terça-feira, 2 de março de 2010



Quando achamos necessário, não temos o direito de não sermos nós a fazê-lo: delegá-lo a outros seria imoral. (Bertolt Brecht)
O sentimento de dever moveu e move certos indivíduos ao longo da história, e, é dele que me sirvo para construir o que me cabe até o momento. O Rubens Alves defende que o educador é aquele que aprende, devo concordar com ele, pois tomados por essa compreensão aprendemos inclusive a aprender com a censura. Não a censura pesquisada da história recente, mas uma muito mais perniciosa e atroz, aquela que busca riscar dos dicionários qualquer termo, expressão, vernáculo, vocábulo, que não lhe seja familiar, ou ainda, que não faça parte do seu minúsculo vocabulário cotidiano.  

Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo! (Wittingesntein)
Para atender aos censores de plantão que medem o mundo a partir do próprio quintal, deveria inclusive ser feita uma reforma vernacular, em que por economia fonética os dicionários deveriam ser resumidos; deles deveriam ser retiradas todas as palavras que não fossem usuais, tomando como parâmetro, claro, um mundo distante dos livros e da leitura, tendo como referência a linguagem oral de certos indivíduos.

Grande parte da cultura ocidental tem como fonte a cultura Grega, berço da inteligência e da técnica; usada desde sempre como o limiar do pensamento, mas toda a atemporalidade encontrada nos modelos instalados, sobretudo pelo povo grego, só alcançou as gerações subseqüentes graças à língua; agora nos perguntamos o óbvio: a língua falada? Ou a língua escrita?

Esse questionamento responderemos com um verso da grande e nada econômica, muito menos censora, Adélia Prado: não quero nem faca nem queijo; quero é fome. 

Pois é, foi essa mesma fome que moveu a sociedade através dos tempos, para que de uso da escrita recriasse, reinventasse e reinstalasse o que começaram os gregos. Toda uma gama de terminologias e termos do universo da física, passados de geração a geração num exercício de ensino/aprendizagem; e a biologia e a taxonomia, ou ainda a classificação dos animais. Devemos agora evitar os termos nada usuais da classificação das plantas, porque as pessoas não vão entender? Seria por isso que muitos biólogos não as reconhecem na natureza? 

O que está em questão, a pretexto de simplificar e faciliar, é o controle de informação. Difundi-la sempre como a cópia progressiva das mesmas formas, códigos e modelos - até que os tolos e incautos ruminem e entendam. Num ambiente assim, escrever, pensar, exercer conhecimento será sempre considerado uma condura inadimissível, ainda que todos saibam que o mercado exige um marketing cada vez mais aberto e ousado a fim de consolidar seus lucros.

Posturas assim talvez expliquem uma pequena parte das nossas misérias nacionais. O emburrecimento e o regurgitar da mediocridade.

juliete oliveira

Um comentário:

  1. Há tempos convivemos com a mediocridade...
    e eles não dão asas as cobras, pois nós, as cobras da mediocridade, representamos um mundo diferente daqueles que eles tem sob domínio!

    Beijos e muita saudade de você minha amiga
    poucas pessoas interagem com tanta sintonia!

    continue gritando por nós!

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