E FEZ-SE A DIVERSIDADE
Nos
últimos tempos temos seguido tanto a palavra diversidade, nos
aplicando a percebê-la em todos os contextos e situações da vida
pública e privada, no entanto ao mencioná-la estamos quase sempre
mais voltados para uma expressão parodoxon
flacus.
Um
paradoxo da estupidez, pseudo-paradoxo ou paradoxo do mal:
contradição auto anulativa, pode se aplicar, por exemplo, a
afirmações que se contradizem ou conceitos contrários em anulação
mútua, não presentes na natureza, mas inerente ao homem.
Foi como um desses paradoxos que se anunciou que somente em 2133 as
mulheres receberão remuneração igual a dos homens. Este é um dado
lamentável que vem de Davos – encontro mundial para discutir as
principais economias globais e seus rumos. Levar-se-á ainda 118
anos, a contar da publicação no Global
Gender Report
2015, para que a mulher possa
obter
equivalência salarial, ainda que em muitos aspectos ela apresente
desempenho superior.
Em
que pese o número maior de mulheres nas universidades na maioria dos
países, nos 145 analisados pelo estudo; destes houve aumento
significativo de 22% da desigualdade, mesmo diante das conquistas
anteriores os avanços se mostraram tímidos, não se confirmaram ou
foram sordidamente obliterados. É o caso do Brasil, que caiu 14
posições no ranking, só em 2015. Esses dados, além de revelar um
preconceito criminoso, as mulheres sendo tratadas como cidadãs de
segunda classe, demonstra a inabilidade latente do mercado em lidar
com o desenvolvimento econômico como ferramenta para promover
riquezas e em consequência bem-estar entre os gêneros. Amartya Sen,
ao discutir “a relação entre rendas e realizações, entre
mercadorias e capacidades, entre nossa riqueza econômica e nossa
possibilidade de oportunidade de participação no comércio e na
produção”, defende que estas podem ajudar a gerar a abundância
individual, além de recursos públicos para os serviços sociais. E
mais importante: “Liberdades
de diferentes tipos podem fortalecer umas às outras”
(grifo nosso).
Este
é o ponto a que queríamos chegar: a perpetuação do afastamento da
mulher dos locais de geração e multiplicação de riquezas em uma
análise macroeconômica mesmo, que envolve mercado e mais valia como
aspectos que fazem a roda da economia girar. É no mínimo um
desperdício de conhecimento, energia, criatividade e inventividade
que retoma a tão propalada diversidade. E que delírios de grandeza
nos apartam dela? Um hemisfério direito, ou esquerdo? Cultura?
Educação? O que impede que sejamos apenas mulheres e homens
produzindo? Tomando decisões? Ou que tipo de pensamento envolve o
cenário da tomada de decisões, que define vidas, possibilidade,
quanta liberdade individual há na tomada de decisão? Falta a
semântica da diversidade. Que ela fosse, talvez menos branca, menos
heterossexual, masculina, europeia, não viveríamos, quem sabe,
tempos incertos, com relação à diplomacia entre nações; não
viveríamos inúmeras diásporas, genocídios por meio da fome, por
doenças do atraso a que são submetidas populações inteiras que
não têm acesso a bens essenciais à vida, como é o caso dos
recursos naturais.
Fosse
a tomada de decisões mais diversa e revezada, inclusive em seus
aspectos mais elementares e básicos, a exemplo das câmaras de
vereadores – em Palmas, cidade onde moro, não se esboça nem mesmo
a silhueta de uma vereadora entre integrantes da casa, onde, em pleno
cerrado, a língua oficial e as leis soam como em latim –, nas
secretarias estaduais, nas presidências de sindicatos, entre os
grandes executivos de transnacionais, estas, inclusive, que ditam
políticas e modos de vida mundo afora, sem nunca considerar a vida
que levamos. Como seríamos sem o seu duvidoso apreço oficial?
Justos e alegres pelo mundo, tendo, de fato, como riqueza, a
qualidade de vida, o bem-estar social, o desenvolvimento humano. Um
mundo onde as
liberdades de diferentes tipos fortaleçam umas às outras.
Juliete
Oliveira
Palmas-TO,
03
de março de 2016
Imagem: http://memorias-de-taxistas.blogspot.com.br/p/a-mulher-e-o.html