br />
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IHU On-Line – O que mais lhe causa indignação?<br />
Ignez Wenzel – O que mais me indigna é a incompetência, a incapacidade do povo do Sul e do Centro para julgar a situação do povo do Norte. A presidente Dilma declarou o seguinte, recentemente: “Nós vamos tirar esse povo que vive em palafita da miséria”. Há dois erros nessa afirmação: o povo não vive na miséria; vive na pobreza, pois eles estão cuidando da alimentação; e palafita é um tipo de construção necessária na Amazônia, onde, em determinados meses, as casas próximas ao rio ficam debaixo d’água caso não sejam construídas no alto. A fala dela demonstra a falta de compreensão do que é a Amazônia. O governo também não entende o que é a floresta e a biodiversidade. Há comentários de que o interesse do governo não é a construção da hidrelétrica e, sim, o minério que tem na região. No período de estiagem, provavelmente, a hidrelétrica não vai gerar energia. Para que gastar R$ 31 bilhões com uma coisa que não funciona? Quando a Irmã Dorothy esteve no Canadá, disse que em uma reunião foi dito que Belo Monte é necessário para viabilizar os trabalhos na mineração, ou seja, ao secar o rio, a água deixará de ser um incômodo.</b></span><br />
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IHU On-Line – Qual a situação das comunidades que vivem em Tucuruí? A vida delas mudou após a construção da hidrelétrica?<br />
Ignez Wenzel – A hidrelétrica de Tucuruí foi construída há 25 anos e os pobres vivem debaixo da linha de alta tensão, sem acesso à energia. Tucuruí é pobre, miserável. Muitos moradores foram expulsos de lá e mudaram para Altamira, de onde serão expulsos novamente. Em função de Belo Monte, Altamira vai enfrentar um problema gravíssimo de consumo de drogas e exploração sexual de meninas e adolescentes. Altamira não foi preparada para as transformações geradas pela Rodovia Transamazônica. Vi colonos passarem fome colhendo quinhentos sacos de arroz, porque não tinham como trazer o alimento para a cidade. O jeito de eles sobreviverem é encostar-se na cidade para, pelo menos, deixar os meninos estudarem e dar um jeito vendendo picolé, engraxando sapatos. A cidade inchou, já tem mais de cem mil pessoas, e apenas 6% das casas têm água encanada.</b></span><br />
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IHU On-Line – Além do medo de as pessoas manifestarem opinião, a que atribui o aumento desses problemas sociais e a falta de mobilização?<br />
Ignez Wenzel – Na época da ditadura, todo mundo calava com medo de ser preso. Os poucos que falaram foram mortos. De modo geral, a população não tem estudo. As nossas escolas são tão fracas, que passam todos os alunos para frente. Parece que o governo não quer povo culto; quer gente de cabresto. Por isso, nós fomos contra a divisão do Pará, pois caso o Estado fosse dividido, teríamos mais ladrões. Com essa discussão, poderíamos ter feito uma boa reflexão, mas nenhum partido político fez isso.</b></span><br />
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IHU On-Line – A Igreja estava dividida em relação à divisão do Pará?<br />
Ignez Wenzel – Nós não falamos muito sobre isso porque estamos mais preocupados com a situação do Xingu. De todo modo, éramos contra a divisão. Organizamos um debate e um seminário na universidade, mas poucas pessoas participaram. O povo não estava muito interessado.</b></span><br />
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IHU On-Line – Qual é o desafio dos movimentos sociais? Como interpreta o Fórum Social Mundial e o engajamento de alguns partidos nesse projeto?<br />
Ignez Wenzel – Os movimentos e os partidos fizeram uma associação, “contanto que a fatia maior seja para mim”, conforme dizem. Nós participamos do Fórum Social Mundial, realizado em Belém, levamos sete ônibus lotados, e na ocasião disseram que nunca um Fórum Social teve tantos pobres como aquele. Naquele tempo, nós tínhamos esperança, mas depois foram cortando todos os naipes.</b></span><br />
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IHU On-Line – Vocês estão preparando alguma atividade para lembrar a memória da Irmã Dorothy, sete anos depois do seu assassinato? Como está a questão dos conflitos na região?<br />
Ignez Wenzel – A região está pior do que antes, porque os fazendeiros voltaram e, como o prefeito de lá é do PT, ele é safado como os outros. Então, não se pode esperar nada. Dia 12 de fevereiro será realizado um grande encontro e uma celebração. À tarde irão até a sepultura dela, que fica no meio da mata, onde ela pediu para ser enterrada. Hoje, muitos militantes que participavam do movimento da Irmã Dorothy estão do outro lado. O capital fala alto, é o maior Deus do mundo.</b></span><br />
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IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?<br />
Ignez Wenzel – Eu quero dizer que ainda tem treze ações no Supremo Tribunal Federal, as quais devem ser julgadas, mas eles não têm coragem de julgá-las. Não sei como está a situação do procurador Felício Pontes, que foi impedido de desempenhar suas funções em defesa de populações atingidas por projetos hidrelétricos no Pará. Ele era nosso grande líder, estava ao nosso lado, era coerente, de pé no chão. O governo está nos tirando o último fio que nos esquentava na solidão, a nossa força legal, Felício Pontes. Mas nossa esperança de vida do Xingu vivo continua.</b></span></div><span style="font-family: inherit; font-size: large;"><b></b></span><br />
<span style="color: yellow;"><i><span style="font-family: inherit; font-size: small;"><b>Por Patricia Fachin, Thamiris Magalhães e Luana Nyland, do Adital</b></span><br />
</i><i><span style="font-family: inherit; font-size: small;"><b>Publicado originalmente no site IHU- Online e retirado do Adital e Revista Envolverde.</b></span></i></span>Juliete Oliveirahttp://www.blogger.com/profile/12514515408011631983noreply@blogger.com0