terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Once upon a time



Era uma vez um país do absurdo, onde era proibido ser bom, cultivar a beleza, a filosofia e tudo que ela produziu enquanto investigação do pensamento foi banido deste país, a palavra diversidade foi excluída dos dicionários, na escola os alunos passaram a vigiar os professores para que não incorressem no crime de usar a arte como ferramenta de ensino, os príncipes e princesas, mesmo os de mais tenra idade, podiam portar a sua arma contra os professores, que passaram a ser uma casta inferior, acuada, incapaz de se organizar, se movimentar e refém de pais e governantes arrogantes e incautos. 

Este país de recursos biológicos abundantes e com um passado de construção de meios legais para proteger o seu acervo, passou a disponibilizar as suas riquezas, comercializando-as por preços irrisórios e tornando a população cada vez mais sem recursos, a escola, motor da construção do pensamento passou a ser o principal alvo dos governantes, em todas as esferas, do vereador ao presidente da república todos estavam ressentidos com esta instituição. Mas não apenas com ela, sobretudo com aqueles que ousaram em tempos anteriores torná-la democrática, como alguns educadores, os quais — não se ousa pronunciar os nomes — tiveram a desfaçatez de achar que o conhecimento seria capaz de tornar as pessoas mais cuidadosas, críticas, que poderiam ter percepção para transformar a realidade. Este foram definitivamente banidos da história daquele povo.

O país despencou de uma categoria vantajosa, auferida a ele pelas suas condições econômicas resultado do que poderia oferecer ao mundo em matéria de recursos naturais e produção agropecuária, petrolífera, engenharia aeronáutica e tantas outras áreas da produção e do conhecimento. Nos dias que correm os outros países mudam de calçada para não caminharem lado a lado com ele, os bons, os belos, belas, boas, felizes, ou estão escondidos em pequenos contêineres blindados por uma aparência austera, amedrontados, temerosos pelas suas vidas, ou estão buscando meios de irem para outras paisagens, com outras estações, para que possam compor canções de exílio. Nesta nação agora só há espaço para formigas, as cigarras se foram, ou não cantam mais, buscaram disfarces, se transvestindo de outras coisas que não denunciem a sua personalidade desnecessária.

No país do rosa e do azul, não é seguro mais o arco-íris, o baile de são benedito, a produção sem veneno, o riso, a loucura terá que ser encarcerada novamente, posta em vigilância sem sublimação, o alienista está vigiando, aquele formado na escola do medo, na pedagogia do ódio, pedagogia da dependência, aquele cujo filho e filha estudam na escola da proibição, este doutor será a voz de ameaça para os que se ousarem loucos. Como tudo está velho, ultrapassado, o país e seu povo não serão mais considerados como algo relevantes, só o seu território é do interesse dos outros países, que deverão tomar posse do que há de revelante para o mercado e aos poucos torná-los meros manequins de um passado carnavalesco.  

Juliete Oliveira
Palmas-TO, 07 de de fevereiro de 2019
Imagem: Escola de Circo de Recife

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